“Estamos nos tornando mais burros, e a culpa é da internet”. Essa é a constatação a que chega o jornalista Nicholas Carr, finalista do prêmio Pulitzer de 2011, em seu livro The shallows: what the internet is doing to our brains (O superficial: o que a internet está fazendo com nossos cérebros, publicado em 2010).

Diz um brocardo popular: o especialista sabe tudo sobre nada, o generalista sabe nada sobre tudo. Exageros à parte, em geral, um especialista sabe muito sobre sua especialidade. Mas a tecnologia nos transforma. Somos todos generalistas!

Eu me lembro que, quando jovem, adquiri a Enciclopédia Mirador Internacional, que carecia de fascículos periódicos para atualização, mas era bem mais barata que sua concorrente, a Enciclopédia Barsa. Esta era a preferida porque era mais completa, em tese — porque ninguém jamais conseguiu ler todo o seu conteúdo. Entretanto, como aquela, precisava de atualização anual. Para os advogados, havia também várias versões da Revista dos Tribunais, geralmente em edições mensais.

Assim era a vida antes da internet. As consultas eram essencialmente laborais.

Nas escolas, as pesquisas consumiam horas infindas de estudo silencioso nas salas de leitura. As bibliotecas públicas cadastravam seus usuários e ofereciam uma credencial (carteira) para retirada temporária de livros, sob responsabilidade, é claro. Eu, orgulhosamente, ostentava uma delas. Mas os tempos mudaram! A internet chegou ao Brasil em 1988, embora já existisse nos EUA desde 1969.

Em 14 de dezembro de 1996, Gilberto Gil ajudou a popularizá-la. Usando-a como mídia, lançou, ao vivo, a música denominada “Pela Internet”. Um grande sucesso!

A rede cresceu e evoluiu muito, disseminando informações e conhecimento. Porém, para Nicolas Carr, ela atrofia a mente, destruindo as conexões e circuitos cerebrais responsáveis pela capacidade de analisar e processar informações, entre outros. A tendência é que a criatividade seja afetada, com péssimos resultados para a memória de longo prazo e para a inteligência. Apesar do volume de informações que a internet proporciona o pensamento de quem a frequenta mostra-se cada vez mais raso, simplório, em clara mudança da estrutura cerebral.

O problema é que a tendência humana é sua acomodação em face das circunstâncias. Nossa natureza adaptativa faz com que, cada dia mais, nos acostumemos a essa realidade e deixemos de considerá-la prejudicial. Os nascidos na década de 90 – chegada da internet - ainda se recordam de que as coisas eram diferentes. Os mais jovens, no entanto, consideram as novidades tecnológicas como naturais. Nem se dão conta das maravilhas por elas proporcionadas e, muito menos, do perigo que representam para a mente e para a composição cerebral.

Eu mesmo já não sei de cor o telefone fixo de minha casa; dos amigos, dos parentes, nem pensar! Por que os tenho de saber? Tudo está na memória do meu celular! Por que memorizar caminhos complicados, se o Waze nos leva sem pensar? Por que aprender a dividir ou calcular a raiz quadrada, se os apps resolvem de imediato? Sem perceber, estamos transformando-nos em cyborgs virtuais (parte orgânica e parte cibernética), com a mente atrofiada.

*Conteúdo enviado pela Assessoria de Imprensa