Os Data Centers atuais precisam superar uma série de obstáculos, que vão desde a gestão do consumo de energia e a eficiência operacional até a garantia da segurança de dados sensíveis. Cada detalhe, desde a seleção criteriosa do local até a disposição estratégica dos racks e a implementação de sistemas de refrigeração, tem um papel fundamental no desempenho, confiabilidade e sustentabilidade desses centros de processamento de informações.
Para Victor Arnaud, Managing Director da Equinix no Brasil, o design de Data Centers tem evoluído significativamente com a adoção de novas tecnologias e abordagens para lidar com as crescentes necessidades de armazenamento e processamento de dados. Dentro das principais tendências de design, segundo ele, estão a eficiência energética, o liquid cooling, o immersion cooling, a computação em nuvem, as redes em malhas e uma maior segurança eletrônica.
“O Brasil, por ser um país continental, com muita diversidade climática e de infraestrutura, exige dos designers uma atenção muito grande na hora de propor soluções. O ar-condicionado talvez seja o melhor exemplo neste caso, pois existem regiões que podem tirar muita vantagem de tecnologias como sistemas evaporativos ou adiabáticos (isolados de qualquer transferência de calor). Em São Paulo, no IBX SP2, adotamos o free cooling indireto, uma solução impraticável no Rio de Janeiro em razão das altas temperaturas”, explica Arnaud.
Ele destaca que com o crescente aumento da densidade dos racks, não somente há o desafio de projetar um sistema de ar-condicionado compatível, mas também, devido ao reflexo na demanda de energia, desenvolver uma melhora da matriz energética do país como um todo. “Por esta razão, a Equinix investe em pesquisa e inovação para desenvolver soluções mais eficientes e sustentáveis de resfriamento dos servidores, como o liquid cooling. Temos um espaço criado especialmente para isso, a Co-Innovation Facility de Ashburn, Virginia. O modelo bifásico inovador que desenvolvemos em parceria com a ZutaCore retira o ar como meio de resfriamento do circuito, removendo o calor diretamente na fonte – geralmente o processador – em vez de primeiro mover o ar quente para uma unidade de resfriamento centralizada”.
Arnaud explica que o design pode variar dependendo do tipo de Data Center. “Cada um pode ter requisitos específicos de desenho, segurança, eficiência energética e escalabilidade. Por exemplo, um hyperscale pode exigir uma infraestrutura de rede, elétrica e de refrigeração mais robusta e escalável do que um Data Center de retail. Em geral, é importante que o design seja personalizado para atender às necessidades específicas de cada projeto e perfil de cliente”, afirma.
Como o design mudou nos últimos anos?
Para Philippe Vivia, Diretor de Construção da Elea Digital, existem várias tendências e inovações no desenho de Data Centers. São elas: “O abandono progressivo de design específico do tipo 2N (perfeito sistema de redundância, mas com um investimento alto). Sem possibilidades de ampliação futura sem trocar a maioria dos equipamentos, o bloco redundante ou N+1 se espalhou na maioria dos grandes DCs, pois é completamente escalável e muito mais barato que um design 2N”.
Além disso - acrescenta Vivia - “hoje as inovações são mais focadas em eficiência energética, monitoramento e telemetria. Reduzir o CAPEX e o OPEX é um caminho obrigatório para todos os fornecedores de colocation porque o mercado é muito concorrido, além das normas de qualidade internacional terem induzido essa noção de melhoria contínua”.
De acordo com Vivia, em paralelo às inovações de infraestrutura crítica, a urbanização das salas informáticas e os racks dos clientes também passaram por várias evoluções. “Podemos citar o confinamento dos corredores frios ou quentes (que melhoram a eficiência da refrigeração e reduzem o consumo dos equipamentos de processamento) e a tela de monitoramento das condições ambientais das salas informáticas, que estão interconectadas com os equipamentos de refrigeração”.
O design de Data Centers também foi impactado pela crise na cadeia de suprimentos. “A falta generalizada de cobre e de chip no mercado mundial impacta todos os equipamentos necessários para concluir os nossos projetos e cumprir os prazos de entrega dos clientes finais. Hoje, a diretoria de Design e construção não pode mais trabalhar sozinha. Trata-se de um trabalho conjunto entre a diretoria de suprimentos e a diretoria de design e construção para definir os projetos executivos. É um trabalho colossal em termos de tomada de decisão. O que vamos escolher? Novas tecnologias, cujo prazo e custo são economicamente inviáveis, ou o uso de tecnologias mais antigas, mais baratas e disponíveis no mercado?”, explica.
Vivia ressalta que isso tudo depende de outro fator que é a definição do cliente final. “O cliente Retail não influencia na concepção do Data Center e no seu modo de operação e de manutenção, mas o cliente Wholesale pode apresentar requisitos mínimos ou pode apresentar um design inteiro com requisitos obrigatórios. Então além da parceria entre os departamentos de construção e de suprimento, o cliente terá que participar e avaliar toda a concepção bem como a operação, o monitoramento, a segurança e a manutenção do centro de dados”.
O que pode ser melhorado no design de Data Centers brasileiros?
Para Philippe Vivia, em cada país existem eixos de melhora na hora de desenhar Data Centers. “Na França e na Europa, as questões legais de construção e das operações são pesadas e demoradas, mas as etapas de construções e de manutenção são mais ágeis devido à proximidade com as fábricas de equipamentos, porém isso está mudando com a relocalização dos fornecedores para países como a Índia e a China”.
Vivia acrescenta: “No Canadá, um país novo, com poucos Data Centers de colocation, toda a parte pós-venda é complicada e tudo depende de um planejamento vindo dos Estados Unidos. Em cada país existem eixos de melhoria. Hoje o Brasil tem muito mais Data Centers que o Canadá e alguns países europeus. No Brasil ainda faltam fábricas e serviços de pós-venda e assistência técnica dos nossos maiores construtores de equipamento e eu não sei responder o porquê desta posição do país na estratégia dos construtores”.
Fabrício Costa, diretor técnico da Zeittec, também destacou o que pode ser melhorado no design de Data Centers no Brasil. “É uma questão muito complexa, mas acho que o Brasil hoje depende basicamente de produtos importados. Dependemos de nobreaks e ar condicionados principalmente. Não temos um parque fabril que consiga atender a essa demanda. Consequentemente, temos custos mais elevados e um prazo de importação de entrega do Data Center muito grande”.
Além disso, - acrescenta Fabrício - “o custo de energia elétrica no Brasil não é barato, mas, em contrapartida, o mercado ainda não está dando tanta importância para as questões de eficiência energética. E com mercado, faço referência ao segmento público. Não que ele não se importe com a conta de energia, mas porque quando eles têm uma verba alocada, deve construir aquele data center, e fazer um dimensionamento de que 60kW é suficiente, por exemplo, mas não é, o que acaba mexendo bastante na eficiência energética”.
Outro ponto, segundo Fabrício, é a questão tributária. “Não temos incentivos para a construção de Data Centers, o que é algo muito delicado e triste ao mesmo tempo. O Data Center é a fábrica do futuro. Com raras exceções, temos algumas prefeituras e estados dando incentivos, mas não existe um programa federal para a construção de Data Centers. Isso é importante para ter um maior volume de projetos e uma excelência maior”.
O que considerar na hora de planejar um centro de dados?
Fabrício Costa, diretor técnico da Zeittec, afirma que já não vemos muitos Data Centers crescerem em tamanho físico, mas em potência elétrica. “Na hora de planejar um centro de dados, não há uma receita de bolo, mas podemos resumir. É preciso analisar qual é a importância do Data Center para aquela corporação. Qual é o nível de redundância que esse Data Center deve ter? Será que uma certificação faz sentido para esse cliente? Outra questão importante é a análise de risco. Onde estou construindo esse Data Center? O edifício é próprio? Vai haver controle de acesso? O que para nós e os projetistas é um grande desafio é sempre pensar nessa possibilidade de crescimento do centro de dados”.
Ele acrescenta: “É difícil prever o que está por vir. Eu diria que não estamos vendo muitos data centers crescerem em tamanho físico, mas sim em potência elétrica. Então há que levar em consideração sempre que você está construindo um Data Center que seja a prova do futuro. Mas sinceramente é muito difícil prever o que vai acontecer no futuro. Algumas questões-chave que devemos ter é qual é a finalidade desse data center, entender os riscos e o crescimento”.
Quanto às tendências, Fabrício Costa destaca que a Zeittec trabalha mais focado no segmento público, que ainda é um pouco mais conservador, principalmente por questões relacionadas às legislações. “Esse segmento demora um pouco mais para se movimentar, mas ainda assim, observando o histórico de alguns anos, vemos que os Data Centers no segmento público estão “enxugando” no sentido de tamanho físico. Antes falávamos de um Data Center de 12, 15 ou 18 racks. Era um padrão. Hoje estamos falando de Data Centers menores, em função de toda a questão de hiperconvergência, da própria utilização dos equipamentos, da virtualização. Então começamos a falar de Data Centers menores, com 6 ou 8 racks. Com 10 racks já é considerado um Data Center de médio porte”.
Em contrapartida, - Fabrício explica - “observamos que a densidade de carga por rack tem aumentado. Dez anos atrás quando você falava de 10 Kw por rack, alguns clientes achavam que não precisavam de tudo isso. Hoje já falamos de 5, 7 e 10 kW. Ou seja, já é uma realidade muito grande dentro do nosso cenário. Vemos estruturas enxugando no tamanho físico, mas crescendo na questão de densidade e potência de kW por rack. Essa é uma tendência muito forte”.
Outro elemento importante que o segmento público começou a valorizar, segundo ele, é a aquisição de divisórias modulares, corta-fogo. “As salas seguras que chamamos, com certificação 10636, estão cada vez mais em alta no segmento. Isso ocorre porque o cliente não tem condições de ter um espaço físico próprio para um Data Center. Ele tem que fazer uma adaptação dentro do prédio e escolher o ambiente, lidando com vários riscos. Para mitigar esses riscos - desde um alagamento a um incêndio - a tendência é a utilização das divisórias modulares, em especial aqui no Brasil as divisórias corta-fogo 10636. No quesito de questões técnicas, confinamento, corredor quente/frio não há grandes mudanças, pelo menos no nosso segmento”.
Modularidade é tendência
Francisco Degelo, Gerente de Desenvolvimento de Negócios de Data Center da Vertiv LATAM, também concorda que algumas das principais tendências no design de Data Centers incluem a utilização de fontes de energia renovável, o uso de sistemas de refrigeração e resfriamento mais eficientes e sustentáveis, e a adoção de designs modulares para aumentar a escalabilidade e flexibilidade dos Data Centers.
“Além disso, a crescente preocupação com a segurança física e cibernética tem levado a um foco maior em medidas de segurança e redundância, bem como na incorporação de recursos de inteligência artificial e aprendizado de máquina para monitorar e proteger os Data Centers contra ameaças”, explica Degelo.
Segundo ele, existem algumas oportunidades de melhoria no Brasil em relação ao projeto de Data Centers. “Uma delas é a eficiência energética. Muitos Data Centers brasileiros ainda não estão otimizados para a eficiência energética, o que pode resultar em desperdício de energia e custos mais elevados de operação. Outro ponto é a confiabilidade. O fornecimento de energia elétrica no Brasil ainda não é totalmente confiável, o que pode levar a interrupções no fornecimento de energia e afetar a operação dos Data Centers. Além disso, o clima quente e úmido em algumas partes do país pode afetar a vida útil dos equipamentos”.
De acordo com Degelo, a localização do Data Center e a infraestrutura de conectividade também são outros fatores importantes a serem considerados. “Muitas empresas brasileiras optam por construir os seus Data Centers em grandes centros urbanos, o que pode resultar em custos mais elevados de energia e espaço limitado para expansão. Quanto à infraestrutura de conectividade, embora o Brasil tenha uma infraestrutura em constante expansão, ainda existem áreas com limitações de conexão de alta qualidade. Isso pode afetar a capacidade do Data Center de se conectar com outras redes e afetar a sua eficiência operacional”, conclui.