As discussões sobre o maternar vêm ganhando força e gerando interesse do mundo corporativo, especialmente em ambientes predominantemente masculinos, como é o caso do setor de tecnologia. Como a maternidade se encaixa em um segmento que não está habituado às demandas reprodutivas e que está sob forte necessidade de produzir e inovar o tempo inteiro?

Iniciei minha trajetória em empresas de telecomunicações no final da década de 1980. Poucos anos depois, me tornei mãe; não havia a possibilidade de tirar a licença maternidade, então voltei ao trabalho duas semanas e meia após dar à luz.

Há 30 anos, mulheres raramente estavam em cargos executivos, muito menos na área de tecnologia, conciliando carreira e filhos. Posso dizer com orgulho e, ao mesmo tempo, com indignação, que era uma das poucas que ocupavam esse espaço.

No entanto, a volta ao trabalho me fez perceber que não há como terceirizar a maternidade. Mesmo com a cabeça focada no trabalho, as demandas de criar um filho — e a vontade de acompanhar de perto o crescimento da sua prole — são fortes e constantes.

Desempenhando um cargo de gerência comercial, precisei realizar muitas viagens a diferentes países. Ao passo que elas enriqueceram abundantemente a minha carreira e as minhas experiências, acabei ficando distante do desenvolvimento do meu filho. Perco a conta de quantas vezes precisei remediar situações na minha casa no Brasil, estando a muitos quilômetros de distância, em uma época em que telefone e celular não faziam parte da nossa realidade.

Só quem vive a maternidade conhece o sentimento de culpa por não poder estar presente com mais frequência. Ao fim do dia, nada supre essa falta. Sei que não fui a primeira mulher a vivenciar esse desafio e, apesar das recentes mudanças significativas nos ambientes corporativos, sei que não serei a última. Muitas mães ainda vivenciam a sobrecarga e a desigualdade.

É uma batalha coletiva, claro. É preciso uma aldeia para criar uma criança, e as empresas podem contribuir significativamente para a promoção da equidade de gênero e a valorização das mães no mercado de trabalho. Enxergá-las, antes de tudo, e adotar medidas inclusivas, como a implementação de berçários, flexibilidade de horários e licença maternidade, pode tornar as vivências mais leves.

Essas mudanças começam, principalmente, na inclusão de profissionais femininas. Sobretudo quando falamos das empresas de tecnologia, um dos setores mais promissores, mas no qual apenas 20% dos profissionais são mulheres, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A tecnologia é um universo rico e transformador, essencial para o dia a dia deste século, não à toa estou nessa área há mais de 30 anos. Seu potencial de alavancar carreiras em todas as áreas exige uma atenção especial para si mesma, incentivando a diversidade, com mais mulheres trabalhando e ocupando cargos de liderança, à medida que tenham benefícios justos para conciliar sua vida pessoal.

As empresas que entenderem que equilibrar maternidade e carreira é uma questão de desenvolvimento coletivo e, com isso, implementarem medidas inclusivas para remediar esses desafios, favorecendo o desenvolvimento profissional e pessoal das mulheres, definitivamente estarão um passo à frente rumo a um futuro mais promissor e feminino.