Mesmo com o impacto da crise global de abastecimento, vários projetos de Data Centers estão previstos para a América Latina em 2023. Como o setor está se adaptando para continuar construindo centros de dados?

A DCD conversou com especialistas da indústria sobre os desafios, estratégias e tendências atuais para implementar projetos na região.

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Franciele Nogueira, Scala Data Centers – Scala Data Centers

Para Franciele Nogueira, Design Engineering Director da Scala Data Centers, a crise de fornecimento de equipamentos, causada pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, é o principal desafio para a construção de centros de dados. "A cadeia de suprimentos foi muito impactada e os equipamentos estão com um prazo de entrega extenso, precisando de muito tempo para serem disponibilizados. Nesse contexto, não basta modularizar ao máximo os projetos para entregá-los mais rápido para o cliente se não tivermos os insumos necessários”, explicou.

Segundo ela, é importante fazer parcerias estratégicas com fornecedores e compras de grandes lotes de equipamentos para mitigar de alguma maneira o prazo extenso para eles serem entregues. “Buscamos sempre nos antecipar às demandas dos clientes e comprar de forma avançada”, destacou.

Cumprindo prazos com eficiência

Segundo Franciele, a Scala Data Centers desenvolveu a sua própria metodologia, chamada FastDeploy. “Ela permite a entrega de centro de dados em fases, com um prazo até 50% menor com relação ao modelo tradicional, A Scala inova nesse sentido. Nos Data Centers em que trabalhei antes, para construí-los, geralmente fazíamos a construção civil do prédio na íntegra e, depois, aplicávamos a infraestrutura interna. Com o FastDeploy, construímos o centro de dados de forma modularizada, tanto as partes de elétrica e mecânica quanto de engenharia civil. Essa é uma tendência que ainda está se consolidando atualmente e a Scala vem sendo pioneira nisso”, disse.

Para ela, o centro de dados modular é o que melhor se adapta às necessidades do mundo atual. “O Data Center do futuro é o que poderá crescer de forma faseada, porque com isso conseguimos atender o prazo do nosso cliente com um aporte financeiro inicial mais assertivo, minimizando o CAPEX. Assim, a implementação de um Data Center deve ser modularizada de acordo com a necessidade e a capacidade de TI do usuário”.

Franciele acrescenta: "Na engenharia, isso se dá com a não utilização do piso elevado, ainda que os clientes estejam demandando uma densidade cada vez maior dos racks. Finalmente, na parte de mecânica, isso ocorre com a elaboração de soluções para um grande desafio: tentar entender como equacionar todas essas questões”.

A diretora da Scala também destacou a importância da verticalização do Data Center. “Com a alta demanda atual dos clientes, entendemos que verticalizar a construção de um centro de dados pode ser uma ótima solução para potencializar o uso do local em que ele está. Foi o que fizemos no Campus Tamboré, onde temos o SGRUTB04, que é o maior Data Center vertical da América Latina, com sete pavimentos”, explica.

Flexibilidade, modularidade e eficiência

Victor Arnaud, Managing Director da Equinix no Brasil, diz que além da crescente demanda por mais capacidade de processamento, a migração de cargas de trabalho para o edge e a busca pela neutralidade climática estão moldando os Data Centers do futuro. “Os novos projetos de Data Center buscam atender a quatro critérios principais: flexibilidade, modularidade, sustentabilidade e eficiência”.

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Victor Arnaud, Equinix – Foto: Assessoria de imprensa

De acordo com Arnaud, eles precisam de modularidade, pois uma ampla gama de formatos é a chave para atender às diferentes necessidades dos clientes. “Além dos Data Centers tradicionais de colocation de varejo e dos hiperescala, estamos construindo instalações menores com um design modular para atender às necessidades das cidades de nível 2 e cargas de trabalho de ponta. Os centros de dados de hoje precisam ser modulares e flexíveis o suficiente para se adaptar às mudanças”.

Ele ressalta que novos sistemas de resfriamento que permitem maiores variações nas densidades de energia do rack podem acomodar clientes com requisitos de densidade de energia mais altos com mais facilidade. “A otimização também acontece por meio de uma combinação de investimentos, sistemas de eficiência energética, projetos sustentáveis e outras práticas recomendadas para reduzir a taxa PUE e, por fim, adotar metas e ações claras de sustentabilidade, alinhadas a protocolos internacionais. Isso só é possível se você tiver uma equipe de Design e Construção conectada com o ecossistema para identificação e validação das novas tendências e tecnologias”, acrescentou.

Para ele, é possível adotar princípios de design para que qualquer Data Center seja sustentável, flexível, escalável e resiliente, de acordo com as suas limitações e decisões de projeto e construção. “No caso da Equinix, utilizamos o design de Data Center Flexível (FDC), que usa um catálogo padrão de elementos de design que podem ser adaptados aos requisitos individuais do IBX e do mercado. As peças comuns permitem eficiências na cadeia de suprimentos e nos custos de capital, ao mesmo tempo em que proporcionam previsibilidade de manutenção a longo prazo”.

Quando se trata de construção e operações, Arnaud aponta que outro desafio global é a escassez de profissionais qualificados. "Precisamos de mais profissionais aptos a manter as operações dos Data Centers e dos serviços digitais prestados. É por isso que a Equinix apoia e promove globalmente uma série de iniciativas para atrair mais profissionais para o setor”.

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Yesenia Meneses, Equinix – Yesenia Meneses | Equinix

Yesenia Meneses, Diretora de Vendas da Equinix para a América Latina, destaca a crise global de logística e energia como os principais desafios para a construção de centros de dados. "É uma crise que afeta a todos, mas você percebe quando as equipes são realmente eficientes pelo planejamento. Na Equinix, tudo é definido com muito tempo de antecedência. Acho que o problema não é tanto a construção, mas as licenças, com as mudanças dos governos locais. Além disso, há o aspecto energético, não apenas na América Latina, mas em todo o mundo. Na Europa, os preços da energia subiram drasticamente. A energia é o desafio, mas a Equinix também já tem este planejamento de energia renovável", resumiu.

Site selection e comunidade local

Robson Pacheco, Data Centers Sales Manager da Vertiv Brasil, afirma que o site selection é de extrema relevância para a comunidade local, pois além da geração de empregos direta ou indireta, o empreendimento permitirá que a informação digital atenda aos requisitos mínimos para operações online com menor tempo de latência e alta disponibilidade.

Como desafios para a construção de Data Centers, Pacheco também aponta para a logística global de insumos e componentes, custos de implementação e disponibilidade de energia elétrica.

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Robson Pacheco, Vertiv – Vertiv

Quanto aos projetos de centros de dados, ele concorda que estão se tornando cada vez mais potentes e modulares. “A ideia central é de preservar a velocidade de implantação e, ao mesmo tempo, garantir alta disponibilidade de informação digital de forma escalonável. A construção sob demanda racionaliza os investimentos e permite um fluxo de dispêndio de investimentos proporcional às demandas da região. É um formato muito prático e orientalizado para consumidores e investidores”.

Apesar dos desafios, Pacheco é "profundamente otimista" quanto às perspectivas da indústria na América Latina. "Há uma defasagem muito grande entre oferta versus demanda e isso permitirá a implementação de muitos sites por toda América Latina. Podemos prever pelo menos uma década de investimentos massivos no setor”, concluiu.

"A era dos Data Centers robustos acabou”

O diretor de construção de centros de dados do Grupo Avanzia no México, Adrián Huerta, também analisou o cenário atual para a construção de Data Centers. De acordo com ele, a tendência é que os Data Centers sejam cada vez mais simples. "As empresas querem fazer mais com menos e ser eficientes. A era dos centros de dados robustos acabou. Provavelmente vamos vê-los, mas serão como pequenas pegadas em todo o mundo por serem tão caros. As empresas estão apostando na eficiência, não apenas econômica, mas também energética”, afirmou.

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Adrián Huerta, Grupo Avanzia

Huerta pondera que cada país tem uma maneira diferente de construir centros de dados. "No México, vemos muitos Data Centers chegando dos Estados Unidos. Os seus padrões de construção, especialmente em termos de segurança, são mais complexos do que os do México. Não tínhamos tanta segurança como prioridade. A realidade era construir bem o edifício o mais rápido possível, mas agora também é necessário torná-lo o mais seguro possível. Isto levou a que novos métodos de construção fossem implementados".

Para Huerta, o sucesso da construção é o planejamento. "Estou nesta indústria há 10 anos. Antes, tínhamos prazos definidos. Você queria um UPS e o conseguia em 12 a 16 semanas, já um gerador em 24 semanas. Planejávamos com base nesses tempos, mas agora vemos que os aparelhos de ar-condicionado, por exemplo, podem chegar em 56 semanas. Já os geradores precisam de um ano e meio", lamentou.