Data center
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O Brasil é o principal mercado da América Latina para investimentos em Data Centers, impulsionado por fatores como a crescente digitalização, o aumento da demanda por esses centros e a expansão da conectividade. Além disso, a significativa demanda por armazenamento em nuvem está motivando os operadores de nuvem a investirem cada vez mais no país.

Segundo pesquisa da Arizton, o mercado de Data Centers no Brasil deve atingir 1,50 bilhão de dólares até 2028. Atualmente, a região possui cerca de 66 Data Centers de colocation em operação. No entanto, a maioria dos investimentos está concentrada nas regiões Sudeste e Sul. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste ainda recebem investimentos escassos, destacando a necessidade de uma maior descentralização no setor.

De acordo com Fábio Pezutto, Commercial & Marketing Superintendent en Afonso França Engenharia, a escolha dos locais tem levado em consideração não apenas a disponibilidade de energia e conectividade, mas também fatores como riscos ambientais, exigências para garantir a continuidade operacional e proximidade aos grandes centros urbanos.

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Fábio Pezutto, Afonso França Engenharia

“A descentralização desse processo pode se tornar uma tendência, mas ainda é tímida e sempre visa reduzir custos operacionais e mitigar riscos relacionados à concentração em áreas urbanas, além dos custos de transmissão de dados. Temos notado que o mercado de edge Data Center tem ido mais na direção da descentralização do que os hyperscalers”, ressaltou Pezutto.

Segundo ele, os desafios para a construção de Data Centers basicamente não se diferenciaram nos últimos anos. “A complexidade para a disponibilidade de energia estruturada de forma que possamos diversificar em novos locais novos centro de dados também é uma barreira a ser vencida. Na infraestrutura de telecomunicações ainda existem localidades onde a estrutura demanda um grande desafio para prover a disponibilidade necessária para os grandes centros de dados de maneira confiável principalmente para os hyperscalers, que demandam por soluções que atendam aos requisitos de segurança e confiabilidade”, explicou.

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Alberto Lopes, Ascenty – Ascenty

Fortaleza é a cidade nordestina que conta com mais investimentos de Data Centers, com centros de dados de empresas como V.tal, Ascenty e TelCables, além de anúncios de projetos como Scala Data Centers. Recife também tem o potencial de aumentar os seus investimentos, com projetos de empresas como a Um Telecom e Surfix Data Center. HostDime, que já possui um Data Center em João Pessoa, na Paraíba, também anunciou planos para construir outro centro de dados na região Nordeste. No norte do país, o grupo ClickIP inaugurou um Data Center há poucos meses.

No entanto, comparado com o eixo Rio-São Paulo, ainda são poucos os investimentos em cidades do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

De acordo com Alberto Lopes, Vice-presidente de Projetos de Engenharia e Construção da Ascenty, a seleção de locais para a construção de Data Centers no Brasil está ligada a regiões estratégicas. “Na Ascenty, as nossas operações estão localizadas em zonas que são capazes de nos fornecer condições adequadas para operar com eficiência energética e conectividade. O primeiro Data Center da Ascenty foi construído em Campinas, por conta da disponibilidade de fornecimento de energia. É estratégico, pois a cidade conta com grande disponibilidade energética, além de ter virado um polo de outras empresas tecnológicas. Vinhedo e cidades do interior viraram alvo por função de localização, disponibilidade de energia e escalabilidade”.

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Fernando Madureira, Deerns – Linkedin

Lopes afirma que o aumento da conscientização sobre a importância da distribuição geográfica para garantir resiliência e redundância sugere que nos próximos anos poderemos observar uma maior diversificação na seleção de locais.

Descentralização é um processo lento

Fernando Madureira, Diretor Comercial da Deerns Brasil, destaca que atualmente existe muita procura por áreas perto do centro tecnológico de Campinas para a implementação de Data Centers. “A região de Barueri, na Grande São Paulo, e a cidade do Rio de Janeiro e os seus entornos vem na sequência das preferências para a construção de novos Data Centers. Mas realmente hoje vejo alguns projetos se destacando em outras regiões do Brasil”.

Madureira continua: “Cidades como Porto Alegre, Brasília e Fortaleza estão com projetos bem interessantes neste momento. Mas ainda é pouco pensado na extensão territorial do Brasil e não creio numa aceleração desta descentralização nos próximos anos. Muito disso ainda dependerá da viabilidade de recursos (terreno, facilities, etc.) em outras regiões além das citadas aqui anteriormente”.

Para o Diretor Comercial, o Brasil possui uma boa disponibilidade de energia se comparado à imensa maioria dos países com um certo grau de desenvolvimento tecnológico. Porém, esta disponibilidade nem sempre chega na ponta de uso com a velocidade demandada pelo mercado de Data Centers. “Além disso, o Brasil possui regras específicas para a distribuição de energia que são difíceis de encontrar em outros lugares do mundo. Sendo assim, a definição de uma boa estratégia para a solicitação de energia é fundamental para atender aos cronogramas desejados. Também podemos ressaltar algumas questões de aprovação em órgãos públicos como meio-ambiente, prefeituras e bombeiros. Todos estes desafios devem ser previamente mapeados e mitigados para evitar atrasos na entrega da operação”.

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Marcos Paraíso, Modular Data Centers

Marcos Paraíso, VP de Business Development da MODULAR Data Centers, afirma que existe um incentivo importante para se descentralizar projetos de centros de dados no Brasil. “Hoje a oferta de serviços fora do Sudeste é muito limitada. Existe, portanto, oportunidade de se explorar energia barata ao mesmo tempo que se pode atender demandas regionais utilizando a infraestrutura de comunicação oferecida, por exemplo, pela malha de fibra neutra espalhada pelo país e pelos cabos submarinos que conectam o Brasil a outros continentes”.

A aceleração de construção de Data Centers no Brasil, segundo Paraíso, traz alguns desafios. “Ainda estamos sofrendo um processo de recomposição das cadeias de suprimentos mundiais que afetam diretamente a construção dos Data Centers. Isso pode atingir de forma negativa o desenvolvimento de projetos locais. Outro desafio é que simplesmente podemos chegar ao limite da nossa capacidade de atender toda a demanda de construção no mercado ligado a um gargalo de capacidade técnica e infraestrutura para atender a tantos projetos em paralelo. É aí que nós da MODULAR nos posicionamos como habilitadores deste processo, pois em um ambiente fabril controlado se torna muito mais fácil multiplicar a capacidade de entrega de infraestrutura através de módulos pré-fabricados para estes projetos”.

“Já vemos a descentralização no mercado edge”

Rogério Piovesan, Diretor de Engenharia de Data Center da V.tal considera que o dia a dia do setor de Data Center ainda está muito restrito aos players do próprio setor. “Acreditamos que uma necessidade da indústria seria conscientizar os demais setores produtivos e governamentais da importância que essa indústria tem para o ecossistema digital como um todo. Ou seja, como a nuvem e a internet na borda dependem tanto da indústria de Data Centers, e como isso pode beneficiar o país na atração de gigantes do setor de tecnologia para nosso país”.

Rogerio Piovesan
Rogerio Piovesan, V.tal

Com relação ao site selection para a construção de centros de dados, Piovesan observa que ainda existem demandas muito focadas em cloud e edge, sempre em regiões próximas aos grandes centros consumidores. “As dificuldades de encontrar o equilíbrio ótimo entre geografia, energia, licenciamento e prazos é o grande desafio atual. Em paralelo, estamos sempre interagindo com os nossos clientes de maneira a mapear as regiões de maior interesse por eles informadas. Locais de chegada de cabos submarinos também são regiões muito interessantes, e estão contemplados na nossa infraestrutura já existente, uma vez que esses cabos fazem parte do portfólio da V.tal”.

Piovesan conclui: “Para o mercado edge, já estamos vendo essa descentralização. Para o mercado cloud, contudo, ainda vemos uma forte centralização em poucas regiões já consolidadas, São Paulo é uma delas”.