O crescente avanço dos serviços digitais, computação em nuvem, Inteligência Artificial e outras tecnologias de ponta tem impulsionado significativamente a demanda por infraestruturas de data centers no Brasil, com o Nordeste emergindo como um ator relevante nesse cenário dinâmico.

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Segundo edge data center da V.tal em Fortaleza – V.tal

Diversas empresas já estão estabelecendo ou contemplando a instalação de centros de dados na região. Especial destaque recai sobre Fortaleza, que abriga uma parcela significativa dos cabos submarinos (16) que conectam o Brasil globalmente, solidificando seu papel como epicentro nordestino desses investimentos. Na realidade, a cidade está se transformando em um vibrante hub digital.

Mas o que falta para outras cidades nordestinas receberem mais investimentos? Quais são os planos dos protagonistas da indústria para a região? A DCD entrevistou porta-vozes do setor sobre o assunto.

Scala pretende investir em campus com capacidade da ordem de 20MW

Cleber Braz, Vice-presidente sênior de Desenvolvimento de Negócios e Experiência do Cliente da Scala Data Centers, também acredita no potencial do Nordeste brasileiro.

“Vemos uma vocação para inovação bastante latente em Fortaleza. A infraestrutura digital, notavelmente o Cinturão Digital do Ceará, contribui para consolidá-la como um hub de tecnologia, conferindo uma vantagem competitiva adicional e solidificando a busca por polos tecnológicos e ecossistemas integrados”, destacou.

De acordo com Braz, assim como em outros mercados na América Latina, a Scala Data Centers está trabalhando para criar uma infraestrutura de TI capaz de atender ao mercado hyperscale e viabilizar a expansão de operações de empresas que já estejam ou pretendam investir na região.

“Essa estratégia reforça o compromisso da companhia em habilitar novos mercados na América Latina, seja em localidades não exploradas, seja em regiões com presença de data center, mas ainda carentes de uma abordagem dedicada às grandes capacidades de TI que verdadeiramente atendam o segmento hyperscale”, afirmou.

“Em Fortaleza”, - continua Braz -, “a Scala pretende investir em um campus com capacidade da ordem de 20MW de TI, justamente para suprir a demanda desses grandes provedores de nuvem no longo prazo”.

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Cleber Braz, Scala Data Centers – Scala Data Centers

Segundo ele, o campus do Nordeste será abastecido 100% com energia certificada e renovável, e será desenhado para operar com o baixo PUE, além de reduzido consumo de água, certificado ANSI/TIA-942 Rated 3, que atesta parâmetros de elétrica, mecânica, telecom, arquitetura e segurança para a construção e o design de data centers.

O VP de Desenvolvimento de Negócios e Experiência do Cliente afirma que a Scala quer levar ao Nordeste a infraestrutura de TI dedicada ao mercado hyperscale. “Somos pioneiros nesse segmento e, por isso, temos de trabalhar a capacitação profissional fim a fim, desde a construção à operacionalização, ainda mais por desenvolver abordagens proprietárias de construção e design. Como mercado regional estratégico, buscaremos atender os nossos clientes no Nordeste de forma rápida, segura e com foco em alocação inteligente do capital por meio de uma solução modular, sem prejuízo aos requerimentos de clientes.”.

Ascenty faz estudos de mercado para próximos data centers

De acordo com Marcos Siqueira, VP de Operações da Ascenty, podemos ser otimistas quanto a futuros investimentos no Nordeste, “não apenas da Ascenty, mas do mercado na totalidade”.

“Falando abertamente da Ascenty, sem dúvida nenhuma. O nosso número hoje oficial é de 34 data centers, sendo 24 deles em operação e os outros 10 em etapas diferentes de construção. Eu não posso comentar ainda, mas quando eu olho o meu business plan e a previsão de crescimento nos próximos cinco anos, esses 34 data centers já estão defasados”, explicou Siqueira, que detalha: “Isso passa por todas as regiões potenciais que a gente enxerga, e o Nordeste é uma região potencial para a construção de data centers num futuro próximo. Não posso precisar se será Fortaleza, Recife ou alguma outra cidade, mas temos feito estudos de mercado, conversando com analistas e entendendo tendências e a maturidade dos executivos de TI das regiões”.

Atualmente, a Ascenty possui um data center em Fortaleza, com 10 MW de capacidade e 1.900 racks.

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Marcos Siqueira, Ascenty – Ascenty

“Na Ascenty, estamos bastante felizes por fazer esse investimento em 2015. É um mercado real, com enorme possibilidade de crescimento. Obviamente, quando você compara regiões, você ainda vê menos investimentos no Nordeste do que no Sudeste. Mas quando eu comparo o Nordeste de hoje com o de 10 anos atrás, vejo muito crescimento”, afirmou.

IA vai requerer latência menor entre Nordeste e SP

Siqueira também destacou que a IA vai gerar novos modelos de negócios, o que vai requerer tempos de resposta muito rápidos.

“O Nordeste precisa consumir serviços em nuvem. Neste cenário, as empresas têm duas opções, consumir serviços em São Paulo dos grandes cloud providers ou dos grandes cloud providers nos Estados Unidos, porque a latência entre o Nordeste e São Paulo, se for uma rede muito boa e resiliente, vai ser de 50 milissegundos. Mas se a população nordestina se conectar com os Estados Unidos ou com a Europa, conseguirão uma latência que não é muito diferente disso”, contextualizou.

Segundo ele, com o boom da Inteligência Artificial, os “50 milissegundos” de tempo de resposta entre o Nordeste e São Paulo pode ser “inviável” para determinadas soluções funcionarem. “A alternativa é ter certa capacidade de armazenamento e processamento rodando no Nordeste para que a percepção do usuário final seja instântanea”.

Embora a necessidade seja visível, os desafios para a implementação de centros de dados na região precisam ser avaliados. "Na medida em que as cidades vão investindo em infraestrutura, isso atrai naturalmente as empresas de data center como um todo".

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Data center da Ascenty em Fortaleza – Ascenty

“Fortaleza tem um destaque maior devido aos cabos submarinos. Mesmo que Recife, por exemplo, tenha toda uma infraestrutura disponível, para grandes investimentos, os cabos submarinos naturalmente vão atrair mais oportunidades. Obviamente, nem tudo são flores. Porque em Fortaleza, a salinidade (o que conhecemos como maresia) é prejudicial para os equipamentos de tecnologia. E Fortaleza é um dos piores cenários do mundo pensando neste aspecto”, explicou Marcos Siqueira.

Pensando no fator da salinidade, em 2015 a Ascenty escolheu situar o seu data center em Maracanaú, uma região da grande Fortaleza, mas 40 km afastados da beira-mar. “Não perdemos a conectividade. Para isso, construimos três rotas que interconectam o nosso data center com todos os cable land stations de Fortaleza”, concluiu.

Fortaleza, ponto estratégico para a V.tal

Para Pedro Arakawa, VP de Negócios da V.tal, o Nordeste oferece uma das perspectivas mais promissoras para investimentos em data centers, devido a diversos fatores, como grandes centros populacionais, opções de conectividade (submarinas e terrestres) robustas e em expansão, uma economia digital pujante e alta demanda por infraestrutura de telecom.

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Pedro Arakawa, V.tal – Linkedin

“O nosso objetivo é expandir a infraestrutura digital da V.tal para atender à crescente demanda das empresas globais por data centers na localidade e consolidar-nos cada vez mais como a principal viabilizadora da conectividade e digitalização na região e também no país”, afirmou Arakawa.

Segundo ele, Fortaleza registra atualmente o segundo maior volume de troca de tráfego IX (Internet Exchange) no Brasil e é um dos centros de conectividade mais importantes da região. “Com sistemas de cabos submarinos em operação, oferece conectividade aos Estados Unidos, Europa, África e ao restante da América Latina, tornando-se um ponto estratégico, não apenas para a V.tal, mas também para grandes empresas globais e operadoras de nuvem que buscam um ponto de presença altamente interconectado na localidade”.

Além de ter um cabo submarino em Fortaleza, a V.tal também conta com um campus de edge data center, o “Big Lobster”, com capacidade projetada para mais de 600 racks e 5 MW de carga de TI. Nesta mesma localidade, a empresa opera o PIX Central (ponto de troca de tráfego) no Ceará, permitindo que operadoras e provedores troquem tráfego e acessem conteúdo das principais OTTs (empresas de streaming) do mundo, com altíssima qualidade de conexão.

Recentemente, a V.tal adquiriu um novo terreno na cidade para a construção de um novo data center hyperscale chamado "Mega Lobster". Assim como o "Big Lobster", a instalação do novo empreendimento estará localizada na Praia do Futuro e será totalmente integrado à infraestrutura de conectividade submarina e terrestre da V.tal. “A construção deste outro data center reforça a estratégia da V.tal de expandir a sua infraestrutura nesse segmento, para atender às crescentes necessidades digitais de empresas locais e globais”, destacou.

Com relação à conectividade, Arakawa afirma que a V.tal possui uma "rede com mais de 3,4 milhões de casas passadas com fibra óptica de alta capilaridade e robustez, além de uma extensa malha de backbone e backhaul para o serviço de Atacado".

“Atualmente, essa infraestrutura é utilizada por operadoras, provedores e tel-techs para conectar milhares de lares, empresas e torres de telefonia móvel 5G nos diversos estados da região. O nosso plano de investimentos considera a modernização constante desse ativo para fazer frente às exigências cada vez maiores dos nossos clientes em virtude das novas tecnologias e aplicações digitais”, explicou.

TelCables: data center recebe investimentos para aumentar capacidade

A Angola Cables também possui um data center em Fortaleza, o Data center TIER III AngoNAP. Por meio da infraestrutura global da Angola Cables, a TelCables (responsável pela operação da multinacional no Brasil) beneficia-se dos sistemas de cabos submarinos SACS, Monet e WACS, conectando as Américas, a África, Ásia e a Europa.

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Data center da Angola Cables em Fortaleza – Angola Cables

Além disso, a empresa possui o PIX (sistema de interconexão e ligação directa entre as empresas e os principais Pontos de Troca de Tráfego), ligando a mais de 66 Data Centers Mundiais para além da direta via SACS ao AngoNAP Luanda (Angola) e o Angonix em Angola - um dos maiores Internet Exchange Points (IXPs) da África.

De acordo com Cláudio Florindo, diretor-geral da TelCables, desde a chegada da Angola Cables ao Brasil, o Ceará tem sido referência na ampliação da conexão. “Segundo dados da Pnad, apenas 32% dos lares do Ceará tinham acesso à Internet em 2013. Em 2016, também segundo dados do Pnad, o número de lares conectados no Ceará era de 48%. Em 2022, segundo a Anatel, o número de lares conectados foi de 62,7%. Fortaleza, por exemplo, conquistou a primeira posição no eixo Tecnologia e Inovação, sendo considerada a cidade mais inteligente do Brasil, e ficou em segundo entre as cidades do Nordeste na avaliação de todas as categorias, segundo o Ranking Connected Smart Cities 2022”, citou.

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Cláudio Florindo, TelCables – Assessoria de imprensa

Segundo Florindo, vale destacar também que o Ceará é o terceiro maior estado brasileiro em velocidade média contratada de internet. “Possuímos um robusto Cinturão Digital, onde 85,9% dos municípios cearenses têm cobertura de fibra ótica, segundo a Anatel. Olhando especificamente para dentro da nossa casa, a TelCables Brasil é a terceira colocada em tráfego de dados no Ponto de Troca de Tráfego de Internet de Fortaleza (CE), sendo responsável por cerca de 30% do volume total de informações”.

Segundo o CEO, o AngoNAP Fortaleza também está recebendo investimentos para aumentar a sua capacidade.

Equinix: “Estamos monitorando ativamente as oportunidades e analisando a região”

Victor Arnaud, Managing Director da Equinix no Brasil, disse que a empresa também avalia a possibilidade de expandir investimentos na região. “Estamos monitorando ativamente as oportunidades e analisando a região como um todo. Importante ressaltar que não é só o Nordeste que apresenta potencial atualmente. Entendemos que a região Sul, com foco em Porto Alegre e Curitiba, que são grandes centros urbanos e com proximidade para suportar países vizinhos como Uruguai e Argentina, também têm potencial interessante. Além do Centro-Oeste /Sudeste brasileiro, representados por Brasília, Belo Horizonte e Goiânia”, afirmou.

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Victor Arnaud, Equinix – Foto: Assessoria de imprensa

Arnaud considera o cenário de investimentos de centros de dados na região cada vez mais promissor. “O Nordeste tem uma série de vantagens competitivas para a indústria, como a disponibilidade de energia elétrica, rota de cabos submarinos, especialmente em Fortaleza e Recife, e proximidade com quase 50 milhões de brasileiros que possuem um ou mais dispositivos móveis consumindo e gerando dados a todo momento. Além disso, os governos - federal, estaduais e municipais - têm lançado uma série de incentivos para atrair investimentos na região, tentando facilitar a entrada dos novos investimentos”.

“ODATA tem planos de investir na região”

A Odata também disse que analisa a possibilidade de investimentos. Segundo Vitor Caram, Diretor de Expansão Latam, a Odata reconhece o potencial econômico e a demanda crescente por serviços de data centers no Nordeste. “Acompanhamos com muito interesse o desenvolvimento da indústria local e temos planos de investir na região. Fortaleza, ponto de chegada de fibra submarina, é uma das regiões que mais têm movimentado o setor”, destacou.

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Vitor Caram, Odata – Assessoria de imprensa

Com a crescente digitalização de serviços, a adoção de tecnologias como a Internet das Coisas (IoT) e a expansão das atividades de empresas que demandam infraestrutura robusta, o mercado de data centers tende a crescer na região de maneira exponencial. Acreditamos que o Nordeste seja o próximo destino brasileiro de data centers de hiperescala, o que tem potencial para efetivamente escalar o crescimento dos ecossistemas de serviços de TI da região”, analisou Caram.

Hostdime foca em João Pessoa e prevê investimento em Recife

A Hostdime possui um data center em João Pessoa (PB). O CEO Filipe Mendes afirmou que a HostDime está "firmemente comprometida" em expandir os seus investimentos em data centers no Brasil, com um foco especial no Nordeste.

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– Hostdime

“Os nossos planos de expansão estão em pleno vapor, e temos a intenção de iniciar projetos em outras capitais do Nordeste, com Recife como ponto de partida. Estamos atentos à necessidade de criar um ecossistema tecnológico robusto e diversificado, que possa atender às demandas crescentes por serviços de armazenamento e processamento de dados na região”, destacou.

Segundo Mendes, a estratégia central é estabelecer presença em locais que frequentemente são negligenciados pelos data centers hyperscale. “Acreditamos que atender a essas áreas é essencial para promover o acesso equitativo à infraestrutura tecnológica de alta qualidade. Uma vez que tenhamos estabelecido de forma satisfatória a nossa presença nas regiões menos atendidas, estamos estrategicamente planejando a construção de data centers hyperscale, a fim de ampliar a nossa capacidade de atendimento e proporcionar um impacto ainda maior no desenvolvimento tecnológico do Nordeste”.

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Filipe Mendes, Hostdime – Hostdime

“Além disso”, - continua Mendes - “Continuaremos oferecendo data centers edge certificados com várias credenciais, garantindo excelência operacional e segurança aos nossos clientes”.

Mesmo que exista uma predileção por Fortaleza, no Nordeste, para sediar data centers, o CEO da Hostdime acredita que ao considerar o vasto território do Nordeste, torna-se evidente que Fortaleza, apesar da sua relevância, "não oferece uma latência ideal para atender todos os estados da região de maneira uniforme".

Para ele, João Pessoa emerge como o local ideal para sediar um centro de dados na região. “A sua posição geográfica central confere-lhe a vantagem de atender todos os estados do Nordeste com uma latência excepcionalmente baixa, de menos de 8 milissegundos. Essa latência otimizada é crucial para a prestação eficiente de serviços digitais, especialmente aqueles que exigem comunicação em tempo real e baixa latência”, explicou.

A intersecção do vigoroso crescimento demográfico, a notável qualidade de vida e o crescente dinamismo empresarial - consolida João Pessoa - de acordo com Mendes - como um “cenário altamente propício para abrigar um data center de padrão internacional”.

“Comprovadamente, o nosso Data Center não somente supre as demandas das empresas já enraizadas na região, como também estabelece os alicerces da infraestrutura tecnológica necessária para as iniciativas em ascensão. A nossa infraestrutura tecnológica é respaldada por uma série de certificações notáveis, incluindo 7 ISOS, PCI-DSS, Tier III e SOC 1 e 2, evidenciando o compromisso com a excelência e a segurança em todos os aspectos das operações”, acrescentou.

Um Telecom inaugurará data center Tier III

No Recife, a Um Telecom está construindo um data center Tier III, no Parque Tecnológico de Eletroeletrônicos e Tecnologias Associadas de Pernambuco. Ao todo deverão ser investidos R$150 milhões no projeto, composto por três fases, no prazo total de dez anos. O data center ficará pronto no segundo semestre de 2024.

"Com 180 Racks, na primeira fase, o investimento ficará em torno de R$40 milhões. Mas a ideia é que ao final das três fases tenhamos investido algo em torno de R$150 milhões", explicou Rui Gomes, CEO da Um Telecom.

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Recife – Getty Images

Ele destacou a importância da capital pernambucana. "Recife concentra o maior conglomerado de empresas de tecnologia do país, o segundo maior pólo médico-hospitalar, além de operações de multinacionais, grandes indústrias, empresas de logística, dentre outras. Todas elas têm armazenado os seus dados em pontos geográficos que podem dificultar e até comprometer os seus desempenhos corporativos. Ter esse conteúdo próximo, fisicamente, deve ser visto como um diferencial competitivo, impulsionando os investimentos em infraestruturas de data centers. E essa realidade se replica nos outros estados da região".

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Cristina Luna, Investe Recife – Investe Recife

Entretanto, segundo Gomes, para atrair mais investimentos a qualidade da conectividade na região é "um desafio que precisa ser observado permanentemente com soluções diversas tais como: rede de backbone e cabos submarinos".

Cristina Luna, diretora do Investe Recife (área de atração de investimentos da Prefeitura do Recife), acredita que os grandes mercados de data centers passarão por um processo de descentralização. “Com a necessidade de mais conectividade no país e de mais infraestrutura para atender esse movimento de expansão da atuação das empresas, os grandes mercados de data centers se saturaram. E a partir desse movimento de descentralização das operações, as empresas acabam migrando as suas estruturas para prestar os serviços localmente, como é o caso do Recife”, pontuou.

Ela afirma que o Recife foi a primeira capital do Nordeste a receber 5G em todos os seus bairros e se destaca no mercado de soluções de nuvem por conta do Porto Digital, considerado o maior parque tecnológico urbano da América Latina.

Luna salienta que o grande desafio é, dentre as demandas imediatistas que uma capital exige, buscar soluções permanentes que tornem o ambiente de negócios mais favorável. “Esse olhar leva em consideração desde o investidor nacional até o estrangeiro, na busca por desburocratizar processos e fomentar o desenvolvimento de novos negócios, seja uma pequena empresa ou um grande projeto. Outro ponto importante é a infraestrutura das cidades. Nesse quesito, o Recife conquistou um feito histórico, captando a maior operação de crédito do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) junto a um município em todo o mundo. A capital pernambucana terá R$ 2 bilhões do BID para requalificação urbana e social da cidade”, ressaltou.

Surfix possui data center Tier III no Recife

A Surfix data center possui um centro de dados no Recife e outro em São Paulo. A empresa pernambucana está celebrando o seu vigésimo aniversário em 2023. "Embora tenha nascido no padrão, um dos marcos significativos alcançados pela Surfix foi obter a certificação e se tornar o primeiro e único data center TIER III em Pernambuco. Esse feito demonstra o compromisso em fornecer soluções de infraestrutura de alta qualidade e confiabilidade para seus clientes, garantindo níveis superiores de disponibilidade e segurança para seus serviços e dados", disse Dárcio Macêdo, sócio e responsável por Relações Institucionais.

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Dárcio Macêdo, sócio e responsável por Relações Institucionais – Surfix

Segundo ele, a Surfix possui "audaciosos planos de investimento e expansão". "A empresa está olhando para o futuro com determinação e visão. O seu plano de expansão ultrapassa as fronteiras regionais e se estende por todo o país, demonstrando a ambição e a confiança que a empresa tem na sua capacidade de oferecer serviços de ponta em âmbito nacional. Este projeto vem sendo discutido entre os sócios da Surfix e os investidores em potencial. A abordagem de manter esses projetos de forma estratégica e prioritária sublinha a seriedade com que a empresa está abordando o seu crescimento e a importância de cada detalhe planejado. Essa abordagem demonstra o compromisso da empresa em levar a sua experiência, conhecimento e qualidade de serviço para um público ainda mais amplo, contribuindo para a transformação tecnológica do país", destacou Macêdo.

Elea Digital

Foi divulgado na imprensa que a Elea Digital também estaria investindo em um data center em Fortaleza. Mas no momento a empresa preferiu não comentar sobre os projetos na região.

Em março deste ano, Tito Costa, CRO da Elea Digital, participou de uma reportagem sobre os principais projetos de data centers para 2023. Segundo ele, "2023 será um ano de continuidade da execução da estratégia que começamos a implementar no ano passado. Continuaremos a rotina de investimentos em renovação e possíveis novas aquisições, mas também com investimentos na expansão dos nossos centros de dados POA2, RJO1 e BSB2".

Modular: Foco em Pernambuco, Ceará, Paraíba, Piauí e Sergipe

O VP de Business Development da Modular Data Centers, Marcos Paraíso, destacou que a empresa hoje possui clientes em vários estados, com data centers produzidos pela Modular. Entre eles, estão Pernambuco, Ceará, Paraíba, Piauí e Sergipe, “sendo alguns construídos pela empresa originalmente adquirida pela Modular na sua fundação e outros produzidos já na gestão atual”.

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Marcos Paraíso, Modular Data Centers – Linkedin

Para ele, o Nordeste aponta como uma região de crescente investimento em data centers. “Vários fatores influenciam isso, como o aumento da demanda local e o posicionamento estratégico de cabos submarinos. Alguns exemplos são os polos de tecnologia como o Porto Digital no Recife e os pontos de chegada de cabos submarinos internacionais em Fortaleza e Salvador. Isso, atrelado a oferta limitada de serviços de data centers locais, gera um efeito de atração de investimentos para a região”.

Paraíso avalia que existem demandas não só de edge data centers como de grandes estruturas. “Existem demandas nos dois extremos. Há projetos muito interessantes que focam na expansão de 5G e em levar capacidade de computação ao edge, ao mesmo tempo que existem projetos de outra natureza, que visam criar na região grandes data centers de missão crítica para prover serviços aos clientes locais. Acreditamos que ambas serão áreas de expansão muito importantes nos próximos anos”.

GPS Engenharia: clientes no Ceará, Maranhão e Paraíba

Gustavo Branco, porta-voz da GPS Engenharia, afirma que atualmente a empresa possui clientes no Ceará, Maranhão e na Paraíba. “No Ceará particularmente, onde está localizado grande parte dos cabos submarinos que chegam no Brasil. Sem dúvida é um dos estados do Nordeste que mais se concentram estes investimentos. Podemos esperar uma forte expansão para 2024 e 2025. Acredito que os valores estejam bem acima de U$ 100M para data centers com mais de 10MW de potência instalada”, pontuou. Segundo ele, o tipo de data center mais adotado é o edge data center. Pelo que observamos na movimentação de grandes players no mercado brasileiro tais como V.Tal, Scala e Angola Cables, sobretudo no estado do Ceará, acreditamos sim que existe uma forte tendência de expansão e consolidação na região para os próximos anos”.

Afonso França: “Acompanhando de perto o aumento da demanda por infraestrutura de data centers”

Atualmente, a Afonso França tem no portfólio o Data Center V.Tal em Fortaleza/CE. Segundo Fábio Pezutto, Superintendente Comercial e Marketing, quanto aos investimentos futuros, “estamos acompanhando de perto o aumento da demanda por infraestrutura de data centers na região”.

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João Pessoa, Paraíba – Getty Images

“A expectativa é que, nos próximos anos, haja um aumento contínuo dos investimentos, impulsionado pelas tendências de transformação digital, adoção de IoT e 5G, que exigem uma infraestrutura robusta para suportar a crescente carga de dados e aplicações. O cenário de investimentos em data centers no Nordeste brasileiro tem apresentado um crescimento significativo nos últimos anos. A região está se tornando cada vez mais atraente para empresas que buscam as suas operações de TI e armazenamento de dados”.

Ele acredita que tanto o edge Data Center como os data centers colocation ou de hiperescala serão demandados na região. “Enquanto os data centers tradicionais continuam sendo essenciais para processamento intensivo e armazenamento de grandes volumes de dados, os edge data centers têm um papel importante em trazer capacidade de processamento mais próximo das fontes de dados, o que é crucial para aplicações sensíveis à latência, como IoT e serviços em tempo real”.

Novas soluções

De acordo com Fabiano Tatsugawa, diretor de Infraestrutura Missão Crítica da Claro, os principais desafios para que ocorram mais investimentos em data centers no Nordeste estão relacionados à infraestrutura e à disponibilidade de mão de obra especializada. “De forma geral, os desafios são semelhantes em todo território nacional, variando o grau de dificuldade em contorná-los”.

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Fabiano Tatsugawa, Claro – -

Segundo ele, “devemos observar um crescimento desse mercado na região Nordeste, impulsionado pelo aumento de tráfego de dados e expansão da rede 5G e das soluções associadas à nova geração de internet móvel, que vão demandar a implantação de edge Data Centers para atender baixa latência e novas tecnologias”.

Para João Ricardo Lopes de Oliveira, gerente de Vendas para data center para a Furukawa Electric, com relação aos investimentos de centros de dados no Nordeste, ainda vemos uma necessidade de ampliação da oferta. “Principalmente com as necessidades de diminuição de latência, obrigando a diminuir a distância entre o data center e o cliente”.

Oliveira pontua que a ascensão da Inteligência Artificial demandará mais centros de dados, e que felizmente a conectividade vem melhorando na região. “A conectividade é algo que não para de crescer, seja em investimentos na infraestrutura física ou em investimentos para atender às demandas por necessidades, por exemplo, de Inteligência Artificial. Este último, as demandas são universais e para isso, não há limites, não há regiões, não há fronteiras”.

“Piauí destaca-se pelo potencial na geração de energia renovável”

A energia também é um fator determinante na construção de um data center. Thiago Neres - Gerente de infraestrutura e conectividade, da Agência de Tecnologia da Informação do Estado do Piauí, ressaltou que o estado destaca-se pelo seu imenso potencial na geração de energia renovável, principalmente por meio de fontes eólicas e solares. “Essa abundância de fontes energéticas limpas e sustentáveis pode ser atrativa para empresas em busca de reduzir o impacto ambiental e otimizar os custos operacionais dos seus data centers”.

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– Getty Images

Segundo ele, o Governo do Estado tem implementado políticas de incentivo ao investimento em tecnologia e comunicação. Essas iniciativas podem atrair investimentos nos diversos setores voltados para área de tecnologia além de promover o desenvolvimento do setor.

“O cenário de investimentos em data centers no Piauí apresenta oportunidades, impulsionadas pela localização estratégica, potencial energético e políticas de incentivo. No entanto, desafios relacionados à infraestrutura de conectividade e disponibilidade de mão de obra qualificada devem ser superados para atrair e manter investimentos”, disse. Neres destacou o projeto "Piauí Conectado", uma iniciativa governamental público-privado que busca levar internet de alta velocidade para escolas, hospitais, órgãos públicos e comunidades em todo o estado.

“Esses investimentos têm impactos positivos em várias áreas. No setor educacional, por exemplo, a conectividade permite o acesso a recursos digitais, plataformas de ensino online e oportunidades de aprendizado remoto. Além disso, a melhoria da conectividade impulsiona o acesso a informações, serviços governamentais e oportunidades de negócios, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social no estado”.