Pensando em como alcançar melhores índices de eficiência energética em seu data center? Talvez a virtualização seja uma das soluções que você procura.

Não é novidade que esse é um tema de grande interesse para o setor de TI e que tende a ganhar cada vez mais espaço e adeptos.

Para entender melhor como a virtualização pode contribuir para alcançar esses objetivos, convidamos um especialista no assunto, Carlos Pane, consultor de Data Center, para compartilhar sua visão. Nesta entrevista, vamos explorar como a virtualização pode ajudar a reduzir o consumo de energia e os custos operacionais em data centers, além de outros benefícios que podem ser obtidos com essa tecnologia. Confira!

Como a virtualização ajuda a reduzir os custos operacionais e a infraestrutura física necessária em um Data Center?

Em um ambiente não virtualizado, há uma grande ociosidade no uso dos recursos de processamento e de outros recursos como memória e redes, com equipamentos funcionando com apenas 20% ou até menos de sua capacidade. Adicionalmente, mesmo um equipamento que não esteja momentaneamente em uso possui um consumo de energia básico apenas por estar ligado.

A virtualização, quando bem planejada e executada, eleva o percentual de utilização dos recursos de hardware para algo próximo de 80%, permitindo uma grande redução na quantidade de equipamentos físicos e, consequentemente, na infraestrutura necessária para abrigá-los. Além disso, a virtualização permite o uso de estruturas de hardware remotas próprias ou como serviço, proporcionando uma melhor distribuição de recursos pelas características dos sistemas, sua localização e custo por transação. Isso permite alocações temporárias para momentos de excesso de demanda, reduzindo investimentos em equipamentos superdimensionados por demandas pontuais recorrentes ou não.

Do ponto de vista da infraestrutura, a redução do espaço e consequentemente dos elementos necessários para manter o data center em operação é um resultado claro da virtualização, como a redução no consumo de energia usada diretamente pelos equipamentos e indiretamente pelo sistema de refrigeração, e a diminuição da quantidade de infraestrutura física como racks, piso elevado, cabeamento e outros. Assim, há uma importante redução no custo geral na operação do data center (OPEX), com destaque para o custo de energia, que é o maior deles.

Em sua opinião, qual é o principal benefício da virtualização e como ele se relaciona com a pegada de carbono dos Data Centers?

Sem dúvida, o principal benefício é a redução do consumo de energia de equipamentos e infraestrutura e, consequentemente, o aumento da eficiência energética no uso da data center como um todo. Na maioria dos casos de data centers não virtualizados, a virtualização é a ação isolada que causa o maior impacto percentual na melhora da eficiência energética.

Quanto a pegada de carbono, sim, existe uma relação direta e, em casos que trabalhei no passado, foi possível conseguir pontos extras na certificação LEED para edifícios sustentáveis, demonstrando o quanto a virtualização impactava na redução de emissão de CO2 e na redução no uso de materiais pelo menor uso de espaço.

Para quais tipos e tamanhos de empresas a tecnologia de virtualização é mais indicada?

De uma forma geral, a virtualização pode ser utilizada por empresas de qualquer tipo e tamanho. No entanto, é sempre necessário realizar um projeto para avaliar os custos e os riscos associados a essa implementação.

É importante destacar que cada empresa, dependendo de suas atividades e do tamanho do ambiente de TIC, pode ter um impacto maior ou menor em seus negócios. Portanto, a decisão de implementar a virtualização não deve se basear apenas nos benefícios para a área de TIC, mas também deve levar em consideração o impacto em outras áreas da empresa.

Por exemplo, não faz sentido investir em virtualização para uma plataforma de software em fase de descontinuação que será substituída por outra. Da mesma forma, um sistema legado que deve ser mantido apenas por questões legais não justifica o investimento em virtualização.

Outro ponto importante e muitas vezes subestimado é o custo e o risco envolvidos na operação do novo ambiente virtualizado. É necessário revisar os processos e procedimentos existentes para adequá-los ao novo ambiente e considerar aspectos da governança, especialmente em relação aos riscos associados ao novo ambiente, seja ele virtualizado interna ou externamente.

Como as práticas de ESG têm influenciado a destinação dos servidores e equipamentos que deixam de ser utilizados após a virtualização?

Quando falamos em destinação, existem alguns cenários que dependem de fatores como a idade do equipamento, suas características técnicas, estado, custos de remoção, doação ou outras ações necessárias, política ambiental da empresa em relação ao lixo eletrônico e economia circular, entre outros.

A maioria dos equipamentos ainda vai para descarte/reciclagem, pois é mais simples tanto do ponto de vista burocrático, como do ponto de vista de custo, alguns são reaproveitados em situações de uso menos importantes para o dia a dia dos negócios, algumas vezes substituindo equipamentos mais antigos e/ou menos eficientes.

Mas, nos últimos anos, com a pressão do mercado pelas práticas de ESG e a força que vem ganhando o tema de economia circular nas agendas das empresas, vemos diversos fabricantes, provedores de serviços e outros atores do mercado, fazendo um esforço para reaproveitar ao máximo estes equipamentos em outros ambientes da sociedade que carecem de uma estrutura e não tem condições de adquirir equipamentos novos.

É importante lembrar que quanto mais recente é o equipamento, maior é o seu índice de reciclagem, bem como sua capacidade de operar por mais tempo, assim, é necessário que se faça uma avaliação especializada dos recursos para que faça a melhor destinação.

Quais outras ações podem contribuir com a eficiência energética de um Data Center?

Existem diversas ações que podem ser tomadas e que dependem das características de cada ambiente, tanto do ponto de vista da infraestrutura física do data center quanto da utilização pela área de TIC.

Do ponto de vista da infraestrutura, o primeiro item em relação à eficiência energética diz respeito à refrigeração, que deve ser otimizada ao máximo. Claro que isso depende muito do ambiente de cada data center, por isso é importante realizar uma avaliação para determinar as melhores opções. Algumas são conhecidas no mercado e já mostraram sua eficácia, como a adoção de corredores frio/quente, enclausuramento, monitoramento das temperaturas do ambiente e do sistema de refrigeração com ajuste de set points automáticos. No entanto, há outras opções mais complexas, como o uso de free cooling e refrigeração direta por líquido, que demandam uma avaliação mais especializada da sua viabilidade técnica/financeira e podem não ser aplicáveis de forma tão geral aos ambientes existentes.

Do ponto de vista da operação, um mapeamento adequado das instalações e o uso de um software para avaliar qual o melhor lugar para a colocação de determinado equipamento, via um conjunto de regras de ocupação, especialmente em grandes data centers, podem ajudar a otimizar os recursos de refrigeração e energia.

Outro ponto importante é que sejam adotados, na política de aquisição de hardware e serviços, parâmetros comparativos de eficiência energética com o peso adequado para a tomada de decisão dos gestores.