A disrupção vivida nos últimos dois anos deixou clara a profunda interdependência entre as pessoas. Essa verdade está acelerando a disseminação, dentro do segmento brasileiro de data centers, dos conceitos e métricas do modelo ESG (Environment, Social and Governance, ambiente, inclusão social e governança). Para estar em conformidade com o ESG, o data center precisa passar por transformações culturais e técnicas, tornando-se mais transparente para o mercado.
Pesquisa da consultoria State Street Global Advisors realizada em 2018 a partir de entrevistas com 475 grandes empresas de investimento de todo o mundo mostra que 80% desse universo prioriza empresas alinhadas às normas ESG. Entre jovens investidores e consumidores, em especial, a bandeira ESG é algo intrínseco à sua identidade. Estudo feito pelo Bank of America em 2020 a partir de entrevistas com 14.500 pessoas da geração Z (população nascida entre 1996 e 2016) vivendo em 10 países aponta que 80% desse público prefere consumir serviços de empresas alinhadas com as métricas ESG.
Relatório divulgado pela Merrill Lynch Global Research em setembro de 2019 mostra que a rentabilidade das ações de organizações ESG na Europa superou a média de mercado em 3 pontos percentuais a cada ano entre 2007 e 2019. Com os data centers atuando como o backbone das empresas modernas, o foco em ESG no data center e em toda a área de TI pode reforçar a mensagem de que, em plena era digital, a organização está alinhada com o modelo ESG. Isso pode elevar o valor da marca.
Mulheres ainda são minoria nos times dos data centers
Pesquisa realizado pelo UpTime Institute em setembro de 2021 com 800 gestores de data centers mostra que, em 82% das empresas envolvidas no estudo, somente 10% da equipe é formada por mulheres. Atuando em conformidade com o modelo ESG, as empresas poderiam aumentar a diversidade de gênero por meio de iniciativas STEM. Vale a pena implementar programas de mentoria de jovens mulheres e estudantes com interesse nas disciplinas STEM. Outra possibilidade seria integrar mais mulheres nos programas de estágio das áreas de TI e do data center. Isso é uma estratégia de longo prazo que deveria ser iniciada agora.
Oportunidades em sustentabilidade para a indústria do data center
Sustentabilidade, por outro lado, já é um tópico chave para a indústria. Pesquisa realizada em setembro de 2021 pela empresa de monitoramento de TI Paessler a partir de entrevistas com 1500 gestores dos EUA, Alemanha, Reino Unido, Canadá, França, Austrália, Brasil e México mostra o avanço da conscientização ESG entre os gestores de TI. Trinta e sete por cento consideravam que migrar o data center on-premises para a nuvem colaboraria com o alinhamento da empresa usuária às normas ESG. Isso aconteceria porque o data center empresarial seria desativado. Trinta e cinco por centro dos gestores disseram que, nessa jornada para a nuvem, só contratariam data centers alinhados com as melhores práticas em sustentabilidade.
Monitoramento do lixo eletrônico segue sendo um desafio
O estudo UpTime Institute mencionado anteriormente reforça a importância dessa tendência: entre os 800 gestores de data centers entrevistados, 82% medem o consumo de energia e a efetividade dos controles nessa área. Mas somente 51% aferem o consumo de água do data center. Um grupo ainda menor, 25%, monitora o tratamento do lixo eletrônico, um claro termômetro da maturidade da cultura de sustentabilidade do data center.
Por hora, a grande frente de batalha do data center brasileiro que busca adotar os princípios ESG é a redução do consumo de energia elétrica. Nesse contexto, células a combustível, ativos renováveis e sistemas de armazenamento de energia de longa duração, incluindo sistemas de armazenamento de energia por baterias (BESS) e baterias de ion-lítio, terão um papel vital no data center alinhado às métricas ESG.
Data centers também encontram novas opções em relação ao cooling do ambiente. Sistemas térmicos sem uso de água e refrigerantes com baixo GWP têm sido especificados com maior frequência. Alguns países estabeleceram cronogramas para a transição em direção à tecnologia refrigerante com baixo GWP, algo essencial para atingir metas de zero carbono.
O gestor de data center que busca a conformidade às normas ESG está ativamente analisando a confiabilidade e a acessibilidade econômica da rede elétrica, as temperaturas de cada região do Brasil, a disponibilidade de água e de energia sustentável gerada localmente e renovável. Vale destacar o interesse cada vez maior pelo uso de energia eólica no data center.
Governança e transparência
É essencial ir além das políticas de sustentabilidade e prover a organização com suporte em governança. A extrema complexidade do data center demanda sofisticadas metodologias e soluções de governança – é necessário alinhar processos, pessoas e tecnologias para conquistar uma clara visão de tudo o que está se passando na organização. Não existe data center alinhado ao modelo ESG sem evidências para suportar esse alinhamento.
Mais e mais pessoas e organizações estão realizando escolhas baseadas no nível de conformidade do data center com o modelo ESG. Nesse contexto, a solução de gerenciamento do data center precisa ser auditável e atuar de forma integrada com as plataformas ERPs e de negócios. O mercado brasileiro já conta com soluções e serviços de monitoração do data center que usam recursos de Inteligência Artificial para mapear o que se passa no ambiente e gerar, de forma automatizada, indicadores detalhados. Essa oferta é um dos elementos que podem suavizar a desafiadora jornada de transformação que o data center brasileiro enfrenta em 2022.