Formada por um grupo financeiro do Rio de Janeiro, fundado em 2012, focado em investment banking e inovação digital, a Piemonte Holding é hoje a responsável por uma das maiores aquisições no mercado de data center brasileiro este ano. Por meio da Elea Digital, holding com ativo total de mais de 1 bilhão de reais, a Piemonte Holding adquiriu cinco data centers do Grupo Oi; aquisição de grande importância para a empresa, que já possui investimento em um dos maiores data centers do Brasil, que é a GBT – Brasília (DF), instalação inteiramente dedicada a serviços financeiros e que tem a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil como clientes.

Instalados em Brasília (duas unidades), Curitiba, Porto Alegre e São Paulo, os cinco novos data centers, depois que forem aprovados pelo Cade e a Anatel, farão parte do conglomerado da holding de data centers da Piemonte, que recebeu o nome de “Elea Digital” por conta do célebre pensador mediterrâneo Parmênides, fundador da “Escola de Elea”.

“Parmênides descrevia a essência, o ser, como uma esfera; o que nós visualizamos como a Lua, que é justamente a logo da Elea S.A. O conceito do nome Elea e de sua logo é que o investimento em tecnologia, o mundo virtual, a infraestrutura digital, não devem nos afastar dos princípios básicos, antigos, baseados nas obras tangíveis e na gestão com ‘pé no chão’. Mesmo que estejamos sempre mirando alto e ‘olhando pra lua”, conta o CEO da Piemonte Holding, Alessandro Lombardi, que em entrevista traz detalhes das negociações para a compra dos data centers do Grupo Oi. Leia, a seguir.

Tatiane Aquim: Em que estágio está hoje a compra dos data centers do Grupo Oi e quais são os próximos passos?

Alessandro Lombardi: Estamos animados em fazer parte da solução de uma das maiores recuperações judiciais da história e orgulhosos que o projeto de infraestrutura digital da Piemonte Holding possa contribuir de alguma forma, mesmo que mínima, para a recuperação da Oi, da qual depende boa parte da conectividade do país.

O estágio atual é de revisão de detalhes, escalação da equipe e alinhamento sobre o “Plano de 100 dias”. Este plano é uma metodologia que adotamos e é oriunda das campanhas presidenciais americanas, em que cada candidato tem estrutura pronta para assumir assim que é declarado um vencedor.

Assim que o processo for concluído, começa esse período de transição entre uma administração e a outra. Estamos prontos para assumir esta operação e garantir a continuidade ao serviço de Colocation, que é a disponibilização de infraestrutura para hospedagem de servidores e serviços de Cloud. Vamos iniciar um investimento programado, de longo prazo, de avanço tecnológico em um parque de data centers com presença territorial única. Faltam poucas semanas, se não dias.

T. A.: Após a conclusão da compra dos data centers do Grupo Oi, a Piemonte Holding pretende continuar investindo no setor de data center?

A. L.: O plano decenal de negócios da Piemonte Holding, elaborado em 2018, prevê investimentos proprietários em três relevantes setores da economia digital. O primeiro deles é o de infraestrutura digital: data centers, cabos e rede, sendo este primeiro o mais volumoso. O segundo é o da tecnologia Blockchain aplicada ao mercado financeiro. No fim de 2019, a Piemonte Holding foi a primeira empresa da América Latina a realizar a emissão de debêntures em tecnologia Blockchain, e temos um novo produto pioneiro envolvendo esta tecnologia previsto ainda para este ano. E o terceiro deles é na área de Cibersegurança, em que visamos o setor de defesa.

O projeto de infraestrutura digital, iniciado há três anos e ancorado em data centers de alta complexidade, está em plena fase de alocação e expansão, focado no serviço de Colocation, sob medida para grandes clientes. Temos potencial para continuar crescendo por anos à frente, ainda além do nosso plano decenal, pois consideramos que investimentos em data centers devem ser abordados sob uma perspectiva de perenidade.

T. A.: Há previsão de compra de outros data centers?

A. L.: Sim. Temos projetos de expansão não-orgânica que já estão bem avançados. O timing não depende apenas de nós, mas também de quem os vende.

T. A.: Como a Piemonte Holding avalia o mercado de data center brasileiro?

A. L.: O mercado brasileiro de data centers é mais maduro e diferenciado do que se imagina. Décadas de juros altos e a quase ausência de um empreendedorismo de consolidação do setor obrigaram as grandes corporações brasileiras a construir e até mesmo gerir seus próprios data centers. Grandes bancos privados, companhias de petróleo, o setor elétrico e o de comunicações, por exemplo, são donos de seus próprios centros de dados.

Por isso, para projetos como o nosso, ou um mais maduro, como o da empresa Ascenty, existe uma formidável oportunidade: oferecer foco e eficiência a um mercado com uma demanda já formada, de tamanho relevante e em pleno crescimento.

Também vale destacar o papel da matriz energética brasileira, a base renovável, que, com seus recursos hídricos, solares e eólicos, também pode vir a fazer um diferencial de destaque na construção e expansão do mercado de data centers.

T. A.: Como a Piemonte Holding define o mercado brasileiro neste momento de pandemia e qual é a perspectiva da empresa para o pós-pandemia?

A. L.: A pandemia da Covid-19 acelerou o processo de Transformação Digital da sociedade e da economia: home office, uso das redes sociais, pagamentos instantâneos e expansão da demanda de conexão via fibra.

O mercado brasileiro luta contra anos de investimentos pouco eficientes e por vezes até equivocados em sua infraestrutura: saneamento, distribuição elétrica, saúde pública e educação, por exemplo. Além disso, o mercado ainda enfrenta uma máquina pública burocrática, lenta, baseada no atendimento pessoal (as famosas filas pra tudo), e, às vezes até sem querer, injusta.

Se este mercado nacional passar a investir com foco em tecnologia e infraestrutura digital, num novo cenário de atendimento virtual, home office, com meios de circulação de moeda (instantânea, como no caso do Pix), que estão em patamares impensáveis somente alguns meses atrás, acredito que finalmente poderá vir a competir com os grandes mercados globais.

Uma infraestrutura digital eficiente, dedicada ao seu próprio mercado e não aos ganhos de curto prazo pode mitigar o efeito adverso dos demais problemas históricos do sistema brasileiro.