Scala AI City
– Perspectiva renderizada da Scala AI City após a conclusão das obras

O governo do Estado do Rio Grande do Sul e a Scala Data Centers assinaram, nesta quarta-feira, o protocolo de intenções para criar o primeiro distrito de Data Centers do país, com investimento de R$ 3 bilhões (US$ 500 milhões) na fase 1. A construção do campus completo envolverá um investimento estimado em R$ 300 bilhões (US$ 50 bilhões).

A estrutura será instalada em um terreno de 7 milhões de metros quadrados no município de Eldorado do Sul, a 32 quilômetros de Porto Alegre. Já adquirida, a área equivale a aproximadamente 700 hectares ou cerca de 1.000 campos de futebol.

Trata-se do maior empreendimento de infraestrutura digital da América do Sul, com capacidade inicial de TI de 54 MW e potencial para chegar a 4.750 MW. Apenas com os 54 MW iniciais, a Scala AI City já superará, por exemplo, a capacidade dos Data Centers atualmente instalados nos mercados da Argentina e do Uruguai. A capacidade total equivale a todo o consumo energético do estado do Rio de Janeiro.

O nome do cliente é mantido em sigilo, mas trata-se de um dos hyperescalers, ou seja, uma das organizações líderes globais do mercado de serviços nuvem e que processam grandes volumes de dados, como Google, Microsoft e Amazon.

O projeto representa um avanço em grande escala com o objetivo de responder às necessidades de inteligência artificial, que exigem uma quantidade de processamento e armazenamento de dados cada vez maior.

“Essa é a nossa resposta para a demanda de inteligência artificial. O que a IA está trazendo é maior do que uma oportunidade para a empresa, é uma oportunidade para o país. Quando olhamos para todos os aspectos em que a América Latina ficou para trás em termos de latência, falta de maturidade das aplicações, receio dos clientes de evoluir por conta do dólar e a falta de regulação, isso mudou. Agora estamos numa posição de vantagem, porque temos a infraestrutura básica de transmissão e a capacidade de geração de energia sustentável que ninguém no mundo tem”, afirma Marcos Peigo, CEO da empresa.

O investimento é realizado em meio à falta de disponibilidade energética em grandes mercados, como em Virgínia, o principal hub de Data Centers do mundo. Segundo Peigo, atualmente existe uma demanda de 4 GW a 6 GW de energia que não pode ser atendida na região norte-americana, o que configura uma oportunidade para o Brasil:

“Se você quiser abrir um novo campus de Data Center na Virgínia, precisará esperar cerca de sete anos na fila para ter energia. Enquanto isso, nosso país tem 12 GW de energia prontos no grid de transmissão, e conseguimos travar 5 GW desses 12 GW”.

Segundo a Scala Data Centers, o parecer de viabilidade técnica de conexão foi recebido na semana passada. A primeira fase, que terá foco híbrido com cloud e IA, deve estar pronta para entrar em operação dentro de dois anos, incluindo o período para liberação das obras e de 12 a 18 meses de construção.

A empresa afirma que a expansão para a estrutura completa dependerá do ritmo das demandas da região. Após a fase 1, a ampliação será dedicada exclusivamente a operações voltadas para inteligência artificial.

O projeto utiliza o design FutureProof, permitindo a instalação de racks que suportam cargas de trabalho intensivas em treinamento de IA, com capacidades crescentes e superiores a 150 kW, em contraste com os 20 kW ou menos voltados para outros usos. O sistema também prevê o uso de liquid cooling – um método de resfriamento por fluido refrigerante que oferece maior eficiência energética para esse tipo de aplicação.

O empreendimento contará com 100% de energia renovável e certificada. Com o auxílio do clima mais ameno do sul do Brasil, os Data Centers serão mais eficientes e terão um PUE (Power Usage Effectiveness, que mede a eficiência energética) não superior a 1.2, o mais baixo da América Latina, e um WUE (Water Usage Effectiveness) de zero – ou seja, não utilizarão troca de água em seus sistemas de refrigeração.

Ponto estratégico para conexão na América do Sul

Beneficiada pela futura conexão com o cabo submarino Malbec, que liga São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires, com previsão de passar pela capital gaúcha, a região foi escolhida por servir como local de conexão para os países do Cone Sul. A intenção é de que o campus sirva para a estratégia da Scala de oferecer infraestrutura digital a diferentes países da região:

“Olhamos com bastante atenção América Central, Peru e o Cone Sul da América do Sul. Ainda é uma dúvida para mim se conseguiremos atender todo o Cone Sul pelo sul do Brasil ou se teremos que avançar para Paraguai, Uruguai etc.”, conta Peigo.

Fundada em 2020, a empresa já conta com dez Data Centers em operação no Brasil, um no Chile e um no México. Um deles está localizado em Porto Alegre, foi inaugurado em 2023 e envolveu um investimento de R$ 240 milhões.

Enquanto as atividades ocorrem nessas 12 instalações, a Scala já avança ambiciosamente para chegar a 33 unidades, incluindo a sua primeira operação na Colômbia.

Um impulso econômico histórico para a região

“O anúncio de um investimento em uma região tão afetada pelas enchentes já é extremamente significativo, mas vai além disso. Precisamos ser ambiciosos e ousados neste projeto, não apenas sonhando, mas trabalhando ativamente para sua realização. Nosso compromisso é atuar diligentemente em âmbito nacional para criar um ambiente regulatório favorável aos data centers e às questões ligadas à inteligência artificial”, garantiu o governador Eduardo Leite. “Este momento é como uma onda que nos oferece a chance de ser surfada, mas é passageira. Se não construirmos imediatamente este ambiente favorável, corremos o risco de ver a transição energética acontecer em outros países, deixando-nos para trás. Agir agora é crucial para garantir que o Brasil não fique no final da fila nesta importante transformação global”, concluiu.

A construção da Scala AI City gerará mais de 3 mil empregos diretos e indiretos na primeira fase, além de movimentar um ecossistema que envolve setores como energia, construção civil, telecomunicações.

“Estamos não apenas elevando o Brasil a um novo patamar tecnológico, mas também impulsionando a recuperação econômica e social do estado, gerando milhares de empregos e promovendo o desenvolvimento sustentável de diversas indústrias. A Scala AI City será um marco de inovação, posicionando o Rio Grande do Sul e o Brasil como líderes globais na revolução da inteligência artificial. Este é um momento histórico que redefine o futuro da tecnologia e da economia na região, com o potencial de mudar o futuro de nosso país”, comentou Marcos Peigo.

Eldorado do Sul foi um dos municípios que tiveram maior impacto com as enchentes deste ano. Dos 39.556 habitantes, cerca de 32 mil tiveram que sair de casa devido ao avanço da água.

“A gente já havia garantido esse terreno. A tragédia toda aconteceu e assustou, mas acabou sendo a maior validação que a gente podia ter. A área do campus ficou a 18 quilômetros da água em um sentido e 22 no outro. E é um terreno que está em um local mais alto”, afirma Peigo.

Para o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Ernani Polo, o anúncio demonstra que o mercado de tecnologia no RS é atrativo e está em expansão: “Somos um estado inovador, com muitas iniciativas voltadas para a área tecnológica. O investimento da Scala comprova que o estado tem muito a oferecer ao setor, como a proximidade com os países do Mercosul e um ambiente de negócios favorável”.