Escolhida pelo Google como “prime contractor” para gerenciar e executar a implantação do Cabo Júnior, rede submarina de alta velocidade, que interliga a Praia da Macumba, no Rio de Janeiro (RJ), à Praia Grande, na Baixada Santista (SP), a brasileira Padtec forneceu solução turnkey para a rede, que se interconecta aos cabos submarinos Monet (que conecta Santos e Fortaleza a Boca Raton, na Flórida) e Tannat (que conecta Santos a Maldonado, no Uruguai), o que amplia a infraestrutura de transmissão de dados na América Latina.
Em entrevista exclusiva, Manuel de Andrade, CEO da Padtec, fala sobre os detalhes da implantação do cabo, que foi inaugurado antes do previsto, em julho de 2017. Leia, a seguir.
DatacenterDynamics: Como surgiu a proposta do projeto?
Manoel Andrade: Quando falamos em redes submarinas de transporte óptico, falamos de um amplo volume de informação por distâncias intercontinentais, um mercado extremamente desafiador e promissor. Para entrar nesse mercado, houve fase inicial para comprovar a competência técnica da Padtec, uma segunda fase de testes para mostrar a qualidade, confiabilidade e o desempenho do produto e, depois dessa fase, começaram as negociações comerciais.
Quatro anos depois do início desse projeto, o Cabo Junior foi o primeiro sistema óptico submarino comercializado pela Padtec. Nele, a empresa atuou como uma fornecedora turnkey, responsável pelo fornecimento de equipamentos de transmissão óptica (terrestres e submarinos), cabos ópticos, serviços de implantação marítima, conexão com a planta terrestre e o gerenciamento da obra de implantação. Para esse projeto, a Padtec participou de um rigoroso processo de seleção do Google. Ganhar esse projeto é resultado dos esforços da empresa em atender esse mercado com uma solução que oferece alta capacidade de transmissão e, ao mesmo tempo, atende às exigências de altíssima confiabilidade, desempenho e robustez.
Vale destacar que a Padtec não gerencia a conectividade do Cabo Junior.
DCD: Quais foram as soluções escolhidas pela Padtec para dar suporte ao cabo e por quê?
M.A.: Foram fornecidos para o sistema os equipamentos da Plataforma LightPadSubmarine da Padtec, baseada na tecnologia DWDM (Dense Wavelength Division Multiplexing).
A solução completa (turnkey) da Padtec para redes ópticas submarinas, tanto para atender aplicações regionais como sistemas de ultralonga distância, inclui também equipamentos externos de alimentação de energia para os amplificadores ópticos; sistema de supervisão, responsável pelo monitoramento contínuo do estado do cabo e dos repetidores ópticos. Também fazem parte da solução a conexão com a planta terrestre (SLTE –Submarine Line Terminal Equipment), o gerenciamento da obra de implantação e os serviços de manutenção da planta submarina, que requer equipes altamente especializadas capazes de atuar de forma rápida e precisa.
Além disso, faz parte dessa solução, o repetidor óptico submarino da Padtec, um dos elementos mais importantes – e críticos – do projeto e resultado de um esforço da empresa em pesquisa e desenvolvimento ao longo dos últimos anos.
DCD: Qual é a capacidade do cabo submarino?
M.A.: O cabo submarino, chamado de Júnior (em homenagem ao pintor e desenhista brasileiro José Ferraz de Almeida Júnior), liga a Praia da Macumba, no Rio de Janeiro (RJ), a Praia Grande, na Baixada Santista (SP). A solução turnkey fornecida pela Padtec tem, aproximadamente, 400 quilômetros de extensão e oito pares de fibra. O Cabo Junior se interconecta com outros operados pelo Google visando ampliar a infraestrutura de transmissão de dados na América Latina.
DCD: Qual é o principal benefício em ter uma conexão direta Rio de Janeiro x São Paulo?
M.A.: Considerando que São Paulo e Rio de Janeiro são as mais importantes metropóles do Brasil, a conexão entre essas cidades, através dos sistemas ópticos de alta capacidade, contribuí diretamente para a vazão do tráfego de dados no país.
DCD: O crescimento da implantação de data center em São Paulo influenciou na capacidade do cabo?
M.A.: As novas aplicações (como transmissão de vídeos em altíssima definição, realidade aumentada e o 5G) apontam para um aumento de tráfego e de demanda por banda, cada vez maior, não só nas redes terrestres de comunicações como também nas redes submarinas.
Nesse sentido, a construção de data centers em metropóles (como São Paulo e Rio de Janeiro) para dar conta dessa demanda, que vem crescendo rapidamente, impactam diretamente na necessidade de redes com uma capacidade de tráfego também cada vez maior. Todo aumento da banda ajuda a aumentar a velocidade e baratear o custo dos serviços de internet e voz.
DCD: O Brasil está vivendo um momento de aquecimento do mercado de cabo submarino. Este momento vem impactando positivamente os negócios da Padtec?
M.A.: Sem dúvida. A Padtec é a única empresa sul-americana a fornecer uma solução completa (turnkey) nessa área, por isso, o aquecimento dos investimentos em redes submarinas no Brasil representa também mais oportunidades de atuação nesse mercado para a Padtec.
DCD: Esse aquecimento do mercado vem sendo muito comemorado pela Padtec?
M.A.: Demos um importante passo ao entrar no mercado de transmissão submarina, com destaque para o Cabo Junior (Google), que demonstrou a qualidade e a confiabilidade da nossa tecnologia para o mercado. Com o sucesso desse projeto, esperamos ampliar a atuação nesse mercado em nível global.
DCD: O recebimento de novos cabos no Brasil por Fortaleza colocará o Brasil no protagonismo na América Latina?
M.A.: É uma forte tendência. Além de ampliar as capacidades de transmissão de dados gerados pelas novas aplicações IP e de vídeo, a chegada de novos cabos também diversifica as rotas de comunicação existentes atualmente.
DCD: Além do Cabo Junior, a Padtec está envolvida em outros projetos?
M.A.: A Padtec está na fase de prospecção para novos projetos de sistemas submarinos no Brasil e no exterior. Por isso, essas informações ainda são confidenciais.