Já aceitamos o fato, estamos em uma era na qual a atenção é uma commodity (e dessas bem escassas). Selecionar os temas, produtos e serviços conforme os interesses do mercado é regra. Criar. Produzir. Promover. Vender. Não importa o verbo, não importa o setor. A lei da oferta e demanda é clara.

Felizmente, parece que a sustentabilidade entrou para a seleta lista de temas em foco e agora é outra commodity, que, ao contrário da atenção, parece se expandir, aterrizando, inclusive, nos planos estratégicos de gestores de data centers ao redor do mundo.

Em entrevista, o Gerente Sênior de Operações de TI da Vivo (Telefônica Brasil), Sérgio Moraes, deixou claro que investir em ações de sustentabilidade não é mais um extra, senão uma obrigação. Um dever das empresas. Um dever do ser humano. “Vivemos um momento em que todos — clientes, investidores e colaboradores —, esperam que as empresas se posicionem e atuem sobre temas diversos e de interesse da sociedade, e a sustentabilidade é um deles. Ter uma atitude sustentável é, portanto, uma questão de sobrevivência para as empresas”, pontua.

Paulo de Andrade, Especialista em Data Centers e com passagem por empresas como Kyndryl e IBM, une-se a Moraes e afirma que a discussão sobre sustentabilidade deve ser incorporada às estratégias dos data centers desde a construção até a operação, pois, dentre outros benefícios e vantagens, isto significa um consumo mais eficiente e consciente dos recursos naturais.

Ademais, pensar em processos sustentáveis desde o desenho do projeto é um ato estratégico, pois, “para data centers já em operação, as possibilidades de torná-lo ‘mais sustentável’ são limitadas em relação àqueles que temos essa preocupação desde a etapa de projeto”, complementa Fernanda Siqueira, Coordenadora de ESG & EHS LATAM da ODATA.

Indo mais além do planejamento, construção e operação, a aplicação e a transparência em relação às ações de ESG nos centros de dados trazem outras vantagens, uma vez que impulsionam a visibilidade e fortalecem a reputação das marcas no mercado e junto à sociedade, aumentando o valor percebido e, sem dúvidas, brindando às empresas a oportunidade de atrair novos investidores.

Tecnologias em ação

Grandes consumidores de energia, os data centers são instalações vitais para manter o mundo como conhecemos funcionando e, justamente por isso, gestores precisam unir-se à mudança, indo além do discurso e incorporando ações socioambientais dentro e fora de suas operações. Nesse sentido, Jorge Krug, Diretor de Tecnologia da Informação e Inovação no Barinsul, comenta que “novas formas de gestão, visando a sustentabilidade, obrigatoriamente trazem novas tecnologias que, por sua vez, melhoram a eficiência e reduzem custos operacionais”.

De fato, um estudo recente da Ernst & Young (EY) indica que 54% das empresas, a nível global, acreditam que as tecnologias emergentes podem desempenhar um papel vital na aceleração do progresso de seus negócios em sustentabilidade.

EY
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No Brasil, não é diferente. Segundo a empresa de auditoria e consultoria, 98% dos entrevistados dizem que a agenda ESG é a principal ou uma importante consideração no momento de informar seus planos ou decisões de investimento em tecnologias emergentes.

Para Alex Paiva, Líder de Tecnologia da Informação da Sicoob, no contexto de data centers, os investimentos em tecnologias devem ser considerados, sobretudo, para os equipamentos de cooling, visando a eficiência energética e a mitigação dos impactos ambientais, isso porque "quase 43% da energia consumida por um data center é utilizada pelos sistemas de climatização, as medidas mais eficazes estão praticamente voltadas para esta parte da infraestrutura. Por isso, somado às demais ações que buscam o melhor uso dos recursos energéticos, creio que o gerenciamento do fluxo de ar (enclausuramento de corredores), o uso de free colling (direto ou indireto) e a utilização de equipamentos de refrigeração liquida são algumas das medidas mais eficazes para melhorar os índices de eficiência energética em uma operação de data center”.

Próximos episódios…

Os especialistas parecem concordar que a temporada de investimentos em ações e soluções de sustentabilidade será renovada. E existem alguns passos que podem aprimorar a implementação de técnicas e medidas sustentáveis nos data centers.

“Avançar com a evolução de novas tecnologias voltadas para energias renováveis, utilizar refrigeração líquida em grande escala, investir em banco de baterias movidas a hidrogênio e, por fim, aprimorar os recursos de gerenciamento de energia que possibilitem rápida detecção de potenciais pontos de desperdício” são as apostas de Fernanda Siqueira.

Complementarmente, Sérgio Moraes, acredita que a utilização de inteligência artificial, a adoção de padrões ambientais mais rigorosos, a implementação de práticas de economia circular e a busca por parcerias estratégicas formam parte das principais tendências para os próximos anos.

Mas, não para por aí. Se você se permitiu redirecionar sua atenção para este texto, e o leu até o final, não perca o Broadcast DCD>Sustentabilidade Brasil, pois a melhor parte desse assunto deixamos para debater por lá!