A crise logística global vem afetando os projetos de construção e expansão do Data Center no Brasil. O impacto ocorre não só no escopo e no cronograma dos empreendimentos, mas também no que se refere ao fornecimento de materiais para os centros de dados. Para Gustavo Pérez, Diretor de Vendas da Vertiv na América Latina, a cadeia de suprimentos representa um dos maiores desafios para o setor de Data Centers em 2023.
Segundo Pérez, entre os diversos fatores que contribuíram para a crise estão a falta de matéria prima, contêineres, a inflação, o racionamento de energia e a guerra na Ucrânia. Embora o panorama seja mais otimista que anos anteriores, ainda sofremos os efeitos e esperamos um impacto nos tempos de entrega em 2023.
Algumas das estratégias para enfrentar os impactos na cadeia de fornecimento, de acordo com o diretor da Vertiv, são: utilizar soluções modulares, traçar um planejamento e normalizar produtos que possam ser utilizados em diferentes regiões ou inclusive países.
“Com a alta demanda que os hyperscales estão gerando, surge a necessidade de melhorar o time to market, a velocidade de implementação de novos Data Centers. Também surgem novas técnicas de construção e a necessidade de contemplar soluções modulares que reduzam consideravelmente o tempo de colocar em operação, que foi duplicado durante a época da pandemia”, afirma Pérez.
Ele explica que a escalabilidade que oferecem as soluções deve ser acompanhada por “uma engenharia adequada, uma pré-configuração, provas de funcionamento e pré-validação em fábrica que ajudem a reduzir os `totais´ de implementação, além de uma equipe altamente qualificada de técnicos de serviço na etapa de start up que garantam a correta operação do Data Center”.
Os dois lados da moeda
Analista de Tecnologia da Informação da Wiki Telecom, Marcos Sá também analisa que o fornecimento de insumos e componentes ainda não teve sua cadeia de produção, comercialização e entrega normalizada. “Primeiro pelo impacto da pandemia do covid-19, e agora mais recente com a guerra da Ucrânia que impacta nas commodities de forma geral. Isso tudo reflete localmente nos preços nos itens e componentes, nos prazos de entrega, nos custos da importação e também na produção”, explica.
Segundo Marcos Sá, para solucionar essa questão precisamos pensar nos dois lados da moeda. “Como cliente, fornecedor e empresa, possuímos um custo Brasil muito elevado. É necessário escalonar as questões de entrega dos projetos, os que estão em andamento e os futuros. Em curto prazo, o problema de logística não deve ser resolvido de forma imediata, nos remetendo a um estudo mais aprimorado dessa variável”.
Brasil tem “lacuna” em infraestrutura
Marcio Kenji, Regional Segment Manager, Cloud & Service Provider, da América do Sul na Schneider Electric, opina que em diversas áreas de infraestrutura no Brasil, vemos uma “distância” em relação à infraestrutura existente em países como Estados Unidos, Europa e Ásia.
"Essa lacuna existente na falta de oferta de infraestrutura impacta a alta demanda e, com isso, existe uma pressão importante e constante da cadeia de TI por um aumento da capacidade instalada de Data Centers na região. Os desafios são o desenvolvimento de infraestrutura, para garantir aderência e eficiência na geração de redes de Data Centers”, disse.
Kenji também ressalta o peso da crise logística global nos prazos de entrega dos projetos.
“O que antes demorava entre 2 ou 3 semanas, levou até 4 meses para ser produzido. Para novos Data Centers ou para a substituição de algum equipamento isso é um problema, pois não tem como as companhias esperarem tanto tempo. O Brasil é um grande protagonista na América Latina no setor de Data Centers, possuímos uma alta demanda e um mercado robusto, contexto que atrai oportunidades de investimento para o País”, afirmou.
Peigo destaca verticalização
Marcos Peigo, CEO e CoFounder da Scala Data Centers, afirma que é preciso olhar a dinâmica da cadeia de suprimentos de forma eficiente e inovadora. “É fundamental que o ecossistema busque utilizar os recursos de forma a garantir a implementação e escalabilidade dos projetos, além de mitigar riscos e gargalos para as operações dos Data Centers. Por isso, verticalizamos os nossos processos para ter total controle da implantação de novos Data Centers”.
Ele complementa: “A verticalização é feita por meio do nosso Centro de Excelência em Engenharia, com mais de 150 profissionais que gerenciam toda a cadeia de projeto e construção dos nossos sites na região. Essa verticalização nos permite antecipar quais recursos serão necessários para desenvolver nossos projetos, garantindo que eles sejam entregues no menor prazo possível, que é uma das principais demandas dos clientes hyperscale”.
De acordo com Peigo, é importante ter uma abordagem de construção múltipla. “Em relação a soluções, além de disponibilizarmos ao mercado o FastDeploy e a venda de capacidade reservada, utilizamos uma abordagem de construção múltipla, que permite aos nossos clientes apoiar o crescimento dinâmico dos seus negócios de forma sustentável, e contamos com um estoque prévio de equipamentos, que estão à disposição para utilizar assim que iniciamos a implantação de um novo Data Center”, explica.
Edge em foco
Alessandro Lombardi, CEO da Elea Digital, afirma que com um prazo maior para a entrega de equipamentos, planejar-se é essencial. “A única forma de solucionar isso é o foco total nas entregas importantes, nos compromissos maiores em nossas metro áreas, e um processo de supply chain extremamente organizado e que antecipa os problemas”, destacou. Além da capacidade de entrega de equipamentos, outro grande desafio do setor, para Lombardi, será o funcionamento do Edge Computing.
“Para nós, ecossistema significa conectividade, rede neutra e peering. Os maiores desafios serão a capacidade de entrega e a demonstração que o ecossistema Edge, longe das pontas, poderá funcionar no Brasil como aconteceu no resto do mundo. Ou seja, a partir de sites hiperconectados, com múltiplos operadores, retrofitados e preparados para a sofisticação da demanda atual”, disse o CEO.
Lombardi complementa: “É claro que, ao mesmo tempo, o Edge `pequeno´, ou micro edge, em container, com baixo custo e maior rapidez de entrega porém menos resiliência, deverá demonstrar ser adequado para o atendimento neste país. Algo que não é óbvio de acontecer e que ainda é uma aposta”.
Duarte analisa expansão
Para Fabiano Duarte, Diretor de Infraestrutura de Data Center da Claro, existe uma concentração de Data Centers em poucas regiões do País, o que pode trazer desafios de expansão. “Isso fará com que sejam criadas zonas de disponibilidade, em regiões que possuam capacidade e recursos de espaço, energia, água, conectividade e pessoas. As demandas de retail e que exijam baixa latência devem acelerar a procura por Edge Data Centers. O grande desafio será planejar essas demandas em um cenário de incertezas econômicas e de logística”, analisa o especialista.
Ele ressalta possíveis soluções para reduzir os impactos da crise global. “Atualmente, a crise logística tem afetado os prazos e entregas de espaço de Data Center no país e deve continuar por algum período para o mercado como um todo. Há uma demanda represada no Brasil e isso deve gerar inércia para que os prazos de entrega de equipamentos sejam regularizados. Para contornar isso, é necessário buscar prazos com diversos fornecedores, fortalecer o planejamento antecipado das demandas e ter soluções alternativas para mitigar os riscos de impacto”, disse Duarte.
Modernização
Consultor do Uptime Institute, Eder Gallardo aponta a importância da tecnologia para entregar o máximo de qualidade na disponibilidade dos serviços.
“É desafiador criar um ecossistema que seja comunicável com as novas tendências de mercado em termos de gerenciamento e controle dos dados operacionais do Data Center. Falando em escalabilidade e pensando nos desafios que a evolução tecnológica traz a cada ano, o ecossistema de construção deve pensar mais além, suplantar a solução que está embasada na necessidade de capacidade e disponibilidade baseada na demanda e projetar a gestão dos sistemas e sua capacidade de conexões”, afirma.
Segundo Gallardo, a solução está “tanto para comunicar-se com sistemas de monitoração e controle cada vez mais modernos, como o DCIM, por exemplo, quanto para permitir esta escalabilidade sem inserir riscos à capacidade atual. Ou seja, os sites de Data Center escaláveis devem garantir que qualquer risco será imposto à carga crítica frente a qualquer ampliação ou mudança”.