O mercado de Data Centers na América Latina vive um momento vibrante e, em especial, o México, país onde há uma aceleração na construção de data centers em hiperescala. Isso se deve à entrada de novos players da nuvem e de outras indústrias para se instalar no México e, em particular, em Querétaro, entre outras coisas, por sua localização, por ser uma zona de baixa sísmica e por ter vastas telecomunicações redes e também pela rede elétrica nacional que percorre a área metropolitana de Querétaro.
Nesta entrevista, conversamos com Miguel Ángel Ramos, diretor Global de Operações de Data Center da KIO Networks, que fala sobre os desafios enfrentados pelas empresas de Data Center para atrair e reter talentos profissionais no setor.
Por que está cada vez mais difícil atrair e reter talentos no setor de Data Center? Quando este tema deixará de ser uma preocupação na indústria?
A indústria de Data Center está dando passos gigantescos com a alta demanda por espaços especializados de alta disponibilidade para hospedar serviços digitais impulsionados por novos esquemas de trabalho remoto, principalmente devido à pandemia, aumento de compras online, altas taxas de crescimento de videogames, consultas médicas remotas, entre outros.
A aceleração dos serviços digitais criou a necessidade de Data Centers mais confiáveis e, como parte da confiabilidade, são necessários mais especialistas para construí-los e operá-los.
2022 é um ano crucial para alcançar um equilíbrio entre a procura e a oferta de trabalho especializado para projetar, construir, manter e operar Data Centers, e para isso será importante acelerar a preparação de novos talentos com planos de formação estruturados e focados nas competências exigidas para cada posição.
Infelizmente, não há carreira profissional ou técnica nas universidades para projetar ou operar Data Centers, com graduados especializados em sistemas elétricos, refrigeração, segurança e também com conhecimento das melhores práticas, frameworks de referência e normas relacionadas, como TIA- 942, BICSI-001, Uptime Institute, ICREA, ASHRAE TC9.9, ISO-14001, ISO-14644, ISO-22301, ISO-27001, NFPA, IEEE, IEC, CEEDA e LEED, para citar apenas alguns.
Uma boa notícia é que temos entidades globais de formação profissional com instrutores que projetam, constroem ou operam Data Centers. Um exemplo de referência no setor é o DCPro, que se destacou por ter um percurso de aprendizagem abrangente de acordo com as funções a serem desempenhadas, com um esquema teórico e altamente prático, e o mais valioso é que eles são baseados em experiências reais para acelerar o desenvolvimento de talentos.
Além de desenvolver talentos para o Data Center, por meio de um plano de treinamento estruturado e contínuo, será fundamental realizar planos robustos de atração e retenção de talentos, como parte estratégica da empresa.
O Capital Humano desempenha um papel essencial na realização dos planos de formação, bem como nos planos de retenção e atração de talentos, de acordo com os requisitos das áreas de construção e operação do Data Center, pelo que devem ser criados esquemas de formação atrativos e compensações por fidelidade.
O desafio para 2022 será atingir um ponto de equilíbrio entre oferta e demanda de trabalho especializado, com aceleração na formação de talentos, alocando verba suficiente para cursos específicos.
Que iniciativas o setor está implementando para evitar a perda de talentos e atrair novos profissionais?
Todos os profissionais da indústria de Data Center gostam de fazer o que gostam e são apaixonado pela profissão. Por isso o processo de recrutamento é essencial para identificar o preenchimento do perfil da pessoa para o cargo e também oferecer uma carreira de formação contínua, como trabalho em equipe, capacidade de análise e resolução de problemas, comunicação assertiva e liderança, entre outros.
É importante destacar que como parte da formação, é possível planificar cursos gratuitos com diferentes fabricantes de empresas especializadas contratadas para manutenção da infraestrutura de seu Data Center, assim como investir em entidades com cursos integrais como a DCPro e o Uptime Institute.
A falta de profissionais pode colocar em risco a viabilidade do setor ou o funcionamento diário das infraestruturas de missão crítica?
Conforme mencionado acima, a indústria de Data Centers está passando por uma fase em que a demanda por trabalho especializado é maior do que o pessoal treinado disponível.
Assim como o Data Center de Missão Crítica possui sistemas elétricos e de refrigeração redundantes para manter a resiliência operacional, ele também deve contar com pessoal especializado suficiente para poder lidar com situações de saúde surgidas durante a pandemia e cobrir a operação 24 horas por dia, 7 dias por semana.
É importante considerar as recomendações do Uptime Institute de manter uma equipe com suporte por especialidade, para que em caso de doença ou outra situação de ausência, os processos de manutenção e operação continuem sendo realizados com a qualidade mínima esperada.
No caso de existirem vários Data Centers de uma mesma empresa, podem ser efetuadas deslocações de pessoal durante várias semanas entre as diferentes instalações para conhecer suas infraestruturas, desenvolver conhecimentos de diferentes tecnologias e também como medida de preparação em caso de ausências e para capaz de integrar a equipe rapidamente de outro data center.
Sem dúvida, o pessoal que trabalha em um Data Center assumiu um papel fundamental na manutenção da disponibilidade de um Data Center, e isso se acentuou durante a pandemia, eles têm sido os heróis anônimos que merecem nosso maior reconhecimento por seu valor, lealdade e profissionalismo.
Embora as ferramentas de monitoramento remoto e automação tenham contribuído para manter a disponibilidade dos data centers, a colaboração de engenheiros no local tem sido essencial na operação dos data centers. Aproveito para enviar os parabéns a todos os engenheiros que colaboram em todos os Data Centers. Muito obrigado a todos.
Os centros acadêmicos e universidades ainda não perceberam a necessidade de formar os profissionais específicos para o setor de data center? Eles estão atrasados nesta corrida contra o relógio?
Olhando para o futuro, acho que é hora de promover uma especialização em Data Center para acelerar o desenvolvimento de talentos no setor de TI.
Acredito que as universidades poderiam aproveitar para integrar em seus programas o conteúdo dos cursos das diferentes entidades como DCPro e Uptime Institute, aproveitando o caminho percorrido e o conteúdo produzido por centenas de profissionais durante os últimos 30 anos.
É importante lembrar que os profissionais treinados em Data Center não se limitam a projetistas, construtores e operadores, também é necessário pessoal especializado em outras áreas como pré-vendas, vendas, gerenciamento de projetos, compras, compliance, compras, jurídico, segurança, recrutamento, entre outros.
Chegou uma nova era de ouro para a indústria de Data Centers, unindo forças por meio de acordos e alianças entre entidades formadoras, poderemos acelerar o desenvolvimento de novos talentos altamente especializados. Portanto, mãos à obra!