Everything-as-a-service (XaaS) é uma realidade no Brasil e no mundo e, em 2020, irá crescer ainda mais. Foi-se o tempo em que pessoas e empresas precisavam adquirir um ativo para resolver seu desafio. Com a “uberização” da economia, impera um novo modelo de consumo em que a extrema velocidade da oferta de serviços elimina ou reduz a espera. No segmento de ICT Security, XaaS usa a Computação em Nuvem para entregar em todas as geografias e em todas as verticais, serviços que dispensam implementações on-premises. A meta é, por meio da correta combinação de serviços e processos, acelerar a inovação e os negócios.
Esse quadro é confirmado por pesquisa da Orian Research de 2019. Segundo esse instituto de análise de mercado, os players de XaaS deverão crescer 24% ao ano até 2024. Um levantamento da BetterCloud, por outro lado, aponta que, até 2022, 86% das organizações usarão Apps no modelo as a service, uma das vertentes do XaaS.
A revolução do XaaS está mudando a forma como os vendors do setor de ICT Security fazem negócios.
Se as empresas usuárias estão lutando para deixar de ser organizações estáticas e, com ajuda do XaaS, se transformarem em organismos vivos e fluidos, o desafio enfrentado por fornecedores como Cisco, Palo Alto e F5 Networks é maior ainda. A Hewlett Packard Enterprise (HPE), por exemplo, anunciou no final do ano passado que, até 2022, todo o seu portfólio só estará disponível em formato de serviços. Uma decisão como essa muda tudo na HPE: do desenho da tecnologia à entrega ao mercado, todo o modelo de negócios passa por uma profunda transformação.
Nos últimos 30 anos, o faturamento dessas empresas era baseado 80% em hardware e 20% em software. Questões como fabricar ou importar o hardware – equacionando os impostos envolvidos nessa operação –, projetos para implementar o hardware no data center da empresa usuária, planejamento para substituir esse hardware antes que ele se tornasse obsoleto – tudo isso ficou para trás.
O XaaS habilita a indústria a aumentar a abrangência de seus negócios num contexto em que o ticket médio de cada venda diminuiu. A meta é ganhar na quantidade de tickets vendidos de modo a alcançar empresas usuárias que, no passado, talvez não conseguissem bancar as mais sofisticadas soluções de ICT Security do mercado global. Uma das ambições que norteia essa transformação é, por exemplo, fincar raízes no mercado SMB.
O mercado brasileiro já é, em parte, SDN (Software Defined Network).
Eu acredito que a configuração ainda seja 80% on-premises, 20% SDN e afins. Globalmente, esse mercado está em franca expansão: segundo a IDC, até 2022 o faturamento gerado somente por ofertas SDDC (Software Defined Data Center) será de US$ 12 bilhões. Há razões para isso. O software paga muito menos impostos do que o hardware. E o modelo de negócios passa a ser baseado em vendas recorrentes, em valores que demandam investimentos menores da parte do cliente.
No antigo modelo, o vendor iria receber o valor X após 60 dias da compra. Hoje, o valor X será entregue ao longo de cinco, dez anos, com a tecnologia passando por atualizações constantes, na casa do cliente.
Hoje tradicionais vendors de networking lançam soluções num modelo virtualizado que pode ser licenciado por meio de assinaturas. A venda passa a acontecer por meio de contratos de serviços contínuos, ao longo de meses ou anos. Estamos falando de Enterprise Agreements muito semelhantes ao que os grandes vendors de software (Microsoft, SalesForce, etc.), oferecem há décadas ao mercado. Essa forma de atuar chegou, agora, à infraestrutura física da TI.
Nesse contexto, parte do mercado usuário consegue utilizar serviços em nuvem no formato de autosserviço. Quando a corporação usuária contar com ambientes complexos, com diferentes layers de tecnologias, sistemas legacy, etc., é recomendável contar com os serviços de um integrador que conheça o mundo multicloud, conheça o legacy e, a partir daí, construa sólidos caminhos de Transformação Digital.
O desafio de integrar software e serviços entre si e com o legacy é algo complexo.
Trata-se de um universo com “n” vendors de “n” tipos de ofertas – da nuvem a Apps, passando por roteadores, switches, servidores, firewalls, etc. Esses recursos, agora virtualizados, devem ser reunidos em um ambiente programável, automatizado, auditado e seguro.
Passa a ser tarefa do integrador garantir que a orquestração entre todos os elementos da nuvem esteja sendo feita da forma tecnicamente correta, mas, também, de acordo com as políticas de gestão e segurança da empresa usuária. Isso inclui o testing de cada oferta “as a service” e sua compatibilidade com o ambiente e a cultura da empresa usuária. São ações essenciais quando a TI se transforma num ser vivo com um funcionamento fluido, dependente de recursos externos à empresa. Isso exige mais, não menos, dos integradores.
Outro papel dos integradores no mundo XaaS é atuar como o ponto focal da oferta “as a service”. Nesse modelo, uma abordagem consultiva permite que o integrador desenhe a solução do cliente, especifique quais tecnologias serão efetivamente contratadas de forma mensalizada e empacote todo esse universo numa oferta única, entregue ao cliente.
A meta é evitar que a empresa usuária interaja com dezenas de vendors “as a service”.
Somente no mundo multicloud, por exemplo, é necessário lidar com gigantes globais com diferentes tecnologias, diferentes contratos, diferentes sistemas de billing, diferentes políticas de desconto e diferentes Apps de gerenciamento. Trata-se de um universo extremamente veloz e rigidamente regido por controles – inclusive jurídicos – que podem surpreender o usuário.
O XaaS ainda está no processo de ser conhecido pelo gestor de TI. Mas não há como seguir com o modelo Capex – o Opex é a alavanca do crescimento da nossa economia em 2020. O sucesso virá para quem contar com inteligência para entender o negócio e, a partir daí, traduzir o XaaS em inovação e prosperidade.
*Paulo Henrique Pichini é CEO e presidente da Go2neXt Digital Innovation.