Traduzido em português como Modelagem de Informação da Construção, BIM é um conjunto de tecnologias, processos e políticas que permite que várias áreas possam, de maneira colaborativa, projetar, construir e operar uma edificação ou instalação.

Por meio da metodologia BIM, é possível armazenar os dados inseridos em qualquer etapa do ciclo construtivo de uma obra em um modelo com dados únicos, mantendo-os sempre atualizados e disponíveis em uma só plataforma.

Ganhando cada vez mais espaço no Brasil, o BIM já é uma tendência consolidada nos Estados Unidos, Reino Unido e Singapura, país que implementou o sistema de aprovação de projetos mais rápido do mundo, entrando em vigor em 2008. No Brasil, a metodologia vem ganhando espaço e é a aposta principal da Engemon.

“Atuando há mais de 30 anos na construção civil, a Engemon tem como missão construir para transformar.  Temos a inovação como um dos nossos pilares para trabalharmos soluções disruptivas dentro do processo e assim gerarmos valor para os nossos clientes. É por isso que estamos sempre em busca de novas soluções de engenharia e tecnologia, as integrando em nossos projetos e obras”, destaca Sônia Keiko, VP de Novos Negócios e Inovação da Engemon Engenharia e Construção, que em entrevista fala sobre as vantagens da metodologia BIM na construção de Data Centers.

Desde quando a Engemon vem apostando na metodologia BIM?

Anos atrás, em um evento no Vale do Silício, tive contato pela primeira vez com a metodologia BIM (Building Information Modeling). Fiquei fascinada com os benefícios que as empresas obtinham ao aplicar o uso da metodologia e, ao ver o quanto ela já estava disseminada pelo mundo, resolvi trazer essa solução para dentro da Engemon. A metodologia é baseada em um conjunto de políticas, processos e tecnologias que apoiam no gerenciamento e na elaboração de dados de projeto, durante todo ciclo de vida do empreendimento. Na Engemon, o BIM não chegou apenas como software, isso é, como ferramenta para projetos, pois mergulhamos nesse universo com o objetivo de trazermos a metodologia em sua essência e, com isso, explorarmos ao máximo os seus benefícios.

Em termos de construção de data center, que vantagens o BIM traz?

Quando falamos de projetos de data centers, estamos nos referindo a projetos de alta complexidade e com integração de múltiplas disciplinas. Hoje, por meio da compatibilização de todas as disciplinas complementares, garantimos a visualização da construção, análise precisa e acompanhamento do projeto. Com isso, reduzimos os custos por meio da obtenção de quantitativos precisos, aumentamos a produtividade dos nossos times de campo e a qualidade das suas execuções, uma vez que diminuímos as interferências e os conflitos tão comuns quando falamos em grandes obras. Além disso, construímos modelos cujos mapeamentos de dados são atualizados para etapa de operação e manutenção do empreendimento, garantindo uma manutenção otimizada como vantagem operacional estratégica aos nossos clientes.

Engenharia 4.0, IoT, IA e BIM são indissociáveis?

Embora o setor da construção civil seja termômetro para o PIB do nosso país, representando pelo menos 30% do total da indústria brasileira, e o novo Caged, do Ministério do Trabalho, apresente a construção civil e as obras de infraestrutura como o maior gerador de número de vagas de emprego entre junho de 2020 e março de 2022, uma pesquisa realizada pela Cortex mostra que a construção ainda está muito distante no ranking dos que buscam e investem em novas tecnologias para auxiliar no desenvolvimento de negócios, como os setores de varejo e serviços.

Uma vez que as novas tecnologias estão constantemente evoluindo e precisam se conectar, vemos no BIM uma metodologia integradora para todo ciclo de vida do empreendimento. Isso é, uma metodologia que permite a alocação de diferentes tecnologias de forma personalizada para cada projeto e etapa do empreendimento. Enxergamos hoje, diversas soluções de software que já possuem essas integrações de forma nativa, nos dando ferramenta para desenvolver e apresentar, melhores soluções de engenharia.

A Engemon buscou algum case de sucesso em BIM para se inspirar?

Nós estudamos muitos cases. Um dos mais emblemáticos e que apresenta os múltiplos benefícios da metodologia é o projeto da Shanghai Tower, o edifício mais alto da China e o segundo maior do mundo, projetado pelo escritório de arquitetura Gensler. Com 128 andares e mais de 630 metros de altura, a forma da torre foi modulada com base no teste do túnel de vento, o que reduziu em cerca de 24% a carga estrutural do vento se comparado com prédios retangulares. Seria inimaginável, do ponto de vista gráfico, realizar a modelagem proposta ao edifício em 2D. Nesse mesmo projeto, além da modelagem de formas e otimização estrutural, o BIM permitiu uma redução de 30% no cronograma de obras.

Outro case interessante é o da Escola Experimental Primária e Jardim de Infância de Esportes Olímpicos de Hangzhou, na China, no qual foi possível integrar o espaço escolar com a comunidade local, promovendo um ambiente de convivência e lazer. O projeto, que apresenta cerca de 300 metros contínuos, utilizou da metodologia para criar passeios virtuais e imersos, entendo e otimizando a modelagem do projeto. Nesse mesmo case, foi feita a análise do ambiente eólico e a simulação de iluminação nas salas de aula, garantindo iluminação e ventilação natural, que melhoram - e muito - a performance da edificação. 

Em termos de sustentabilidade, como o BIM traz vantagens para a construção de data centers?

A modelagem da Shangai Tower e da Escola de Hangzhou, por exemplo, nos permite visualizar uma otimização estrutural expressiva, que diminui a quantidade de utilização de aço, ou seja, minimiza a necessidade de obtenção de matérias-primas como mineiro de ferro e carvão mineral. Além disso, vemos nos estudos de ventilação e iluminação natural, também permitidos pela modelagem, uma maior eficiência operacional da edificação, que diminuem a necessidade de utilizar recursos artificiais para conforto e convivência. 

Quando falamos de sustentabilidade atrelada à metodologia BIM estamos nos referindo a dimensão 6D do BIM. Na qual os dados extraídos incluem informações detalhadas sobre os elementos e ativos do empreendimento, como descrição de material, fabricante, vida útil, código de montagem e até mesmo cronogramas de manutenção.

A partir destes dados, somos capazes de tomar melhores decisões, trabalhando em soluções de reengenharia e garantindo a alta performance na gestão de resíduos e na utilização de recursos importantes, como os hídricos e energéticos. Além claro, de dar base para planejar e gerenciar as atividades de manutenção e operação do empreendimento como um todo.

Para você, VP de Novos Negócios da Engemon, como está o BIM no cenário brasileiro e qual o principal entrave hoje para aplicação dele na construção?

Sem dúvidas, o principal bloqueio que enxergamos no mercado é a falta de compreensão do BIM como metodologia e não apenas como ferramenta de projeto. Além, claro, da questão cultural, é importante estarmos abertos às mudanças e inovações tecnológicas, já que a forma de se construir está constantemente evoluindo. Os Decretos 9.377/2018, seguido pelo Decreto 10.306/2020, estabeleceram, além do compromisso de estimular o desenvolvimento BIM, a utilização da metodologia em execuções de obras e serviços realizados por órgãos e entidades da administração pública federal. Bem como o avanço das tecnologias e os benefícios que a metodologia propõe, tem colaborado nos investimentos das empresas em projetos BIM.

A Engemon estruturou um encontro recorrente, que há mais de um ano acontece com o objetivo de apresentar aos times das diferentes áreas, bem como para clientes e parceiros, a importância da metodologia BIM e suas vantagens em todas as etapas envolvidas por meio de cases e estudos de projeto, isso tem ajudado na integração da solução como metodologia base. Temos observado um avanço gradual na forma de contratação de projetos e execuções. Hoje, grande parte dos novos negócios já são modelados em BIM, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido até alcançarmos países como Singapura, Estados Unidos e Reino Unido, que possuem uma estratégia nacional já consolidada.

A Engemon já conta com algum case de sucesso em BIM?

A Engemon começou a incorporar a metodologia BIM em seus projetos em 2017. De lá para cá, temos diversos cases e fomos aprendendo com cada um deles, desenhando melhorias constantemente. 

Em um dos mais recentes projetos que desenvolvemos, com mais de 13 mil m² e alta complexidade, já iniciamos aplicando a mudança de mentalidade, isso é, implementando a forma de pensar BIM. Isso seguiu para toda implementação e respectivas fases, desde a compatibilização das disciplinas e modelagens de interferências, até o cronograma de obras e planejamento 4D das etapas construtivas. Trouxemos a compatibilização de fato e, com isso, otimizamos o custo da obra e aumentamos a produtividade no canteiro.

Além disso, construímos modelos cujos mapeamentos de dados são atualizados para etapa de operação e manutenção do empreendimento, garantindo uma manutenção otimizada como vantagem operacional estratégica e que gera valor aos nossos clientes. Nosso modelo As Built, por exemploapresenta de forma precisa o que foi executado, contemplando também os dados relevantes que serão utilizados na operação e na manutenção do empreendimento, garantindo uma gestão otimizada.

Outro case que gostaria de dividir trata de um projeto educacional, ainda em fase de construção, para uma obra de 4.000 m².  Para esse empreendimento, tivemos estudos de reengenharia em todas as disciplinas, trazendo como resultado melhor aproveitamento dos recursos financeiros e naturais, bem como otimizando o cronograma de obras. Realizamos estudos de canteiro, pois o terreno é pequeno e com limitações significativas, uma vez que as árvores serão preservadas e cada uma das atividades, que envolvem equipamentos de grande porte, foi planejada considerando o tempo de permanência e o espaço físico que os equipamentos ocupariam, o que tem nos proporcionado muito êxito nessa execução.

Como a Engemon mantém os clientes atualizados sobre a evolução da execução da obra?

As atualizações dos projetos para os nossos clientes são feitas através da plataforma Opera, software de gestão de obras e documentos, onde o cliente - que nesse caso está em outro país - consegue acompanhar em tempo real a evolução do processo construtivo.