O 5G segue em processo de implantação e ainda é esperado em muitas cidades brasileiras, assim como em países que seguem aguardando para contar com essa tecnologia. Mas o que vem depois? Ainda é cedo para falar sobre 6G?

“Apesar de estarmos em 2024, ainda no processo de massificação do 5G, já temos discussões sobre o 6G desde 2020. No Brasil, já havia iniciativas para falar sobre o 6G em 2021. Geralmente, a indústria e os pesquisadores olham para a tecnologia 10 anos antes de seu lançamento. E com o 6G não é diferente”, responde José Felipe Ruppenthal, conselheiro do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) e da Telco Advisors.

Diferentemente do que ocorreu com o 5G, a sexta geração começou a ser discutida com maior antecedência. Com isso, espera-se que haja um maior aproveitamento do potencial dessa tecnologia, resultando em uma maior transformação na vida dos usuários. Apesar de vermos aplicações que passaram a ser adotadas graças ao 5G, a expectativa criada ainda não se tornou realidade.

“Vários itens da transformação que se esperava com o 5G foram habilitados. Já começamos a usar soluções de entrega via drone, veículos conectados, trânsito inteligente etc. Mas aquilo que era dito, que o 5G vai mudar a vida, ainda não aconteceu. Mudou muito para o B2C, com mais banda larga e mais capacidade. No B2B, que é a grande mudança, isso não aconteceu. O que falávamos sobre sociedade avançada, dimensão do futuro, cidades inteligentes, aquilo que se massificaria com o 5G, isso não aconteceu. E não é porque o 5G não tem capacidade, mas é que todo o ecossistema envolvido não estava pronto”, comenta Ruppenthal.

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O conselheiro da Inatel destaca quatro pilares que explicam o porquê dessa expectativa não ser alcançada: infraestrutura (adensamento de rede), cobertura de rede (abrangência no território), ecossistema (diversidade de aplicações desenvolvidas pelo mercado) e maturidade digital (demanda e oferta para usufruir dos benefícios da tecnologia).

No caso do 6G, espera-se que seu potencial transformador seja atingido caso esses quatro pontos tenham um desenvolvimento superior ao que vem sendo observado na quinta geração.

“Se a gente não resolver os problemas de adensamento e cobertura, ele (o 6G) pode se tornar um insucesso, e esse é o grande medo do mercado hoje”, afirma Ruppenthal.

Afinal, quando teremos o 6G e quais serão as vantagens?

A expectativa é de que o mercado conte com uma solução de 6G comercial em 2030.

A próxima geração de internet móvel promete revolucionar a conectividade ao oferecer velocidades de dados extremamente altas, latência ultrabaixa e capacidade de conectar uma quantidade massiva de dispositivos simultaneamente. Com o 6G, espera-se a integração perfeita entre o mundo físico e o digital, possibilitando avanços em uma escala sem precedentes. Além disso, deve proporcionar maior eficiência energética e segurança, suportando aplicações críticas como veículos autônomos, telemedicina avançada e indústrias automatizadas, transformando profundamente a maneira como vivemos e trabalhamos.

Uma das principais mudanças esperadas com a sexta geração é uma distribuição muito mais ampla do que o 5G e muito superior ao 4G, mesmo utilizando frequências mais altas.

Outra vantagem é o fato de que diversas aplicações já serão nativas quando o 6G for lançado, facilitando a integração, por exemplo, com recursos aprimorados de computação quântica, inteligência artificial e internet das coisas – aproximando-se do conceito de internet de tudo. Nesse sentido, destaca-se também a integração com redes via satélite, permitindo uma conectividade global com cobertura inclusive em áreas remotas onde não há presença de redes terrestres.

“O uso de frequência de terahertz é um dos pontos que mais estão em discussão, porque a gente já não fala mais frequência de gigahertz, a gente fala de terahertz, uma frequência muito mais alta. Isso tem prós e contras, pois vai exigir uma proximidade muito maior entre os dispositivos e as torres, mas traz uma infinidade de capacidades. Inclusive, o FCC (Federal Communications Commission) já liberou as frequências de terahertz para testes de alguns fabricantes nos Estados Unidos”, afirma Ruppenthal.

Enquanto o 6G não se torna realidade, haverá uma versão intermediária que possibilitará melhorias para a geração atual e garantirá uma transição de redes segura. Chamada de diferentes maneiras, como 5G+ e 5G avançado, essa tecnologia oferecerá avanços substanciais à capacidade atual do 5G, trará maior possibilidade de automação da rede e assentará as bases para a próxima geração, sendo desenhada para suportar o 6G.

Antes de 2030, dois marcos fundamentais são esperados para definir o futuro do 6G. Até 2025, a União Internacional de Telecomunicações (UIT) pretende estabelecer uma padronização dessa tecnologia. Por sua vez, o 3GPP (Projeto de Parceria de 3ª Geração, em tradução livre), um consórcio internacional de empresas do setor de telecomunicações, deve determinar, até 2027, as métricas para seu funcionamento.

O futuro com o 6G será o tema do próximo episódio em vídeo do canal Edge & Networks. No dia 29 de agosto, José Felipe Ruppenthal ampliará todos os aspectos envolvidos no desenvolvimento e implementação da sexta geração de internet móvel.