A digitalização crescente no país, o aumento da adoção da nuvem, a introdução da LGPD e a mudança de data centers locais para centros de dados de Colocation são alguns dos principais fatores que vêm impulsionando o mercado de data center brasileiro.
São Paulo, principal centro financeiro da América Latina, tem sido e continuará sendo o destino dos grandes investimentos de data centers nos próximos anos. Tais previsões foram apontadas por especialistas, que atuam em empresas que lideram o setor e participaram do DCD Brasil 2021, realizado no último mês de novembro.
De acordo com estes especialistas, o mercado cresceu significativamente, com um aumento no desenvolvimento de data centers hyperscales e investimentos por provedores de serviços em nuvem. A pandemia de Covid-19 também tem sido um forte facilitador de mercado para iniciativas de Transformação Digital em empresas dos setores público e privado no país, que hoje hospeda mais de 75 instalações de data center, certificadas pelo Uptime Institute, como Tier III.
Christiana Weisshuhn, Chief of Staff da Scala Data Centers, aponta que São Paulo é o mercado de entrada de data center na América Latina, tem o maior PIB do país, a maior população, alta densidade de fibra e uma quantidade grande de cabos submarinos passando pelo Estado. “Tudo isso faz com que São Paulo seja bastante atraente para a construção de data centers hyperscales. E não à toa, a gente já tem participação dos grandes provedores de cloud: Microsoft, Amazon, Google, IBM e Oracle. E também não só dos provedores de cloud, mas também dos provedores de internet. Akamai, Facebook e Netflix. A gente vê São Paulo como um hub de conexão entre América Latina e América do Norte”, pontua.
De acordo com um estudo da 451 Research, cerca de 70% da capacidade de data center de todo o Brasil está situada em uma região que fica em torno de 120 km ao redor de São Paulo.
Paul Sassine, CEO da Blumatech, ressalta que o futuro dos data centers no Brasil passa por um modelo híbrido entre data centers hyperscale e edge data centers. “Eles irão coexistir porque são complementares. Nós temos uma empresa no grupo, a Ava Telecom, que está lançando o primeiro edge data center dedicado aos ISP’s em Jaguariúna (SP), em parceria com a Nabiax”, revela o CEO.
Gigante de cloud global, a AWS recentemente anunciou investimento de R$ 1 bi no Estado de São Paulo. Nos próximos dois anos, a líder de computação em nuvem ampliará a infraestrutura no Estado, única na América Latina.
“A Nuvem AWS abrange 84 zonas de disponibilidade em 26 regiões geográficas em todo o mundo. Além de 230 pontos de presença e 207 Edge Locations, que não só fazem a conectividade, mas também entregam serviços edge de armazenamento, conteúdo para streaming, EAD, entre outros. Esses serviços são entregues por nossas Edge Locations no país, que estão: no Rio de Janeiro, São Paulo e Fortaleza”, conta Samir Palma, Solution Architects Manager da Amazon Web Services.
O vice-presidente de Operações da Ascenty, Marcos Siqueira, destaca que o Brasil continua sendo o país de maior interesse na América Latina. “Nós temos consciência que o Brasil tem um tamanho continental. O impacto que ele tem na América Latina como um todo acaba atraindo muitas multinacionais. Não apenas grandes provedores, mas também inúmeras empresas de segmentos diferentes. Isso além das grandes empresas que temos aqui e que demandam cada vez mais serviços de cloud e outros serviços de tecnologia”. Para ele, do ponto de vista de Colocation, o país dispõe de grandes empresas tomando as decisões de fazer sua migração para data centers comerciais. Já do ponto de vista de scale, os grandes cloud providers querem e precisam estar próximos dos usuários e trazer novas funcionalidades no país. “Nós sabemos que eles lançam algumas tecnologias nos Estados Unidos e depois começam a distribuir isso ao redor do mundo e o mercado local necessita dessas funcionalidades. Por essas razões, a gente entende que, tanto do ponto de vista de Colocation como de hyperscale, há um espaço enorme para crescimento”, aponta Marcos Siqueira.
O vice-presidente da Vertiv LATAM, Rafael Garrido, reforça que o mercado brasileiro de data center é extremamente resiliente, começou a se desenvolver antes de outros países da América Latina.
“É preciso reconhecer que o Brasil começou a viver seus desafios antes de outros países porque se desenvolveu antes, por isso não podemos comparar nenhum problema existente aqui, com outros mercados da região. O caminho a seguir é continuar sendo atrativo como indústria de data center. Em um mercado com uma demanda gigantesca como é o Brasil, a gente supera um gargalo e vão surgindo outros. E hoje a capacitação de mão de obra é um dos principais investimentos das empresas de data centers”, avalia.
Rogério Bruck, Chief Operating Officer da Elea Digital, assegura que, do ponto de vista da Transformação Digital, o Brasil por si só já é uma grande oportunidade para o mundo. “Nós temos uma extensão territorial gigantesca e uma população engajada aos conteúdos digitais, ávida por tecnologia que se adapta rapidamente a mudanças de situações, como mostrou em relação a pandemia”, destaca ele, acrescentando que, tal crescimento foi um recado para os investidores. O país é um grande mercado e outro atrativo, é a consolidação do 5G no país, que saiu na frente na região e hoje está em um patamar de evolução tecnológica, que já está disponível para investimentos.
Gargalos
O vice-presidente da Vertiv LATAM, Rafael Garrido, avalia que o país deve preocupar-se efetivamente com a qualificação e o desenvolvimento da mão de obra para suportar o futuro da indústria de data centers. “O Brasil ainda é bastante carente em preparação das novas gerações, que vão cuidar de toda essa tecnologia de todos esses data centers. Claro, isso não é um desafio para o país seguir em uma crescente, mas é um desafio que a gente precisa prestar bastante atenção porque é uma iniciativa que só terá resultados em longo prazo”.
De fato, isso é importante. Não adianta ter uma infraestrutura fantástica se não se tem profissionais capacitados para orquestrá-la. Eu vejo que os profissionais que a gente tem hoje no mercado vêm buscando cada vez mais qualificações através da obtenção de certificações. Mas eu diria que nós temos um bom número de profissionais capacitados no mercado, mas é preciso atualização.
Em termos de gargalos, Rogério Bruck, aponta que ainda é muito moroso o processo de licenciamento para construção de data centers no país. “A gente enfrenta muita dificuldade para importação de equipamentos, longas esperas. Essa dificuldade vem desde a montagem dos equipamentos. Tudo isso afeta diretamente o avanço da construção de data centers”, ressalta o Chief Operating Officer da Elea Digital, acrescentando a questão da energia, que hoje é um desafio enfrentado no país toda vez que ocorre uma escassez chuva. “Todos esses fatores conjuntamente melhorando, muda para melhor o panorama da indústria de data center. Mas claro, sabemos e estamos seguros de que nenhum desses serão obstáculos grandes para impedir o crescimento da indústria”, completa.
Atrativos
“Não é possível ignorar um país que tem ¼ da população do continente. A economia do Brasil representa quase 30% do PIB da região. Isso por si só já é um fator de atração”, avalia Vitor Caram, diretor de expansão LATAM da ODATA, ressaltando que, além disso, o país tem outros fatores de risco relevantes. Ou seja, é um país com baixo histórico de conflitos internacionais relevantes. Favorável em termos de potenciais riscos naturais. “Muitos dos nossos vizinhos têm atividades sísmicas, têm eventos climáticos muito mais rigorosos que os nossos. Além de alta conectividade, matriz energética favorável. Barueri, Santana do Parnaíba, Osasco, Campinas, Paulínia, Sumaré, Hortolândia, Jundiaí e Rio de janeiro e Baixada Fluminense. São regiões ultra consolidadas em conectividade e data center, que criaram esse ecossistema que agora vai se diversificando cada vez mais em produtos e serviços, gerando mais negócios e se expandindo em um forte adensamento”, observa o diretor de expansão LATAM da ODATA.
Tendências
Tabajara Antônio Morais, gerente de engenharia da Deerns, avalia que o futuro dos data centers passa por um aumento da demanda e mais velocidade. “Isso não tem volta e tudo isso somado a tecnologias limpas. Lá fora já vem se utilizando soluções de hidrogênio como um gerador de energia ao invés de gerador a diesel. A tendência é que a gente veja isso se tornando uma realidade em data centers, em um futuro próximo”.
Paul Sassine, CEO da Blumatech, afirma que existem dois tipos de tecnologias que os data centers terão que investir, uma delas é para aumentar a eficiência, automação para orquestrar os recursos o Machine Learning já que o custo da energia vem aumentando. "Por isso, o investimento em Machine Learning será uma crescente nos próximos anos. Outro ponto importante é a virtualização. Inevitavelmente todos irão investir. A Edge Computing ganhará cada vez mais espaço."
Carlos Randi, Country Manager da Nabiax, avalia que o mercado de data center é servido de várias tecnologias como tendências. Mas do ponto de vista dos hyperscales e da cloud, chegaremos na Nuvem Híbrida. "Ela tem sido muito mais demandada pelas empresas, justamente por combinar tanto a infraestrutura de TI local com os serviços, tanto na Nuvem Híbrida quanto privada. Outro ponto, é o IoT e a Cibersegurança, já que com a pandemia, consumidores e empresas foram totalmente para o digital e isso abriu uma lacuna maior para hackers. Por isso, investir em soluções de Cibersegurança, além das que já são providas para os usuários dos data centers será algo constante".
Elisabete Couto, CEO da Blumatech, reforça que o 5G e a Edge Computing sem dúvida são as grandes tendências para os data centers. "Sabemos que existem desafios de eficiência da Edge Computing. Por isso, a junção da edge com o 5G é vital para serviços de streaming, Telemedicina, EAD, entre outros", pontua.