Informada pelos profissionais que atuam em empresas líderes da indústria, a DCD revela todos os passos, que vêm sendo dados pelos Hyperscalers, provedores de Colocation e Cloud no cenário nacional de TI. Evento virtual, realizado no último dia 18 de agosto, o DCD Brasil | Hyperscale & Cloud, teve como propósito mostrar como o Brasil vem respondendo à crescente demanda de infraestrutura digital e deve se preparar para tornar-se cada vez menos burocrático e com preços competitivos. O evento trouxe detalhes das últimas aquisições de data center, projetos e abordou os desafios atuais que vem sendo impostos à indústria de data center, através das experiências vivenciadas pelos líderes da indústria.

LIDERANÇA NA REGIÃO

O Brasil é indiscutivelmente hoje o principal mercado de data center da América Latina, com 17 provedores de serviços de data center, operando em 44 instalações. O mercado cresceu significativamente nos últimos anos, com um aumento no desenvolvimento de data centers em hiperescala e investimento por provedores de serviços em nuvem. Aliado a isto, a pandemia de Covid-19 se tornou um agente facilitador do mercado, pois fomentou iniciativas voltadas para a Transformação Digital em empresas públicas e privadas.

Para o CEO do Strings Group, Sérgio Costa, o Brasil sempre chamou a atenção de investidores, não só pelo tamanho do mercado, mas pela representatividade que tem na América Latina. “De 2017 a 2021, tivemos um total de 45 projetos de investimento em data center anunciados, que extrapolam os 3.9 bilhões de dólares. Isso mostra um aquecimento do mercado. Em 2021 já tivemos mais investimentos anunciados do que em 2018. Em 2020, em plena pandemia, tivemos mais investimentos do que em 2019”, destaca o CEO do Strings Group, companhia global, dedicada a prover soluções customizadas para empresas internacionais que operam ou desejam atuar no mercado brasileiro.

Para o vice-presidente da Vertiv LATAM, Rafael Garrido, os data centers nunca tiveram tanta visibilidade como tiveram na pandemia de Covid-19.

“A Transformação Digital fez o serviço de data center se aproximar muito de um serviço de utilidade pública. Todo mundo se preocupou com a conexão, com a disponibilidade de dados para poder continuar fazendo negócios. A pandemia não atrapalhou os investimentos, muito pelo contrário: 2020 foi um ano em que houve um crescimento de investimento, um ano de grandes aquisições. Onde a gente viu empresas de data center brasileiras crescendo forte pela América Latina. De modo geral, todo serviço de data center continuou crescendo. Não houve retração no mercado”, pontua o vice-presidente de Vertiv, empresa que é uma das principais provedoras de infraestrutura de data center global.

Com mais de 40% do investimento em data centers na região, o Brasil conta hoje com mais de 75 instalações certificadas pelo Uptime Institute com o selo Tier III, o que inclui, Telecomunicações, provedores de serviços e Colocation, entre os quais figuram empresas como Ascenty, Equinix, Scala Data Centers e ODATA.

INVESTIMENTOS

A mais jovem empresa no seleto grupo de Colocation do país, a Scala Data Centers tem colaborado para o crescimento do protagonismo do Brasil na região.

“Eu sou sócio da Digital Bridge na América Latina. Nós fundamos a Scala Data Centers a partir da aquisição dos ativos de data center do UOL Diveo, em abril de 2020. De lá para cá, tivemos seis projetos de data center em construção, com mais de um milhão de metros quadrados de terrenos adquiridos, com três campus em São Paulo. Em julho deste ano, fechamos a construção de um campus em Campinas e iniciamos uma obra em Jundiaí”, conta o CEO, Marcos Peigo, acrescentando que a distribuição de investimentos pelo país, em especial para o Nordeste, com a chegada de cabos submarinos, confirma o Brasil como o player central na região para o acesso dos dados. “Cada dia mais, o Brasil sendo visto também pelos investidores internacionais como ponto de partida para expansão regional na América Latina, com empresas como a Scala, ODATA, Ascenty e Equinix liderando os investimentos. Com projeto no México, no Chile, na Colômbia e os outros países, que a gente vem trabalhando a partir de empresas brasileiras, que estão expandindo. A Scala foi criada como uma plataforma latino-americana, com sede no Brasil, em Alphaville – São Paulo, que é de onde são comandadas todas as operações na América Latina”, completa o CEO.

Empresa que também vem investindo no Brasil, a Oracle escolheu Vinhedo (SP) para instalar sua segunda região de Computação em Nuvem. A abertura marca a 30ª região de nuvem da Oracle no mundo e é parte do plano global da empresa de operar 38 regiões até o final de 2021.

“Hoje existe uma demanda bastante grande por conta da pandemia para o mercado de Computação em Nuvem. O que já vinha acelerado, acelerou ainda mais. Antes a maior parte dos nossos clientes quando precisava sair para uma região, a localidade mais próxima da maioria deles era os Estados Unidos, e para ir para a América do Norte, no mínimo é necessário 100 milisegundos de roadtrip. A partir do momento que a Oracle abriu a segunda região no Brasil, isso foi reduzido em mais de 50 vezes, o que seria inatingível se a Oracle não tivesse investido em uma segunda região no Brasil”, destaca Marcelo Curi, Cloud & Technology Engineering da Oracle, acrescentando que os data centers estão interconectados por uma rede própria da Oracle, mas o cliente tem também a opção de utilizar outros links para se conectar.

“Para nós é motivo de muito orgulho ter investido na segunda região no Brasil porque isso trouxe possibilidades antes inatingíveis. O Brasil merece e as empresas brasileiras merecem”, comemora o diretor da Oracle.

GARGALOS

Para Rogério Bruck, Diretor de Data Centers da Piemonte Holding, um dos maiores desafios enfrentado pelo setor de data center, é referente a sustentabilidade da energia elétrica. “Isso pode vir a ser um problema porque o Brasil não tem hoje uma qualidade de entrega e todos sabemos que passamos por um momento de valor do quilowatt altíssimo”, avalia ele, apontando que isso pode ser um problema para atração de investidores internacionais.

Marcos André, CEO da NWi Telecom, segue na mesma linha, apontando que o alto custo do Opex pode comprometer a expansão do mercado de data center brasileiro já que reduz a margem de lucro. “A questão da energia faz com que tenhamos que buscar outras alternativas sustentáveis para poder diminuir esse impacto, uma vez que o Opex, a energia são fatores importantíssimos para o data center. O dólar alto é outro fator que não nos favorece”, completa o CEO da NWi Telecom.

SAÍDAS VIÁVEIS

Para o Gerente Senior Data Center Facilities Solutions da Huawei, Marcos Antunes, a sustentabilidade tem que ser levada a sério desde o início do projeto de um data center. “Hoje a maior parte dos data centers em operação foi projetada em uma época em que a sustentabilidade não era um ponto muito focal. Por isso, nós temos hoje data centers que para serem mais sustentáveis, é necessário realizar alterações importantes na sua infraestrutura”, pontua ele, acrescentando que, parques eólicos e solares seriam grandes saídas, se fosse possível entregar a redução do valor da energia para o consumidor final.

“Se fosse possível entregar isso na ponta seria excelente porque teríamos um preço mais acessível. Principalmente para os grandes consumidores de energia que são os data centers”, pontua ele, observando que a sustentabilidade não deve estar somente na eficiência. “Na eficiência há um ponto importante, mas nós temos que olhar nossa operação e verificar tudo aquilo que gera um carbono, que gera uma ineficiência e alterar isso”, completa.

Para Tiago Tognozi, Data Center Manager da Nabiax, em longo prazo a aplicação de baterias pode ser uma tendência bastante forte no setor de data center. “As baterias de íon de lítio, que são recentes já se encontram em uso em alguns data centers pelo mundo. Também existem pesquisas sobre a utilização de baterias de cálcio e grafeno. Em longo prazo, haverá um amadurecimento dessas tecnologias. Elas vão acabar chegando para o data center. Haja vista que no sistema de energia ininterrupta, no ambiente de missão crítica, o UPS é o coração do data center”, destaca.

Também apostando nesta tendência, Marco Antunes da Huawei, revela que a empresa optou por uma tecnologia chamada LFP: lítio, fosfato e ferro, produto mais estável, que não oferece risco de incêndio. “Nós conseguimos chegar a uma solução hoje, que pode ser operada a 35º, dentro de uma sala e ter mais de 4.500 ciclos de carga de operação dessas baterias. Levando a uma durabilidade de 10 – 15 anos para a operação”, revela ele, acrescentando que a utilização das baterias, leva a uma redução no consumo de ar condicionado dentro do data center, promovendo mais eficiência. “Logicamente, é uma pequena economia, mas já é um agente otimizador. Outros pontos importantes que eu acredito, é que os fabricantes comecem cada vez mais a implementar Inteligência Artificial não somente dentro do software de gestão, mas também nos equipamentos. Hoje em dia, a digitalização da automação de um data center é muito importante porque garante uma operação mais inteligente, com aumento da eficiência energética do data center, reduzindo os custos”, conclui.