Formada por meio de uma parceria entre Alteredo Gonçalves, diretor-presidente da GBT- Brasília (DF) e Alessandro Lombardi, CEO da Piemonte Holding, a Elea Digital entrou no mercado de data center brasileiro, no início deste ano, com a missão de ser “grande”. No último mês de junho, anunciou a compra de cinco data centers da Oi. A compra foi realizada por meio de um veículo de Private Equity da Piemonte Holding, instituição financeira do Rio de Janeiro, focada em investment banking e inovação digital.
A aquisição será um aporte de grande importância para a holding de data centers da Piemonte, que já possui investimento em um dos maiores data centers do Brasil, que é a GBT - Brasília, instalação inteiramente dedicada a serviços financeiros e que tem a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil como clientes.
Os cinco novos data centers que farão parte do conglomerado da Elea Digital estão instalados em Curitiba, Porto Alegre, São Paulo e Brasília, com duas unidades. Se implementadas as condições contratuais, a conclusão da transação deve acontecer nos próximos meses, e tornará a Elea Digital uma holding com ativo total de mais de 1 bilhão de reais.
Em entrevista exclusiva, Alteredo Gonçalves, revela detalhes das negociações da empresa no mercado de data center brasileiro. Leia, a seguir.
Tatiane Aquim: Como surgiu a iniciativa para a criação da Elea Digital?
Alteredo Gonçalves: Eu sou o diretor-presidente da GBT desde 2013, empresa que é fruto de uma Parceria Público-Privada (PPP). Trata-se da primeira parceria, concessão federal administrativa nesse modelo e a única também. Nossos clientes são o Banco do Brasil e a Caixa. Eu sou sócio e diretor. Nosso data center opera no Distrito Federal em regime de 24x7 sem ter tido uma única parada durante todos esses anos.
Em 2019, conheci o Alessandro Lombardi, CEO da Piemonte Holding e ele muito entusiasmado com o segmento de data center me propôs a criação de uma holding; fizemos alguns estudos de mercado e com os resultados resolvemos abrir a Elea Digital. Eu aportei uma parte das minhas ações da GBT na Elea e ele colocou outra parte, através de um fundo de investimento.
O objetivo é replicar o projeto da GBT. E por isso, fomos em busca de ver como faríamos isso. Eu já tinha a informação de que algumas empresas estavam se desfazendo do ativo, principalmente empresas do setor de Telecom, já que data center para elas não é uma atividade fim. E aí, tivemos conhecimento que a Oi estava com esse mesmo propósito. Iniciamos uma negociação, que foi um desafio já que a Oi é uma empresa em recuperação judicial. Mesmo assim, tocamos a negociação; buscamos a assessoria do escritório Pinheiro Neto e seguimos com a operação.
T. A.: Qual é a missão da Elea Digital?
A. G.: A Elea Digital é uma holding dentro do grupo, com a função de construir, manter data centers e oferecer serviços. Por isso, nos pareceu que a oferta de compra dos data centers da Oi seria uma oportunidade de já entramos no mercado com volume ao invés de irmos construindo data centers por unidade. A gente já teria um cliente, que é a Oi e a Oi já tem outros clientes que ela presta serviço. Houve uma avaliação, fizemos todo um trabalho. Houve um processo seletivo, já que havia outras empresas. E a gente viu que era interessante entrar nesse mercado, que agora mais do que nunca se faz tão necessário. Nesse momento de pandemia que a gente está vivendo, a área de TI, a área de data center está em expansão. Por isso, nos pareceu apropriado fazer a oferta. Neste momento estamos aguardando, como a Oi está em recuperação judicial em setembro teremos um leilão.
T. A.: Como a Elea Digital avalia a situação atual do mercado brasileiro de data center?
A. G.: O Brasil tem um potencial gigante. Nós somos a cereja do bolo de muita empresa internacional. Há um campo muito vasto a ser explorado.
O mercado brasileiro de data center está em pleno momento de investir. Não somente a gente, mas outros players do mercado estão investindo bastante. O mercado de data center está em franca expansão. A gente prevê um forte crescimento nos próximos anos. Exatamente por isso, resolvemos investir. Além desse de investimento na compra dos data centers da Oi, a gente está em negociação com outros data centers aqui no Brasil e outro no exterior. Ainda não posso revelar detalhes, por conta da confidencialidade da negociação.
T. A.: Após a conclusão da compra dos data centers da Oi, a Elea Digital pretende investir na otimização das unidades?
A. G.: Sim, fizemos um levantamento por alto e entre os data centers da Oi, um que receberá atenção especial será o de Curitiba; há uma oportunidade muito interessante na cidade e pretendemos explorar isso. A gente não pode adiantar valores, mas será um valor bem expressivo.
O data center de Brasília tem padrão Tier III, os outros terão que migrar de Tier II para Tier III.
T.A.: Falando do Nordeste, a Elea Digital surgiu no mercado, no início deste ano, com o anúncio de um investimento de R$ 100 milhões na construção de um data center Tier III em Fortaleza, como está o projeto?
A. G.: Em fevereiro assinamos um memorando de entendimento com o governador do Ceará para construir um data center lá em Fortaleza. Mas no momento a obra está parada; provavelmente teremos um atraso na inauguração por conta da pandemia de Covid-19. Mas acredito que até o ano que vem o data center entrará em operação.
T.A.: Além do Ceará a Elea Digital tem olhado para outro estado na região?
A. G.: Sim. Nossa intenção é abrir um data center também no Porto Digital de Recife.
T.A.: Tem algum projeto previsto para o Centro-Oeste?
A. G.: Em parceria com a BIOTIC, a Elea Digital pretende construir um data center no Parque Tecnológico da Capital Digital em Brasília. Já houve uma licitação, um chamamento e a BIOTIC foi a vencedora. Por meio dessa parceria, a gente pretende construir um data center no Distrito Federal.
A Elea Digital veio para trabalhar nesse mercado, que já tem players grandes.
T. A.: Qual é a estratégia da Elea Digital para o eixo Rio-São Paulo?
A. G.: A Elea está trabalhando muito na região de Campinas (SP). Nossa intenção é criar uma base forte na cidade. Já temos um data center da Oi em São Paulo, que é o maior mercado da América Latina.
T.A.: Que setores a Elea Digital pretende explorar?
A. G.: Como a minha base é Brasília, a gente vê no setor público uma fonte que pode ser um fator de crescimento bastante expressivo. No momento estamos aguardando uma melhor definição dos indicadores. Mas estamos seguros que a saída para o próprio governo é investir em tecnologia e investindo em tecnologia não tem como não investir em data center. O setor público é um dos principais setores que a Elea pretende explorar. A área pública em qualquer lugar do mundo é um grande mercado. Em qualquer país, se você pegar os dados, os maiores clientes estão no setor público. Aqui no Brasil isso ainda está em formação porque ainda não tem um mercado específico; o que existe é um potencial. Mercado estabelecido a gente tem entre São Paulo e Rio; um mercado tradicional que a gente pode quantificar e pode trabalhar. Mas o mercado da área pública a gente sabe que tem um potencial muito grande e está em desenvolvimento. A gente pretende explorar esse setor.