A próxima edição do DCD>Connect São Paulo se aproxima! Nos dias 07 e 08 de novembro, mais de 1600 especialistas da indústria de data centers de todo o país se reunirão para debater pontos vitais para o setor, como a atração de investimentos para o mercado brasileiro.

Nesta entrevista, Renan Lima Alves, CEO da BOOST e moderador do "DCD>Debate - Como atrair mais investimentos de Data Centers para o mercado brasileiro?", que acontecerá no dia 07 de novembro às 15h45, adianta alguns pontos-chave que serão amplamente discutidos ao lado de profissionais da ODATA, Elea Digital, Ada Infrastructure e BTG Pactual. Confira!

Quais são os fatores-chave que tornam o Brasil um mercado atraente para investimentos em data centers?

Vivemos em um momento de oportunidade única para o Brasil atrair investimentos diretos na indústria de Data Centers. Até o presente, o crescimento dos Data Centers no Brasil foi impulsionado principalmente pelo surgimento e expansão da infraestrutura digital, com destaque para o Cloud Computing. A estrutura em nuvem é organizada em zonas locais, tornando essencial a construção de Data Centers no Brasil, em proximidade aos usuários, devido à necessidade de baixa latência para aprimorar as aplicações e a experiência dos usuários.

Entretanto, estamos atualmente na era da Inteligência Artificial, que compreende dois processos distintos de dados:

  1. Inferência: envolve a aplicação de modelos treinados em tempo real para previsões ou classificações. Geralmente, demanda baixa latência e deve estar próxima aos usuários ou à fonte geradora de dados.
  2. Treinamento: consiste na coleta e processamento de dados gerados por várias fontes de Inferência para modelagem e treinamento de algoritmos de IA. Este processo não requer baixa latência e, portanto, poderia ser localizado a distância de outros Data Centers de Inferência. Portanto, por que não considerá-lo no Brasil?

Aproximadamente 80% da matriz energética brasileira é proveniente de fontes renováveis, e o país dispõe de uma extensa área disponível para a instalação de Data Centers de grande porte. Além disso, os custos de construção de um Data Center no Brasil são pelo menos 30% menores do que nos Estados Unidos. Esses fatores representam elementos cruciais na construção de Data Centers e constituem atualmente um dos maiores desafios nos mercados considerados Tier 1, como a América do Norte e a Europa. É imperativo, portanto, posicionar o Brasil no cenário global e unir esforços como uma indústria para aproveitar essa janela de oportunidades!

Em comparação com outros países da América Latina, quais são as vantagens e desvantagens competitivas do Brasil no que diz respeito aos investimentos em data centers?

Os principais países da América Latina que estão atraindo investimentos em Data Centers para atender às demandas dos hyperscalers incluem o Brasil, Chile, Colômbia e México. Embora outros países também possuam Data Centers, eles ainda não alcançaram o mesmo porte e estrutura, com múltiplos fornecedores, como esses mencionados. Dentro desse grupo, o Brasil se destaca pela maturidade da indústria, ampla disponibilidade de empresas e profissionais qualificados para atender ao setor, custo energético mais competitivo e menor complexidade na construção, devido à ausência de desafios como terremotos, altas altitudes, furacões e outras características que exigem atenção especial e aumentam o custo total do projeto.

No entanto, o Brasil enfrenta uma alta carga tributária que não é comparável às Zonas Francas da Colômbia, por exemplo. Isso acarreta um aumento significativo nos custos diretos de construção dos Data Centers, bem como nos custos de todos os servidores a serem instalados. Ricardo Alário, CEO da Odata e painelista convidado no próximo evento do DCD SP 2023, fez um cálculo rápido que estima-se que, devido aos impostos, um servidor que custaria cerca de trezentos mil dólares para ser instalado em um Data Center na Zona Franca da Colômbia custaria aproximadamente quinhentos mil dólares no Brasil. Sem dúvida, essa é uma questão que precisa ser abordada e superada para atrair mais investimentos diretos no Brasil.

Quais são os requisitos de infraestrutura digital que devem ser priorizados para atender às demandas em evolução do mercado de data centers no Brasil?

O principal diferencial na nova onda de investimentos em infraestrutura digital para atender à Inteligência Artificial é a utilização de GPUs em vez de CPUs, que são mais comuns no Cloud Computing. Esse fato por si só provoca mudanças substanciais na infraestrutura desses Data Centers, que, em vez de serem dimensionados para lidar com densidades de cerca de 10 kW por rack (no caso das CPUs), agora precisarão acomodar as altas densidades necessárias pelas GPUs usadas na Inteligência Artificial, que demandam atualmente 30 kW a 50 kW por rack e, em alguns casos, podem chegar a mais de 100 kW por rack.

De maneira geral, os projetos e toda a cadeia de suprimentos precisam estar prontos para atender a esse rápido crescimento da demanda e densidade. Isso requer empresas altamente profissionais, com culturas sólidas de segurança no trabalho, processos bem definidos e equipes altamente qualificadas.

Quais são as perspectivas de investimento em data centers no Brasil nos próximos anos e quais fatores indicam um possível cenário favorável ou desfavorável?

O mercado de Data Centers já estava em crescimento constante, e com a ascensão da Inteligência Artificial, experimentou uma significativa aceleração em seu desenvolvimento. De acordo com estudos da Structure Research, o crescimento de capital na indústria de Data Centers viu um aumento de dez pontos percentuais em sua taxa de expansão (CAGR).

Outro estudo elaborado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), intitulado "Estratégia para a implementação de uma política pública de atração de Data Centers," prevê que o tamanho do mercado de Data Centers no Brasil atingirá R$ 14,81 bilhões (ou US$ 3,05 bilhões) até 2025.

Esses dados, juntamente com outras pesquisas de mercado e feedbacks de profissionais do setor, corroboram o interesse dos hyperscalers em continuar investindo e ampliando a infraestrutura de Cloud Computing. Isso se reflete na criação de novas zonas de disponibilidade e na expansão das zonas já existentes.

Também observamos investimentos substanciais direcionados por grandes fundos de investimento, empresas de private equity, novos participantes no mercado e reestruturações destinadas ao desenvolvimento da infraestrutura do setor. Isso fica claramente evidenciado pelas empresas cujos CEOs ou Conselheiros farão parte do painel "Como atrair mais investimentos de Data Centers para o mercado brasileiro?" no evento DCD SP 2023, programado para 7 de novembro, demonstrando nitidamente esse novo momento da indústria:

ODATA: recentemente adquirida pela Align Data Centers por US$ 1,8 bilhão, consolidando a Align como uma das principais operadoras de Data Centers privados nas Américas, com capacidade crítica superior a 2,5 GW em mais de 40 locais, quando totalmente operacionais.

Ada Infrastructure: um novo empreendimento global da GLP dedicado a Data Centers, que inicia suas operações com uma capacidade segura de TI de 850 MW garantida em países como Japão, Reino Unido e Brasil, além de uma capacidade total futura de aproximadamente 1,5 GW.

Elea Digital: fundada pela Piemonte Holding em 2020 por meio da aquisição de sete Data Centers, a Elea é um ecossistema de Data Centers edge com ampla distribuição geográfica em todo o Brasil.

V.tal: recém-criada por meio da fusão da Globenet e da infraestrutura de fibra da Oi, a V.tal é uma empresa global de soluções de infraestrutura digital de ponta a ponta e detentora da maior rede neutra de fibra óptica no Brasil, com mais de 26 mil km de cabos submarinos e Data Centers edge distribuídos entre o Brasil e a Colômbia.

Essas empresas são exemplos claros da renovação e do novo cenário da indústria de Data Centers, que está em pleno crescimento no Brasil, bem como em outros países da América Latina. Convido a todos a acompanharem este debate, que promete ser informativo e esclarecedor.