David Montoya
– David Montoya

Segundo o Aeroporto Council International (ACI), uma associação comercial que opera 1925 aeroportos em 171 países, em 2023 o volume global de passageiros deve atingir a marca de 8,6 bilhões. Para 2024, a expectativa é que o tráfego global de pessoas chegue a 9,4 bilhões de passageiros – 102,5% do nível de 2019.

A forte expansão do tráfego aéreo é confirmada pelo o estudo Evolution of Aeroportos - Travel Trends in the Next 30 Years, divulgado pelo Oliver Wyman Forum em maio de 2023. Espera-se que a frota global de aviação comercial seja expandida em 33%, para mais de 36.000 aeronaves até 2033. O relatório prevê um crescimento anual médio de 5,8% do tráfego de passageiros entre 2022 e 2040. Até 2040, a cada ano, mais de 19 bilhões de passageiros passarão pelos aeroportos do mundo.

A plena recuperação deste segmento coloca sob o foco a transformação dos aeroportos do Brasil. Os aeroportos enfrentam o desafio de investir em infraestrutura para atender à demanda atual e futura de tráfego aéreo. Na era do ESG, a meta é projetar, construir e operar aeroportos plenamente automatizados e governados com excelência, com ênfase em políticas de RH inclusivas e em sustentabilidade.

Em 2021, a aviação foi responsável por mais de 2% das emissões globais de carbono relacionadas a energia – dado da International Energy Agency (IEA). À medida que novos terminais, infraestrutura de transporte terrestre, e instalações como pistas de rolagem, taxiamento e pouso são construídos, a demanda de energia e as emissões de aeroportos também aumentarão.  A IEA acredita que os aeroportos serão responsáveis por valores entre 2% e 5% das emissões globais da aviação. Isso representa de 5 a 20 milhões de toneladas de emissões de CO2 por ano.

Para reduzir as emissões, os aeroportos têm buscado somar o alinhamento à pauta ESG a uma digitalização de 360º do ambiente. 

Uma das alavancas dessa evolução é o compromisso da IATA (International Air Transport Association) de que o setor global da aviação alcance Net Zero até 2050. Essa meta prevê ações estratégicas e táticas que visam suportar o Acordo de Paris: limitar o aquecimento global em 1,5 graus Celsius até 2100. Segundo o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas de 2021, a temperatura média do planeta já aumentou 1,09 graus Celsius desde a era pré-industrial.

Bring Your Own Power (BYOP) e o data center verde

Uma das colunas da estratégia ESG é transformar os aeroportos em centros de produção de energia para suplementar os recursos disponíveis pela grade nacional. Trata-se de aderir ao conceito Bring Your Own Power (BYOP), em que a sustentabilidade é garantida também pela capacidade do aeroporto prover sua própria energia limpa para todos os clientes de seu ambiente, das companhias aéreas a órgãos governamentais e passageiros. Energia solar e energia eólica – duas indústrias que avançam sem cessar no Brasil – são fontes sendo estudadas pelos gestores dos aeroportos.

Em todos os casos, a adesão ao modelo BYOP ressalta ainda mais a importância estratégica dos muitos data centers espalhados por um aeroporto. Estima-se que um grande aeroporto conte com dezenas ou centenas de centros de dados, dos principais aos implementados na borda da rede (Edge Computing), processando dados com baixa latência em hangares, torres de comando, balanças, setores de controle de veículos etc.

Com a tendência BYOP, acelera-se o projeto e implementação de data centers “verdes”, um elemento crítico na agenda ESG dos aeroportos brasileiros. Segundo a consultoria Mckinsey, o data center pode ser considerado “verde” quando opera 24x7 somente com energias renováveis. Trata-se do casamento entre o estado da arte em geração de energia com o que há de mais avançado em data centers. A energia gerada pelo aeroporto é consumida pelo data center do aeroporto. Essa é uma conquista crítica para a pauta ESG. Somente em 2020, os data centers dos EUA consumiram 70 bilhões de KwH.

O data center verde é importante porque a digitalização dos aeroportos avança sem cessar. Milhões de sensores geram imensas quantidades de dados que são objeto de análises qualitativas processadas nos vários data centers do aeroporto.

A meta é automatizar processos muito diferentes entre si e implementados em toda a área física do aeroporto. Para as pessoas que se preparam para viajar de avião, por exemplo, o data center do aeroporto inteligente monitora 24x7 voos em trânsito, cruzando dados em tempo real com sensores ativos no solo. Isso acelera o fluxo de passageiros, incluindo as fases de check-in e check-out, recolhimento de bagagem etc.

O aeroporto preparado para a grande expansão que acontecerá em 2024 não tem espaço para processos manuais, muitas vezes lentos e propensos a erros. A busca de uma visão preditiva sobre cada componente da vida do aeroporto passa pelo uso de plataformas de monitoramento multiprotocolo que correlacionam em tempo real dados heterogêneos, gerando alertas que garantam a continuidade dos serviços.

Convergência entre OT, TI e IoT

Isso exige uma visão convergente entre OT, TI e IoT. Soluções avançadas de monitoramento colocam ao alcance dos gestores de todos os setores do aeroporto informações em tempo real sobre a confiabilidade da rede – incluído serviços Wi-Fi para visitantes – o status dos dispositivos de cyber segurança, as bases de dados do aeroporto, a configuração de sistemas CCTV e detalhes da infraestrutura dos data centers.

Essa mesma plataforma entrega, também, uma visão detalhada dos ambientes OT e aplicações IoT. Isso inclui controles biométricos de acessos de pessoas, despacho de bagagem, esteiras e elevadores de bagagem, gestão do sistema de ar-condicionado e todos os sistemas da torre de controle do aeroporto. Os sistemas de OT nem sempre são monitorados com tanta atenção quanto os sistemas de TI, tornando-se mais vulneráveis a falhas e aos agentes de ameaças. Isso pode causar problemas como dificuldade de acesso a luzes de pouso e desativação de sinalização eletrônica.

Devido à complexidade da operação do aeroporto inteligente, as soluções de monitoramento permitem a configuração de interfaces para aprofundar a análise sobre um elemento específico da rede, seja um dispositivo de TI, seja de OT. Isso entrega aos gestores dos aeroportos brasileiros uma visão preditiva do todo e dos detalhes do ambiente.

Já há benchmarks de aeroportos com essa experiência:

Naples Airport – O terceiro maior aeroporto da Itália buscava unificar, automatizar e monitorar de forma contínua todos os ambientes de TI. A rede que suporta os processos do aeroporto, em especial, precisava avançar em performance e disponibilidade. Graças à visão preditiva conquistada com ajuda de uma plataforma de monitoramento multiprotocolo, falhas pontuais passaram a ser identificadas antes de que uma verdadeira crise surgisse. Hoje, a qualidade de serviços entregue pelo aeroporto de Nápoles aos passageiros suporta a constante expansão da indústria do turismo na região.

Em 2024, a soma de estratégias de monitoramento com um novo modelo de geração de energia nos data centers – o Bring Your Own Power – pode suavizar a jornada ESG dos aeroportos. A meta é tornar os aeroportos brasileiros um imã de investimentos, negócios e turismo.