Com a crescente adoção da computação em nuvem, surge a necessidade de enfrentar os desafios relacionados à gestão de dados ociosos. O armazenamento excessivo de informações não utilizadas pode resultar em desperdício financeiro, vulnerabilidades de segurança e impactos ambientais significativos. Para explorar esse tema, conversamos com Daniel Fulgido, Especialista em Nuvem e Líder Técnico de DevOps na Certsys, que compartilhou suas perspectivas com base em sua vasta experiência no setor. Confira!

Quais são os desafios mais comuns em relação à gestão de dados ociosos na nuvem? Que fatores geralmente contribuem para o acúmulo de dados não utilizados?

Quando falamos em dados ociosos, estamos sempre falando de desperdício financeiro. Manter grandes quantidades de dados armazenados na nuvem pode ter um custo significativo, então é preciso que eles existam para atender a alguma necessidade real da organização.

Além disso, é importante lembrar que grandes quantidades de dados tornam ainda mais complexas as questões relacionadas à segurança, conformidade e governança. Para citar um exemplo muito comum, dados ociosos são frequentemente negligenciados e armazenados em locais não seguros, o que aumenta a vulnerabilidade, podendo comprometer a integridade e confidencialidade das informações.

Com relação aos fatores que contribuem para o acúmulo de dados não utilizado, certamente a falta de políticas claras e atualizadas é um grande destaque, porém, não basta ter as políticas, é preciso que todos os colaboradores estejam treinados e conscientes sobre a importância do gerenciamento dos dados em nuvem e como fazê-lo de maneira adequada.

Com um processo de exclusão de dados obsoletos bem definido, um time treinado, monitoramento adequado e ferramentas automatizadas para o gerenciamento desses dados, certamente as empresas terão muito a ganhar, principalmente com a otimização dos seus recursos.

Quais são os impactos ambientais associados aos dados ociosos armazenados na nuvem?

A transformação digital desempenha um papel fundamental na corrida do desenvolvimento sustentável, principalmente com a sua capacidade de monitoramento de dados.  

Pensando no gerenciamento de dados em nuvem, temos muito o uso de provedores desses ambientes que são os famosos Data Centers e dentro do vasto portfólio de serviços, temos três tipos de utilização:  

  • Nuvem pública: Ambientes compartilhados entre organizações e indivíduos; 
  • Nuvem Privada: Dedicadas apenas para uma única organização hospedar e gerenciar; 
  • Nuvem Hibrida: Combinação dos dois modelos rodando aplicações especificas de acordo com a sua necessidade. 

Para o gerenciamento de um Data Center para prover todos esses serviços, é necessário a utilização de muitos recursos que geram impactos ambientais. Por exemplo, a hospedagem em nuvem precisa sempre estar online, então o provedor necessita que sua fonte de energia seja variada.  

O processamento desses servidores acaba gerando calor excessivo, onde podem danificar as próprias placas, então as máquinas exigem um sistema de resfriamento que também são poluentes. 

Para termos uma ideia do impacto à nível global, estima-se que os data centers ao redor do mundo usem aproximadamente 2% de toda eletricidade do planeta, emitindo a mesma quantidade de carbono que a indústria aérea, ou seja, manter dados ociosos armazenados na nuvem implica diretamente em percentuais como este.  

Quais são as implicações econômicas da gestão inadequada de dados na nuvem?

A gestão inadequada de dados e utilização dos serviços de nuvem podem ter várias implicações econômicas para as organizações. Pensando nessa redução de impacto, soluções como FinOps e Observabilidade começaram a ser mais utilizadas.  

Muitas empresas que contratam provedores de serviços em nuvem, escolhem as configurações de máquinas com base em sua estimativa de uso, mas pode ser que o tratamento e utilização dos dados possa subestimar ou superestimar os recursos. Com isso, entra a solução permitindo o acompanhamento em tempo real e o gerenciamento dos recursos alocados naquele maquinário, evitando desperdícios, por exemplo, como no uso de memória. Consequentemente, essa gestão ativa reduz também os impactos financeiros.  

É importante ressaltar que essas são medidas essenciais para contribuição de um desenvolvimento sustentável, mas a redução do impacto será de fato efetiva quando essas soluções forem aplicadas coletivamente por empresas que contratam esse tipo de serviço. 

Que medidas podem ser adotadas para identificar e gerenciar dados ociosos na nuvem de forma eficiente?

O gerenciamento de dados ociosos na nuvem é de fato um tema muito interessante, porque as medidas no geral costumam ser simples, mas ainda pouco praticadas. Para identificar quais conjuntos de dados estão sendo pouco ou não utilizados, primeiro, é preciso que se faça avaliações periódicas. Isso pode ser feito por meio de análises de uso, relatórios de atividades ou ferramentas de monitoramento.

Além das avaliações periódicas, gostaria de destacar outras medidas que podem ajudar:  

  • Definição de políticas de retenção de dados: estabelecer políticas claras de retenção de dados que determinem por quanto tempo certos tipos de dados devem ser mantidos é uma prática que recomendo para todas as organizações. Isso ajudará a evitar o acúmulo desnecessário e garantir a conformidade com regulamentos específicos.
  • Automação do processo de limpeza: utilizar ferramentas e tecnologias de automação para auxiliar na identificação e limpeza de dados ociosos é também uma excelente prática. Isso pode incluir scripts automatizados, políticas de expiração de dados ou até mesmo soluções de gerenciamento de dados na nuvem.
  • Categorização e classificação dos dados: implementar sistemas como esse permitirá uma melhor compreensão dos diferentes tipos de dados e sua relevância, facilitando a identificação de dados ociosos.
  • Monitoramento de uso e acesso aos dados: acompanhe de perto o uso e o acesso aos dados armazenados na nuvem. Isso ajudará a identificar quais dados estão sendo acessados com frequência e quais estão sendo pouco utilizados, permitindo que você tome decisões informadas sobre o gerenciamento desses dados.
  • Educação e conscientização dos usuários: é fundamental que todos os colaboradores estejam cientes da importancia de gerenciar adequadamente os dados na nuvem, portanto, educar as equipes sobre as políticas e incentivar a revisão e exclusão regular do que não é utilizado é essencial.  
  • Monitoramento dos custos: acompanhe os custos associados ao armazenamento de dados na nuvem e identifique áreas de desperdício. Isso pode envolver a análise de relatórios de faturamento da nuvem e a identificação de padrões de gastos desnecessários com dados ociosos.
  • Revisão regular das políticas e processos: faça uma revisão periódica das políticas e processos de gerenciamento de dados na nuvem para garantir que estejam alinhados com as necessidades em constante mudança da organização.  

Ao implementar medidas como essas, as empresas podem identificar e gerenciar de forma eficiente os dados ociosos na nuvem e otimizar o uso dos recursos. No final do dia, colocar em prática essas ações resulta também na redução de custos e melhoria da eficiencia operacional da empresa.   

Além da gestão eficiente de dados ociosos, quais outras práticas podem ser adotadas para reduzir o impacto ambiental dos serviços em nuvem?

Um primeiro passo importante é a otimização da infraestrutura. As empresas podem otimizar e muito a sua infraestrutura a partir da consolidação de servidores, da virtualização, utilização de hardware de baixo consumo energético e dimensionamento automático para ajustar recursos conforme a demanda. Além disso, optar por provedores de serviços em nuvem que utilizam fontes de energia renovável é uma excelente opção e tem se tornado uma prática cada vez mais comum devido a valorização dessas medidas.  

Gostaria de destacar mais algumas medidas que podem ajudar:  

  1. Computação em nuvem distribuída: em vez de concentrar todos os serviços em data centers centralizados, a computação em nuvem distribuída permite que as cargas de trabalho sejam executadas em data centers mais próximos dos usuários finais. Isso reduz a necessidade de transferências de dados de longa distância, resultando em menor consumo de energia e menor emissão de carbono.
  2. Uso eficiente de recursos: as empresas podem adotar práticas para garantir o uso eficiente dos recursos em nuvem, como desligar instâncias e recursos quando não estão em uso, otimizar o código das aplicações para melhorar o desempenho e reduzir o consumo de recursos, e implementar técnicas de compressão de dados para reduzir a quantidade de dados transferidos.
  3. Ciclo de vida dos equipamentos: ao fim de vida útil dos equipamentos de hardware utilizados nos data centers, é importante garantir sua reciclagem ou seu descarte ecologicamente responsável.

Um exemplo de sucesso bem interessante na redução do impacto ambiental dos serviços em nuvem é o caso da Salesforce. Em 2017, a empresa estabeleceu a meta de alcançar 100% de energia renovável em seus data centers e operações até 2022. Para suprir a sua demanda energética, iniciou investimentos em projetos de energia renovável, como parques eólicos e solares. Além disso, eles adotaram práticas de eficiência energética em seus data centers e infraestrutura em nuvem, resultando em uma redução significativa nas emissões de carbono. Essa abordagem sustentável não apenas reduziu o impacto ambiental da Salesforce, mas também se tornou uma vantagem competitiva, atraindo clientes preocupados com a sustentabilidade.

Esse exemplo demonstra como uma combinação de medidas, incluindo o uso de energias renováveis, otimização da infraestrutura e eficiência energética, pode contribuir para a redução do impacto ambiental dos serviços em nuvem e gerar ainda mais valor para a organização em um sentido mais amplo.