Chris Pennington
– Chris Pennington

A maneira como os provedores de co-location gerenciam o consumo de energia do cliente é tão importante quanto a disponibilidade, segurança e eficiência. Isso significa que o uso da terminologia “sustentabilidade” deve ser cuidadoso e universal como em outros procedimentos essenciais de negócios. Na última década, os compromissos e relatórios oferecidos por provedores de data centers que afirmam ser sustentáveis deixaram de ser uma demanda preferencial dos clientes e passaram a ser uma exigência. Os provedores de co-location estão se adequando para levar isso em consideração, sendo que alguns estão mais preparados que outros.

Como a maioria das mudanças de mercado, essa é impulsionada pelos clientes, que desejam assumir a responsabilidade pelo consumo de energia e o impacto ambiental das instalações dos provedores. No ano passado, mais de 23 mil empresas - representando US$ 67 trilhões em capitalização de mercado - divulgaram suas emissões por meio do CDP. Mais de 4 mil empresas e instituições financeiras agora estão trabalhando com a iniciativa Science-Based Targets para reduzir suas emissões. De acordo com a Accenture, 37% das empresas estabeleceram metas de neutralidade de carbono. E, ao mesmo tempo, a legislação deve tornar a divulgação obrigatória, como a Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativos, que abrange mais de 75% do faturamento das empresas da União Europeia, e os requisitos do DOE e SEC nos EUA.

Em breve, quase todas as empresas com uma pegada da carbono significativa na TI deverão relatar suas emissões de Escopo 1 (diretas), Escopo 2 (indiretas, por exemplo, de energia) e, possivelmente, Escopo 3 (outras emissões indiretas - como viagens de negócios ou emissões relacionadas a fornecedores que lidam com gases do efeito estufa, tais como processamento de dados em instalações em nuvem).

Apesar da seriedade com que os clientes tratam suas metas climáticas, termos como “carbono neutro”, “verde” e “movido a energias renováveis” ainda são frequentemente usados de forma ambígua para definir desempenho em sustentabilidade. Considerando isso, essa prática já não é mais sustentável. Para acabar com a era do "greenwash", nossa indústria precisa simplificar a terminologia de sustentabilidade para relatórios personalizados e comprovados sobre o uso de energia. Precisamos alinhar nossas métricas para eliminar qualquer dupla contagem de energias renováveis. E para empoderar os clientes, precisamos reconhecer a diferença entre energia efetivamente consumida que é livre de carbono e alegações anuais mais vagas sobre sustentabilidade.

Hoje, as empresas reconhecem que as funções de TI terceirizadas contam como parte de sua pegada ambiental - equipamentos e processamento em data centers de todos os tipos, seja em uma instalação co-location dedicada ou em um ambiente IaaS, PaaS ou SaaS.

No centro desta mudança está o reconhecimento de que, à medida que o mundo continua sua transição para uma economia digital, os data centers se tornaram uma parte crucial da cadeia de fornecimento de energia do cliente. Os provedores fornecem energia aos clientes da mesma forma que as concessionárias de serviços públicos fornecem energia para os provedores e temos oportunidades semelhantes para apoiar uma transição para energia limpa.

À medida que os clientes notificam suas emissões de Escopo 1, 2 e 3, eles precisam conhecer os detalhes da energia que utilizam nos nossos data centers - não apenas o consumo quilowatts-hora, mas também as fontes dessas horas e a origem dessas fontes. Somente assim eles estarão em posição de comunicar claramente a seus clientes finais, investidores e reguladores o quão sustentável é a sua pegada digital. E isso já está acontecendo. Muitos clientes querem saber de onde vem a energia e qual é a mistura para a energia fornecida ao data center. Isso valida nossa posição sobre redução de carbono e monitoramento, bem como os investimentos que estamos fazendo para construir um portfólio para fornecimento descarbonizado.

Precisamos de um mapeamento consistente

Nos relatórios gerais das emissões de Escopo 2, a indústria não possui total alinhamento. No mundo da contabilidade dos GEE, é reconhecida como prioritário evitar a dupla contagem das emissões. Infelizmente, o protocolo GEE estabeleceu dois métodos para orientar o mapeamento de energias de Escopo 2, mas eles desenvolveram uma ambiguidade. O primeiro método é baseado no “controle financeiro” (quem compra a energia), e o segundo é o “controle operacional”' (quem controla o uso). 

Enquanto o operador do co-location adquire energia para a instalação, o cliente determina como essa energia é utilizada. Para ser mais claro, alguns operadores de co-location relatam a carga de TI como uma emissão de Escopo 2 do co-location, pois eles adquiriram a energia, enquanto outros relatam a carga de TI como Escopo 3 do co-location, porque o cliente controla o uso. Como nem todos os operadores escolheram o mesmo método, isso provavelmente levou a alguma dupla contagem na plataforma de CDP (à qual a maioria da indústria reporta), com mais Escopo 2 sendo reportado do que realmente é utilizado.

Estamos trabalhando nisso e, assim como em muitas áreas de boas práticas em relatórios sustentáveis, os maiores provedores de serviços em nuvem estão cientes do problema e estão agindo, optando pelo caminho do “controle operacional”. Nós usamos este método nos Data Centers da Iron Mountain também, inserindo a carga de TI como Escopo 3 para não haver duplicidade com os clientes que a consideram como Escopo 2, mas nem todos os operadores de data centers estão de acordo com isso. Este é um tema cada vez mais importante à medida que as obrigações de relatórios de Escopo 2 dos clientes aumentam.

Energias renováveis não são suficientes

Acredito que neste ano também veremos uma mudança significativa na forma como tratamos a mistura de energia. Com o surgimento da Inteligência Artificial Generativa e as enormes demandas de energia que ela está criando, a indústria está reconhecendo a complexidade da geração de energia futura. Uma percepção-chave aqui é que o vento e a energia solar não serão suficientes por si só para atender à demanda por uma rede totalmente descarbonizada. Como a Microsoft afirmou em seu recente relatório ”Acelerando um Futuro Livre de Carbono”: "a descarbonização completa da rede exigirá uma abordagem multi-tecnológica que considere uma variedade de tecnologias livres de carbono, como eólica, solar, geotérmica, hidrogênio limpo, biomassa sustentável, nuclear, fusão, eficiência energética, armazenamento e captura e armazenamento de carbono”.

Esta será uma missão complexa e será nosso trabalho simplificá-la para o benefício dos clientes. Um provedor de data center global sustentável precisará não de uma, mas de várias fontes de geração de energia, e a mistura em cada local terá que ser definida e reportada claramente para alimentar os relatórios de Escopo 2 do cliente. Enquanto os VPPAs ainda terão um papel vital e continuaremos a combinar 100% de nossa energia anual para incentivar o investimento em energias renováveis, a métrica predominante neste relatório será os níveis reais de emissão de CO2 e a estrutura dentro da qual o operador irá designar esses relatórios do cliente será o progresso rumo à descarbonização e redução de gases do efeito estufa.

24/7 CFE

A Iron Mountain Data Center continua sendo um dos únicos provedores globais de co-location a se comprometer com o uso de eletricidade 100% livre de carbono, durante 100% do tempo (conhecido como #247CFE) até 2040. Google e Microsoft também se comprometeram a se tornar empresas livres de carbono 24/7. É necessário reformular a cadeia de fornecimento de energia para iniciar esse processo.

Reestruturar o modo de aquisição de energia dessa maneira cria uma nova oportunidade aos clientes. Para apoiar nosso objetivo, implementamos a ISO 14064-1, o que permite aos clientes adotarem com confiança nosso desempenho credenciado na redução dos GEE como parte de seus relatórios de sustentabilidade. Uma das descobertas mais gratificantes tem sido o nível de interesse.

Muitos clientes que já têm relatórios de sustentabilidade sofisticados estão ansiosos para relatar sobre a descarbonização total. Alguns vão ainda mais longe, buscando um serviço de matchmaking que seja livre de carbono no qual, por exemplo, um PPA de longo prazo com um projeto de abastecimento solar pode ser creditado diretamente à energia consumida por seus servidores nas instalações de co-location.

Os benefícios de fornecer esse tipo de solução avançada de sustentabilidade são mútuos. Para o cliente, o provedor de co-location se torna um parceiro de energia limpa que impulsiona seu desempenho em sustentabilidade para novos patamares. Já o provedor pode expandir seu papel como fornecedor confiável em novas áreas e ao longo de um período mais longo. Em outras palavras, a energia livre de carbono é uma solução valiosa que tem o potencial de diferenciar serviços em um mercado competitivo e comoditizado.

À medida que a sustentabilidade em data centers for reformulada em uma solução fundamental focada no cliente, em vez de ser apenas um valor agregado, acredito que podemos esperar uma utilização muito mais rigorosa e padronizada de métricas e termos, nos quais a prática de "greenwash" seja substituída por relatórios mais precisos e detalhados.

Dia após dia, a sustentabilidade é tratada mais como uma questão de compliance especificada em RFPs, também avaliada e reportada da mesma maneira. Os provedores de data center precisam ir além do PUE, WUE e CUE e reconhecer que oferecem não apenas conectividade de baixa latência, segurança física e lógica, adequação a disponibilidade e compliance, mas também sustentabilidade transparente e rastreável com um caminho para a descarbonização total. Isso é o que o cliente quer. Ou seja, só pode ser algo positivo.