Quando se trata de modernizar ambientes de TI, as pessoas estão aprendendo que a modernização pode funcionar melhor com uma abordagem de nuvem híbrida, especialmente quando envolve cargas de trabalho de missão crítica. Mais especificamente, as empresas devem considerar com cuidado a natureza dos aplicativos e cargas de trabalho relacionados e a infraestrutura mais adequada para executá-los de forma segura e confiável.
Os mainframes são projetados para ser a plataforma mais confiável para operações de grande volume – e cargas de trabalho de serviço de dados que exigem segurança, precisão e tempos de resposta previsíveis – incluindo processamento de folha de pagamento, core banking e subscrição de seguros. Com as novas soluções que utilizam IA generativa, a capacidade de modernizar aplicações de mainframe se torna mais fácil. Enquanto isso, os avanços na automação e no suporte para IA, DevOps, APIs, linguagens de programação modernas e integração de dados prepararam os mainframes para continuar sendo um carro-chefe empresarial por muitos anos.
É tudo ou nada
Há vários motivos pelos quais a modernização não é um esforço do tipo tudo ou nada, com a migração à nuvem pública ou uma abordagem totalmente local como resultado final. Primeiro, a migração completa à nuvem pública geralmente move ou reescreve 100% do código do aplicativo, normalmente milhões de linhas. Isso pode ser de enorme complexidade, com prazos de migração que se estendem de 5 a 10 anos. Em segundo lugar, a maioria dos esforços de migração também exige um novo modelo de dados juntamente com um plano de migração de dados, o que pode ser um risco significativo ao negócio. Terceiro, as migrações alteram a forma como os aplicativos se integram ao hosting server e muitas vezes dividem o contexto transacional em múltiplas plataformas, o que pode trazer mais risco e complexidade aos projetos de migração. Por fim, quando as empresas tentam migrar cargas de trabalho, muitas vezes podem ter dificuldades para atender a requisitos não funcionais, como desempenho, segurança e resiliência.
É importante compreender os objetivos de negócios e os desafios envolvidos na migração completa do mainframe à nuvem pública. Para começar, as empresas que passam por tais transformações normalmente precisam executar cargas de trabalho paralelamente por algum tempo, o que pode ficar muito caro. Além disso, baseado em minhas conversas com clientes, a nuvem pública tende a ter maior latência do que as empresas estão acostumadas em seus ambientes de mainframe, fazendo com que os tempos de resposta das transações se estendam além do que seus clientes consideram aceitável.
Como resultado, o número de migrações bem-sucedidas de aplicativos de missão crítica à nuvem é insignificante, em comparação com o número de falhas demonstráveis.
Um exemplo disso é uma multa de 62 milhões de dólares (313 milhões de reais, em valores atuais) aplicada contra um grande banco europeu em 2022, por falhas de gestão de risco operacional e de governança após uma migração mal executada do mainframe à nuvem em 2018. Os problemas foram mostrados em pesquisas recentes da Futurum que detalham a falha.
Um processo complexo, o projeto de migração do banco envolveu 85 subcontratados e durou quase três anos. Embora os dados em si tenham sido migrados com sucesso, a Autoridade de Conduta Financeira (FCA) e a Autoridade de Regulamentação Prudencial (PRA) do Reino Unido multaram o banco por problemas técnicos que impediram um grande número de clientes de acessar serviços bancários de agências, telefone, on-line e por celular durante semanas. Apesar de diversas revisões no conselho e auditorias de projetos de terceiros, o projeto causou situações caóticas aos clientes e a demissão do CEO do banco.
[Nota do editor: é a história do banco britânico TSB, que falhou em sua migração do mainframe em 2018, causando uma interrupção que bloqueou o acesso de dois milhões de clientes às suas contas bancárias durante semanas. Os órgãos reguladores que emitiram a multa de 62 milhões de dólares disseram que o TSB terceirizou sua migração de modo imprudente, sem garantir que o contratado – propriedade da empresa matriz do TSB – estivesse à altura do trabalho.
É bom salientar que, após a migração fracassada, o TSB fez um acordo de modernização mais comedido em 2019 que, acredita-se, custou 1 bilhão de dólares (5 bilhões de reais). Seu novo parceiro é a IBM.]
O valor da modernização de aplicativos híbridos
Para manter os aplicativos de missão crítica atualizados e funcionando no ambiente adequado, as empresas devem adotar uma abordagem de nuvem híbrida à modernização que inclua a mais recente tecnologia de mainframe e uma estratégia de posicionamento de carga de trabalho adequada à finalidade. Quando as empresas falam sobre projetos de migração, pode parecer que há um esforço excessivo para desligar o mainframe, mas nas minhas conversas com clientes tenho visto a maioria movimentar uma porcentagem muito pequena da sua carga de trabalho, e as mesmas empresas aumentando sua capacidade geral do mainframe. De fato, um estudo da Deloitte de 2020 com mais de 200 responsáveis pelo mainframe descobriu que 91% priorizarão sua capacidade de mainframe nos próximos 12 meses.
Ainda que nem todos os aplicativos façam sentido para serem executados no mainframe, ele sem dúvida foi construído para ser a melhor plataforma de processamento seguro de transações e cargas de trabalho de atendimento de dados. É por isso que tantas empresas estão adotando uma abordagem de modernização de aplicativos de mainframe, destacada pela Deloitte como uma das tendências tecnológicas mais importantes em 2023.
IA generativa aprimora a modernização de aplicativos
Embora a IA generativa esteja mais intimamente associada aos assistentes de linguagem natural, também é uma enorme promessa no campo do desenvolvimento de software, podendo ajudar a tornar a codificação muito mais rápida, menos repetitiva, mais consistente e aumentar as habilidades do programador. Para iniciativas complexas, como a modernização de aplicativos de mainframe, a IA generativa é extremamente valiosa.
De fato, estão surgindo novas ferramentas destinadas especificamente a essa tarefa. Usando recomendações geradas por IA para escrita de código, por exemplo, os programadores podem agora modernizar muito mais facilmente a linguagem comum orientada a negócios (COBOL) – a linguagem processual baseada em objetos que está no centro do processamento de dados de mainframe. Ferramentas generativas de IA com modelos básicos compatíveis com COBOL e Java permitem que as organizações agilizem o trabalho de desenvolvimento do código, melhorando a produtividade do programador – uma consideração importante pela contínua falta de talentos. É importante, com essas ferramentas, criar códigos consistentes, projetados adequadamente e de alta qualidade, para que as iniciativas de modernização possam seguir com menos riscos e menor tempo de retorno.
No futuro, ferramentas adicionais de desenvolvimento de software continuarão a fazer da proposta de modernização do mainframe – em oposição à migração em massa para fora da plataforma – uma parte aconselhável da agenda global de transformação digital das organizações. Ao aproveitar o desempenho, a resiliência, a segurança, a agilidade, a adequação regulatória e outros pontos fortes inerentes às plataformas de mainframe e de nuvem híbrida, as empresas podem navegar no cenário tecnológico em evolução com uma abordagem correta por muitos anos.