Graças às empresas high tech, a cidade de Campinas é hoje conhecida como "Vale do Silício Brasileiro". No município estão presentes 32 das 500 maiores empresas do mundo de TI. De acordo com  o secretário de Desenvolvimento Econômico, Social e Turismo de Campinas, Samuel Rosilho, a cidade é atrativa quando o assunto é data center porque tem as melhores condições de infraestrutura no país para este tipo de empreendimento.

Em termos de logística Campinas é cortada por cinco das principais rodovias do Brasil: Anhanguera, Bandeirantes, Dom Pedro I, Adhemar de Barros e Santos Dumont. Segundo o secretário, Campinas tem hoje os menores índices de perdas de água e energia elétrica dentre todas as cidades do país. "Sabemos como essas questões são críticas para o sucesso da operação dos data centers. Hoje a média nacional de perdas no sistema elétrico é de 16%. Em Campinas, esse percentual é de apenas 6%. Quanto à água, as perdas são de 19%, isto é, as menores do Brasil, e estamos trabalhando para reduzir cada vez mais esses índices", destaca.

Campinas dispõe de 15 centros de Pesquisa e Desenvolvimento, 18 instituições de ensino superior e 5 parques tecnológicos. Nos últimos dois anos, foi reativado o Conselho de Ciência, Tecnologia e Inovação que ajuda a planejar e olhar a cidade inteligente do futuro. A cidade é o primeiro município, no país, a construir um planejamento estratégico para as políticas municipais de inovação para 10 anos. Em Campinas foi criada a primeira aceleradora municipal de startups do país que premia a inovação, além de oferecer cursos gratuitos de formação de gestores de inovação. O marco legal foi modernizado e hoje a cidade dispõe de leis de incentivos fiscais para startups e empresas consolidadas no mercado.

Para Chris Torto, CEO e fundador da Ascenty, a grande razão de Campinas ser mais atrativa, quando o tema é data center, é o fato da cidade ter uma rede própria de mais três mil quilômetros, que possibilita interconexão com data centers em São Paulo e todos os operadores de telecomunicação. 

"A grande vantagem é telecom. Não é energia, não é custo de energia. É a interconexão. Nenhuma decisão da Ascenty, em relação à Campinas foi tomada levando em consideração incentivo fiscal. Com ou sem incentivo fiscal a gente procurava por interconectividade. Incentivo fiscal é muito bom, mas isso não muda a decisão da Ascenty de investir ou não em determinada cidade", declara.   

Já para a Aceco TI o que torna Campinas atrativa são fatores como preço de terreno, disponibilidade de energia elétrica, água e  mão de obra qualificada.

"Os investimentos têm migrado para Campinas por essas razões, mas principalmente pela qualidade da mão de obra local, já que a cidade tem um alto grau de desenvolvimento com faculdades voltadas para TI e Telecomunicações", afirma o diretor de Marketing da Aceco TI, Fernando Almeida Prado.

Incentivos Fiscais e medidas sustentáveis

Pelos dados apresentados, é fato que a região pode perfeitamente ser chamada de "Vale do Silício Brasileiro", uma analogia ao Vale do Silício, localizado na Califórnia, nos Estados Unidos, região aonde estão instaladas empresas de alta tecnologia.

Para o secretário Samuel Rosilho, Campinas poderia ser também chamada de "Vale do Silício Verde", e destaca que as empresas ali instaladas têm uma preocupação e desenvolvem medidas sustentáveis. Segundo ele, as empresas cada vez mais têm se despertado para a sustentabilidade socioambiental e isto não se configura somente como uma estratégia de marketing, mas como uma real intenção de preservar e recuperar o meio ambiente para as próximas gerações. O secretário cita como exemplo, o Data Center do Banco Santander, instalado no pólo tecnológico da Ciatec, que fez um parque verde para as famílias e manteve preservada boa parte da vegetação da área ocupada para proteger as residências da poeira.

No contexto da União, o secretário frisa a política de compras sustentáveis do Governo Federal, em que órgãos públicos inserem critérios de sustentabilidade nos editais de licitação para adquirirem “materiais e serviços verdes”. De acordo ele, cabe destacar a relevância desta política, em vigor desde 2010, já que as compras do governo representam 10% do PIB brasileiro.  

Em Campinas foram adotados critérios sociais para compras públicas de até 80 mil reais em cumprimento à Lei Federal 147.  

"Visando reduzir as emissões de gases de efeito estufa, compramos 10 ônibus 100% elétricos. Outro projeto em andamento é o de geração distribuída de energia elétrica no Paço Municipal; o projeto para instalação de placas solares no terraço da Prefeitura está pronto e a contratação do fornecedor vencedor da licitação ocorrerá até o final deste ano. Temos também leis de incentivos fiscais, que atraem empresas de alta tecnologia, consideradas ambientalmente sustentáveis por serem pouco poluentes."

Gargalos

Segundo o secretário, o  fato do Brasil ter problemas com gestão de energia elétrica e alto custo não impedirá futuros investimentos estrangeiros no setor de data center. De acordo com Rosilho, as tarifas do Brasil não são maiores do que as dos países europeus e o sistema elétrico brasileiro conta com um agente regulador, que é a Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneel. 

A Ascenty também partilha da mesma opinião e afirma que independente de todo gargalo que o país tenha, a demanda é muito grande. "O Brasil tem 260 milhões de celulares, é um dos países que mais usa o Twitter e Facebook. A cada trimestre dobra o número de smartphones e para quebrar essa latência o data center tem que estar no Brasil. Por isso muitas empresas estão se instalando no país. A Microsoft, a IBM, a Amazon. Enfim, todo mundo está no Brasil."

A Aceco TI afirma que, "apesar dos dissabores econômicos, o Brasil tem uma taxa de emprego elevada e tanto empresas quanto pessoas físicas são consumidoras de TI. Isso é ainda um enorme atrativo para investir no Brasil."

De acordo com o secretário, a crise atual vivida pelo país é sinônimo de oportunidade para os setores público e privado inovarem e criarem novos mercados. Para Rosilho, a instalação de uma situação de crise não decorre somente das contas nacionais e muito menos pelo comportamento das variáveis de câmbio e juros, mas depende também das expectativas dos empresários. 

Em Campinas, vem sendo feito um trabalho de desburocratização das novas leis de incentivos fiscais, que contemplam data center. "Nossa cidade vem crescendo a uma média de 4% ao ano, nos últimos 10 anos, tendo um desempenho por muitas vezes superior à média nacional. Não temos dúvida de que aqui é um local privilegiado para quem quer se instalar no Brasil. Campinas já se preparou para receber data centers, pois modernizou o seu marco legal de incentivos fiscais. Além disto, os data centers podem usufruir, na nossa cidade, da melhor infraestrutura do país, em termos de água, energia elétrica e logística", conclui o secretário.