A Microsoft está aproveitando a tecnologia dos submarinos e trabalhando com pioneiros em energia marinha na segunda fase do Projeto Natick, colocado em prática em 2015, que tem como meta desenvolver data centers submarinos autossuficientes, que possam fornecer serviços de nuvem rápidos para cidades costeiras. Um protótipo experimental, do tamanho de contêineres, está processando cargas de trabalho no fundo do mar perto das Ilhas Orkney, na Escócia.
 
A implantação do data center Northern Isles no European Marine Energy Centre representa um marco no Projeto Natick, um esforço de pesquisa de longo prazo para investigar a fabricação e a operação de unidades de data center ambientalmente sustentáveis e pré-montadas, que possam ser encomendadas para serem rapidamente implantadas e funcionar sem luz no fundo do mar por anos.
 
Os 12 metros de data center, têm 12 compartimentos, contendo um total de 864 servidores e infraestrutura de sistema de refrigeração integrada. O data center foi montado e testado na França, e levado em um caminhão-plataforma para a Escócia, onde foi anexado a uma base triangular de lastro para ser implantado no fundo do mar.
 
“Esse é um tipo de demanda doida”, disse Peter Lee, vice-presidente corporativo da Microsoft AI and Research, que lidera o grupo New Experiences and Technologies, ou NExT. “O Natick está tentando chegar lá.”
 
O grupo de Lee persegue o que o CEO da Microsoft, Satya Nadella, chamou de “momentos relevantes” com o potencial de transformar o núcleo dos negócios da Microsoft e a indústria de tecnologia computacional. O Projeto Natick é uma ideia fora da caixa para acomodar o crescimento exponencial da demanda por infraestrutura de Computação em Nuvem próxima de centros populacionais.
 
“Para a entrega real da IA, somos dependentes da nuvem atualmente”, disse Lee. “Se pudermos estar dentro de um patamar da internet para todos, isso não apenas beneficiaria nossos produtos, mas também aos produtos de nossos clientes.”
 
Microsoft prepara o data center em Northern Isles para a implantação na costa das Ilhas Orkney, na Escócia. (Foto: Scott Eklund/Red Box Pictures)
 
 
Data center e sinergia submarina
 
A primeira fase do projeto Natick mostrou que o conceito de data center submarino é viável. A fase dois é focada em pesquisas que comprovem se o conceito é praticável logisticamente, ambientalmente e economicamente.
 
No início da fase 2, a equipe sabia que a fabricação em escala de um data center submarino demandaria uma expertise externa. Por isso, a Microsoft escolheu trabalhar com o Naval Group, uma companhia de 400 anos, sediada na França, com conhecimento de engenharia, produção e manutenção de embarcações militares, submarinos e tecnologias marinhas de energia.
 
A equipe Microsoft apresentou ao Naval Group as especificações gerais do data center subaquático e deixou que a companhia liderasse o design e o desenvolvimento do navio implantado na Escócia.
 
“À primeira vista, pensamos que havia uma diferença gigantesca entre data centers e submarinos, mas, na verdade, eles têm muita sinergia”, contou Eric Papin, vice-presidente sênior, diretor técnico e de inovação do Naval Group.
 
Papin observou que submarinos são essencialmente grandes tanques de pressão com gerenciamento de dados complexos e infraestruturas de processamento para gerenciar navios e outros sistemas integrados, de acordo com rigorosos requisitos de eletricidade, volume, peso, equilíbrio térmico e refrigeração.
 
Pesquisa aplicada
 
A equipe do Project Natick passará os próximos 12 meses monitorando e gravando o desempenho do data center, desde o consumo de energia e os níveis de umidade interna até a temperatura.
 
O fundo dos oceanos é gelado, oferecendo acesso gratuito ao resfriamento, que é um dos maiores custos dos data centers em terra. Debaixo d’agua, o data center também poderia servir como âncora para a energia renovável marinha, como parques eólicos ou bancos de turbinas de maré, permitindo que as duas indústrias evoluam em sincronia.
 
Por enquanto, o Natick é apenas um projeto de pesquisa aplicada, focado em determinar a viabilidade econômica das operações desse tipo de data center próximo a cidades populosas a fim de prover melhores soluções na nuvem para um mundo cada vez mais conectado.
 
“Quando você voa para a Lua, pode nunca chegar lá”, diz Lee. “Seria ótimo se conseguisse, mas aprendemos muito mais com o processo ao resolver problemas inesperados na trajetória. Isso está acontecendo neste caso. Estamos aprendendo sobre falhas de discos, design de rack, engenharia mecânica de sistemas de resfriamento e essas coisas serão colocadas em nossos data centers normais.”
 
O conceito de data center subaquático foi originalmente apresentado em um documento preparado para um evento da Microsoft, chamado ThinkWeek, que incentivou os funcionários a compartilhar ideias inovadoras. O grupo de Lee ficou intrigado. Apenas 12 meses após o lançamento do Projeto Natick, em julho de 2014, a equipe implantou um protótipo de prova de conceito, construído em laboratório, nas águas calmas e rasas da Califórnia.
 
A embarcação de prova de conceito operou por 105 dias. Incentivada pelos resultados e potencial impacto no setor, a equipe do Projeto Natick avançou para projetar, fabricar e testar o módulo em escala completa, implantado na Escócia. A versão mais recente foi projetada para permanecer em operação sem manutenção por até cinco anos.