A pandemia da Covid-19 colocou em evidência nosso sistema de saúde, as necessidades de hospitais e médicos e o atendimento aos pacientes. Embora as questões sobre cuidados de saúde inevitavelmente despertem debates acalorados sobre políticas públicas, há um amplo consenso sobre os dois principais fatores que impedem o alcance da meta de uma prestação de cuidados de saúde melhor e mais eficiente. Um, é claro, é o custo e o outro, é a mão de obra.

Dentro desse contexto, a Telemedicina, autorizada no Brasil, desde abril de 2020, com a Lei nº 13.989/20, que entrou em vigor para atender a crise causada pelo coronavírus (SARS-CoV-2), surge como um divisor de águas, pois permite que o já sobrecarregado contingente de médicos e enfermeiros disponíveis avaliem, diagnostiquem e tratem pacientes em um ambiente digital, ao invés de forçar um paciente a entrar em um consultório físico, clínica ou pronto-socorro.

Um relatório recente do "Global Market Insight", prevê que a Telemedicina mais do que triplicará sua participação de mercado até 2025, saltando de US$ 38,3 bilhões para US$ 130,5 bilhões. Ao longo do caminho, os data centers são peças essenciais para a infraestrutura de nuvem necessária para Telemedicina de todos os tipos.

De acordo com especialistas, data centers robustos continuarão crescendo em importância, à medida que as inovações médicas baseadas em tecnologia se consolidarem. A tendência é que além dos data centers de última geração, as conexões mais rápidas habilitadas pelas redes 5G também permitam o avanço dos aplicativos de Telemedicina.

Para explorar mais o assunto, a DatacenterDynamics conversou com Raphael Kaeriyama e Silva – gerente médico de Telemedicina do Grupo NotreDame Intermédica (GNDI), que reforça que o atendimento presencial é essencial para muitos problemas de saúde, mas a Telemedicina é ideal para muitos outros cenários. Leia a seguir.

DatacenterDynamics: A Telemedicina é uma realidade no Brasil hoje ou ainda é uma tendência?

Raphael Kaeriyama e Silva: A Telemedicina no Brasil é uma realidade em constante expansão e consolidação. Desde sua autorização em abril de 2020, a Telemedicina vem se mostrando como um facilitador no acesso à saúde, por atuar em diversas sub-áreas, tais como, teleconsulta, telemonitoramento, teleterapia, telediagnóstico, entre outros. Ao todo, já foram realizados mais de 7,5 milhões de atendimentos no país via Telemedicina desde 2020, com mais de 50 mil médicos atuantes por meio dessa modalidade, o que demonstra uma aderência e satisfação não apenas do paciente, mas também do profissional de saúde.

O serviço de Telemedicina do GNDI, lançado apenas cinco dias após a autorização pelo Governo Federal, já soma 2 milhões de atendimentos remotos e é referência para consultas de pronto-atendimento e também eletivas. A Telemedicina veio para ficar e teve este sucesso e aceitação, por conta da pandemia porque permitiu que médicos trabalhassem de suas casas com toda a segurança e ampliou o acesso à saúde da população que pode ser atendida com segurança, eficiência, sem gastos com deslocamento ou de tempo.

DCD: Quais as principais áreas em que a Telemedicina se aplica?

R.K.S.: A Telemedicina traz valor para diversos segmentos do cuidado, dentre os quais, na assistência (acompanhamento, diagnóstico, tratamento, vigilância epidemiológica), na prevenção a doenças e lesões, na promoção de saúde, na educação e na pesquisa em saúde.

Do ponto de vista assistencial, diversas especialidades podem usufruir dessa modalidade de atendimento para expandir sua zona de acesso, não apenas médica, como cardiologia, endocrinologia, dermatologia, clínica médica, mas também especialidades multidisciplinares, como psicologia, nutrição e fonoaudiologia.

DCD: Qual será o legado da saúde digital após a pandemia?

R.K.S.: A pandemia acelerou a Transformação Digital e modificou de forma ampla diversos hábitos dos brasileiros, dentre eles, o cuidado em saúde.

De modo sinérgico com outros setores da economia, em que a velocidade, praticidade e autonomia se tornam critérios disruptivos, a digitalização da saúde deixou claro como foi fundamental impor tais características na jornada de cuidado dos pacientes para combate do coronavírus.

A saúde digital tornou essa luta possível, não apenas dando velocidade às soluções, mas também trazendo qualidade na sua resolução. Um dado interessante sobre isso é o fato de 65% dos pacientes que não utilizaram nenhum aspecto da saúde digital (agendamento, prescrição digital, consultas médicas, notificações, etc) a considerarem útil e que apenas não a utilizaram ainda por não terem tido oportunidade.

DCD: Qual será o impacto das healthtechs no futuro do mercado de saúde?

R.K.S.: As healthtechs tiveram um crescimento acelerado em 2020 e 2021 e a tendência é que cresçam ainda mais em 2022, principalmente, pela chegada de tecnologias como o 5G, que tendem a possibilitar uma gama ainda maior de soluções digitais.

A tendência é que cada vez mais as soluções geradas por essas empresas se tornem "plugáveis" nas operações pré-existentes, gerando ganhos exponenciais e mais rápidos do que soluções criadas de maneira in house. Isso porque as healthtechs têm a capacidade de mudar suas rotas ("pivotar") muito mais rápido e, com isso, se adequar à necessidade ou dor que estão se desafiando a solucionar.

O mercado tende a se beneficiar muito com as healthtechs; isso, claro, se o foco delas for em sanar uma dor real e não uma dor criada.

DCD: Em 2022, a saúde do brasileiro dependerá do grau da maturidade digital de hospitais, clínicas e laboratórios?

R.K.S.: Hoje em dia é praticamente unânime que a digitalização da operação em saúde traz benefícios, não apenas por tornarem real a gestão por meio de dados, mas, também, por tornarem o cuidado mais seguro.

Ter um prontuário eletrônico, por exemplo, pode mitigar erros inerentes à falta de informação que leva a uma imprudência do cuidado. Isso porque ele torna mais perpétuo o armazenamento da informação e facilita a sua busca pelo médico, quando necessária.

Ainda que não seja uma condição sine qua non, quanto mais madura for a digitalização da operação, maior a tendência de se ter uma operação mais acessível, eficiente e segura.

DCD: Que tecnologias são essenciais para a consolidação da Telemedicina no país?

R.K.S.: Para citar as tecnologias essenciais à telemedicina de forma ordenada, podemos colocar dois pilares como fundamentais: segurança e eficiência.

Dentro da segurança, é fundamental que o modelo de armazenamento de dados permita o seguimento adequado da LGPD (lei nº 13.709), e que haja estratégias de blindagem e rastreamento de acesso para evitar vazamentos como alguns casos vistos recentemente.

No âmbito de eficiência, é preciso, primeiramente, melhorar ainda a capacidade de acesso da população a tecnologias básicas como boa qualidade de internet.

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