A crescente demanda por serviços digitais na América Latina está impulsionando uma onda de investimentos na construção e expansão de Data Centers na região. De acordo com o último estudo de mercado da DCD, 63,82% dos participantes planejam investir nesses projetos nos próximos meses, evidenciando um setor que está em constante evolução.

Philippe Vivia, Diretor de Construção da Elea Digital Data Centers, ressalta que a inteligência artificial (IA) está desempenhando um papel crucial nessa transformação. A IA, espera-se, não deve apenas otimizar o projeto e a construção de Data Centers, mas também adaptar a infraestrutura para lidar com maiores dimensões e consumo de energia. “Além disso, espera-se que o uso de IA permita capacidades e densidades ainda maiores por rack. Embora a influência da IA comece a mostrar os primeiros sinais concretos, espera-se um crescimento contínuo nos próximos anos”, diz ele.

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Philippe Vivia, Diretor de Construção da Elea Data Centers – Philippe Vivia, Elea Digital Data Centers

O impulso em direção à IA também é apoiado por Victor Arnaud, Presidente da Equinix no Brasil, que afirma que o mercado já enfrentava uma demanda crescente por capacidade de processamento e armazenamento de dados, que agora recebeu um impulso ainda maior com a popularização da IA generativa. “Os chips anunciados recentemente pelos principais fornecedores prometem uma velocidade de processamento mais de 20 vezes mais rápida do que os chips disponíveis atualmente. Essas peças de hardware mais poderosas geram mais calor, levando-nos a repensar os métodos de resfriamento do servidor”.

De acordo com Arnaud, para atender a essas cargas de trabalho intensivas em computação, a Equinix está implementando resfriamento líquido em seus Data Centers. “Alguns números de mercado ajudam a identificar os limites de densidade de potência nos quais o resfriamento a ar se torna ineficiente: 200 W no espaço de uma unidade de rack de Data Center padrão, 350 W no espaço de duas unidades de rack e 40 kW no espaço de um rack de servidor padrão de 600 milímetros de largura. Esses números, chamados de TDP (Thermal Design Power), descrevem aproximadamente o fluxo de calor em uma única peça de silício”.

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Victor Arnaud, Equinix – Foto: Assessoria de imprensa

O presidente prevê que o resfriamento líquido seguirá uma trajetória ascendente nos próximos anos. “Entre os clientes da Equinix, muitos já estão usando GPUs e implementando e avaliando métodos de resfriamento líquido, especialmente para cargas de trabalho que exigem baixa latência e interconexão”.

Ele acrescenta: “Na Equinix, investimos há anos no desenvolvimento da infraestrutura necessária para a adoção de refrigeração líquida por nossos clientes e, em dezembro de 2023, anunciamos planos para expandir o suporte a tecnologias avançadas de resfriamento líquido, como direto para chip, em mais de 100 de nossos Data Centers em todo o mundo, incluindo São Paulo”.

A Nova Revolução no Design

José Alberto Llavot, Gerente de Pré-Vendas e BDM da Schneider Electric, diz que algumas das principais tendências de mercado na região incluem o desenvolvimento de instalações de hiperescala com foco em sustentabilidade, soluções de negócios focadas em aplicações de edge computing e integração de tecnologias de automação. “Nos Data Centers existentes, o foco é em eficiência energética, adoção de nuvem híbrida, cibersegurança e monitoramento remoto para uma gestão mais eficaz”, diz.

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José Alberto Llavot, Schneider Electric

Llavot também acredita que o aumento constante das soluções de IA é a nova revolução no design, construção e operação. “A IA está exigindo que os gabinetes de servidores para essa tecnologia exijam quantidades de energia elétrica ultra-alta e, consequentemente, gerem quantidades de calor que são difíceis de manusear pelos meios tradicionais de refrigeração. Os servidores utilizados para aplicações de IA permitem uma grande quantidade de processamento de informações em cada vez menos espaço físico”, explica.

Ele afirma que, por isso, o que a Inteligência Artificial está propondo do ponto de vista da infraestrutura é a concentração de cargas elétricas e térmicas em uma pegada menor.

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Marcos Paraíso, Modular Data Centers

“Isso está remodelando a maneira como distribuímos energia diretamente para o servidor e, acima de tudo, usando sistemas de resfriamento líquido direto para o servidor com maiores capacidades de extração de calor do que os sistemas tradicionais. A mudança nas instalações elétricas e mecânicas implicada pela IA está repensando fundamentalmente a maneira como os servidores são habilitados no Data Center”.

IA impulsiona novos investimentos e tecnologias alternativas

Marcos Paraíso, Vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da Modular Data Centers, ressalta que com a IA vem a necessidade de grandes capacidades de infraestrutura para acomodar grandes volumes de servidores usados para o treinamento de modelos de machine learning e IA, e o aumento da densidade de energia exigida por eles para sua operação.

“Nesse sentido, um rack de servidores com GPUs pode exigir de 20 kW a 100 kW ou mais em sua capacidade máxima. Atualmente, nenhum Data Center no Brasil está preparado para atender esse tipo de exigência em grandes volumes. Isso impulsiona novos investimentos e a necessidade de necessariamente usar tecnologias alternativas baseadas em refrigeração líquida. No momento estamos discutindo alguns projetos com esse tipo de exigência e há uma preocupação em não só conseguir atender essa demanda hoje, mas também a perspectiva de exigências ainda maiores no futuro”, disse Paraíso.

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Horacio Rodríguez, Rittal

Horacio Rodríguez Sánchez Aldana, Gerente de Vendas de TI México, América Central e Caribe da Rittal, destaca o papel da IA na operação. “A IA pode analisar grandes quantidades de dados, prever padrões de consumo de energia e otimizar a distribuição, além de monitorar constantemente equipamentos e o ambiente e prever quando a manutenção é necessária, além de automatizar tarefas repetitivas”.

Design Generativo

Sonia Keiko, VP de Novos Negócios e Inovação da Engemon Engenharia, acredita que o setor está caminhando em uma direção otimista com ferramentas transformadoras. “Podemos citar uma das principais ferramentas: o design generativo que, com base nos requisitos previamente estabelecidos pelo usuário, gera uma série de opções de design de espaço, volumetria e conforto térmico para que o usuário qualificado possa tomar melhores decisões”.

“Além disso”, acrescenta Keiko, “o tempo de resposta a falhas é reduzido, pois a inteligência artificial direciona a manutenção para uma abordagem preditiva proativa, prevendo com mais precisão a vida útil de componentes vulneráveis, fuga térmica de dispositivos e vazamentos no sistema de resfriamento”.

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Sonia Keiko, Engemon Engenharia

Ela também destacou outras tendências essenciais. “A industrialização da construção civil, por meio de padronizações, metodologias BIM e pré-montagens, surge da necessidade de maior agilidade nos projetos para atender às demandas, bem como da sustentabilidade, que atua como pilar fundamental para que grandes Data Centers adotem determinadas práticas em busca de melhores condições de financiamento”.

Junto a esses fatores, Keiko destaca que a eficiência energética em equipamentos e metodologias é fundamental, já que a demanda de energia é um dos maiores desafios na implementação desses projetos.

“Por fim, falando sobre o futuro, a manutenção preditiva se tornará um recurso básico e igualmente essencial. Ou seja, manutenções pré-evento, como o resfriamento distribuído, que, por apresentar subsistemas independentes, não impacta o funcionamento de outros dispositivos quando há falha em um único”.

Edge Data Centers continuam a ser tendência

Manuel Rangel, Diretor de Negócios de Data Centers da Gaya, ressalta que, na América Latina, as tendências na construção de Data Centers estão sendo moldadas por fatores críticos que vão da crescente demanda por serviços em nuvem até os avanços tecnológicos e regulamentações governamentais.

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Manuel Rangel, Gaya

“Com o aumento da adoção de serviços em nuvem por empresas e organizações em toda a região, estamos vendo um aumento na demanda por Data Centers para hospedar e gerenciar essas operações de nuvem. Os fornecedores de serviços estão investindo na construção de Data Centers regionais para fornecer serviços mais rápidos e confiáveis”.

“Além disso”, acrescenta Rangel, “em alguns países da América Latina, estamos vendo colaborações entre os setores público e privado para incentivar o investimento em infraestrutura de Data Center. Essas parcerias podem ajudar a acelerar o desenvolvimento de Data Centers de próxima geração e, ao mesmo tempo, atender aos requisitos de segurança e conformidade”.

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Fabio Pezutto, Afonso França Engenharia

Segundo Rangel, com o crescimento de aplicativos e dispositivos IoT (Internet das Coisas), também estamos vendo um aumento na demanda por Edge Data Centers. “Eles são projetados para fornecer processamento de dados mais perto de onde são gerados, ajudando a reduzir a latência e melhorar o desempenho do aplicativo”.

Data Center Modular e Sustentabilidade

Fabio Pezutto, Superintendente Comercial de Marketing da Afonso França Engenharia, diz que, além da tradicional busca por eficiência energética e sustentabilidade, uma tendência que continua sendo importante é a modularidade na construção, permitindo escalabilidade e flexibilidade para atender demandas em constante evolução. “Há também um foco crescente em cibersegurança e conformidade com as regulamentações locais, devido à importância dos Data Centers na proteção de dados”, acrescenta.

Para os próximos anos, Pezutto avalia que o mercado de Data Centers continua “bastante tradicional” e qualquer mudança passa por um período de desenvolvimento resiliente. “Mas podemos antecipar um aumento significativo no uso de energia renovável, impulsionado por preocupações ambientais e pela busca da eficiência energética. Além disso, espera-se avanços na automação das operações do Data Center, apoiados na implementação de tecnologias como machine learning e monitoramento remoto. A demanda por infraestrutura preparada para suportar tecnologias emergentes, como 5G e edge computing, também deve impulsionar mudanças significativas”.