Atualmente, existem 7.200 data centers no mundo, segundo a 7x24 Exchange International, mas essa história começou muito antes do surgimento da nuvem e da internet. Neste 20 de março, Dia Internacional do Data Center, apresentaremos a evolução dessas complexas estruturas físicas em que estão localizados os equipamentos de computação e sistemas de armazenamento de dados que hoje garantem a operação de todos os setores. Como surgiram? O que mudou? Qual é a sua importância hoje e quais são os principais desafios?

Para entender a origem dos data centers, é preciso voltar aos anos 1940, quando os primeiros grandes computadores começaram a ser desenvolvidos no Reino Unido e no laboratório de pesquisa balística da Marinha dos EUA, o Electronic Numerical Integrator And Computer (ENIAC), para calcular códigos de artilharia.

Na década de 1950, com a evolução dos primeiros computadores e sistemas de processamento de dados, começaram a surgir as primeiras formas rudimentares do que mais tarde se transformaria em data centers. Esses primeiros centros de processamento de dados (CPDs) consistiam em salas equipadas com grandes computadores que realizavam cálculos e processavam informações para organizações governamentais e grandes empresas. No início, os computadores operavam localmente, sem poder compartilhar informações em rede. Os equipamentos demandavam muito investimento e espaço, por isso muitas empresas ainda preferiam manter registros em papel.

As décadas de 1960 e 1970 marcaram um aumento na demanda por processamento de dados, especialmente nas esferas empresarial e governamental, levando a uma expansão e maior sofisticação dos data centers, com a introdução de sistemas redundantes de refrigeração e sistemas de energia. Grandes corporações e organizações financeiras começaram a investir em data centers para gerenciar as suas operações de TI e armazenar grandes volumes de dados.

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– Fonte: U.S. National Archives and Records Administration

Nos anos 80 e 90, com o desenvolvimento das tecnologias de rede e a adoção de computadores pessoais, os data centers começaram a se descentralizar. Surgiram os primeiros data centers distribuídos, conectados por meio de redes locais (LAN) e redes de longa distância (WAN). Isso ofereceu maior flexibilidade e escalabilidade para organizações que operam em vários locais. Com o boom da internet e o crescimento explosivo da demanda por serviços online, os data centers experimentaram uma rápida expansão. Grandes empresas de tecnologia, como o Google, Amazon e Microsoft, começaram a construir data centers em grande escala para oferecer suporte a serviços, como mecanismos de busca, comércio eletrônico e hospedagem na web.

Século 21 – A era de smartphones, redes sociais, IA, IoT, virtualização, nuvem...

Com um volume cada vez maior de dados gerados e a evolução acelerada das tecnologias, este século nos apresentou um estilo de vida dependente de dispositivos móveis e suas inúmeras aplicações. Essa realidade transformou em algo cotidiano termos como nuvem, redes sociais, inteligência artificial, Internet das Coisas... Além dos recursos já necessários para o funcionamento de sistemas de organizações e governos, agora a vida pessoal está mais próxima do que os data centers fazem, popularizando um setor que vem passando por transformações cada vez mais rápidas.

O mercado foi impulsionado pela pandemia de Covid-19, quando a maioria das empresas aumentou suas capacidades de comércio digital e dependeu fortemente de sistemas de conferência online. Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, estima-se que, na América Latina, o número de profissionais em trabalho remoto aumentou de 3% em 2019 para entre 10% e 35% durante a pandemia. A recente expansão do setor na região explica as dezenas de Data Centers que começarão a operar em 2024 no mercado latino, onde se espera um crescimento de 11% nos gastos com TI, superando mercados maduros como os EUA.

Os avanços na computação em nuvem e a virtualização causaram a evolução dos data centers em infraestruturas altamente virtualizadas e definidas por software. Isso permitiu ter maior eficiência e flexibilidade no gerenciamento de recursos informáticos, bem como maior escalabilidade para atender às demandas de serviços online.

Nas últimas décadas, também surgiram a Edge Computing e os centros de hiperescala para atender a essas demandas crescentes e diversificadas. O número de data centers ultrapassou 7.200 após a constante construção de instalações que implementam as mais recentes tecnologias desenvolvidas para atender às necessidades, entre as quais estão aspectos de eficiência energética, sustentabilidade, talento, capacidade de processamento, segurança, entre outros. A seguir, entenderemos quais desses temas representam atualmente os principais desafios do setor.

Energia, o grande desafio do presente

Para entender quais são os principais desafios atuais para o desenvolvimento do setor, a DCD ouviu alguns dos grandes líderes da indústria. Todos os profissionais consultados indicaram o aspecto energético como a prioridade mais urgente.

“Em primeiro lugar, é fundamental ter disponibilidade de energia, principalmente perto dos centros urbanos, para reduzir a latência em todos os serviços, especialmente no atual um contexto de avanços em tecnologias como o 5G. Por outro lado, a transição para a energia limpa é cada vez mais imposta como uma necessidade e um requisito; no entanto, sua expansão depende da matriz energética determinada de cada país”, disse Gabriel del Campo, vice-presidente regional de data center, segurança e serviços em nuvem da Cirion Technologies na América Latina.

Juan Vaamonde, Country Director da DATA4 na Espanha, avalia a situação energética no país. “Ainda que o aumento na geração de energia, acompanhado de uma redução de 15% no consumo industrial na Espanha, represente uma oportunidade considerável, é fundamental que a energia renovável esteja facilmente disponível através das redes de distribuição de energia. Para isso a administração pública deve ser ágil na implementação de medidas que facilitem esse acesso. Além disso, é essencial avançar a um fornecimento de energia 100% renovável através de acordos de compra de energia (PPAs) em novos desenvolvimentos”.

Amet Novillo Suarez, presidente da Associação Mexicana de Data Centers (MEXDC) e diretor administrativo da Equinix no México, destaca três desafios além da energia. “Na MEXDC estamos abordando os desafios de energia, regulação, sustentabilidade e talento da mesma forma. Alguns mostraram mais atividade fora do MEXDC como talento e energia, mas, no geral, todas as comissões percorreram um longo caminho. Estamos empenhados em melhorar o fornecimento de energia e estamos ativos no campo da sustentabilidade. Em estreita cooperação com educação e especialização, também incentivamos os estudantes, homens e mulheres, a escolherem essa indústria”, explicou.

Além da eficiência energética, Eulalia Flo, CEO da Equinix na Espanha, destaca os desafios relacionados à sustentabilidade e indica mudanças nesse sentido. “Nossa rota é alcançar uma refrigeração mais eficiente e reduzir o impacto ambiental, ao mesmo tempo em que continuamos a entregar a qualidade operacional pela qual somos conhecidos. Entre outras ações focadas nessa área, a Equinix tem apoiado implementações personalizadas de resfriamento líquido por vários anos e recentemente expandiu o suporte de resfriamento líquido direto ao chip em mais de 100 data centers em todo o mundo. Também nos comprometemos a elevar a temperatura de operação de nossos modernos data centers para 27ºC e estamos contribuindo para tornar as redes elétricas mais verdes com a assinatura de PPAs que adicionarão 225 MW de capacidade fotovoltaica na Espanha”, disse Eulalia.

Fernanda Belchior, diretora de marketing da Elea Digital Data Centers, ressalta a importância do talento para superar os desafios atuais. "As organizações precisam capacitar as suas equipes e também a sua infraestrutura na busca de tecnologias que otimizem o consumo de energia e água, trazendo melhorias como maior eficiência energética. É importante investir no capital humano para que profissionais e futuros talentos estejam preparados para lidar com novas tecnologias e com todas as mudanças que estão por vir", afirmou.

E o futuro daqui a dez anos?

Pode ser difícil fazer previsões quando se trata de tecnologia. No entanto, para que qualquer transformação ocorra no futuro, há muito estudo e trabalho prévio, o que permite identificar tendências. Nesse sentido, com o objetivo de entender o que nos espera após os próximos dez anos, propusemos uma reflexão aos líderes da indústria.

“As novas tecnologias e investimentos no mundo dos Data Centers visam principalmente aumentar a capacidade e a velocidade de processamento de forma eficiente e sustentável. Esses avanços exponenciais antecipam mudanças em ritmo mais acelerado do que o registrado nas últimas décadas”, projeta Gabriel del Campo.

Amet Novillo Suarez indica o caminho das transformações. “Com um crescimento integral do setor de data centers, as empresas digitais da região (América Latina) concentrarão seus esforços em acelerar suas estratégias de transformação com novas tecnologias focadas nas tendências de nearshoring, 5G público e privado, arquitetura de Edge Computing, digitalização de processos, Internet das Coisas, manufatura conectada, mobilidade elétrica, e-commerce, fintech, jogos e gamificação, entre outros”, disse.

Presidente da Equinix na América Latina, Eduardo Carvalho faz uma comparação entre a transformação gerada pela computação em nuvem e o que se espera da inteligência artificial generativa. "A demanda por interconexão vem crescendo significativamente nos últimos anos e, sem dúvidas, ganha mais impulso a partir do crescimento da adoção da inteligência artificial pelas empresas, em especial a generativa. Assim como aconteceu com a computação em nuvem, a IA generativa habilitará nos próximos anos o surgimento de produtos e serviços que sequer imaginamos hoje", comentou.

Olhando para o futuro, Eulalia Flo destaca arquiteturas de dados adjacentes à nuvem. “As arquiteturas multinuvem estão se consolidando e os dados precisam ser processados em diferentes nuvens conforme o tempo necessário que as empresas devem manter a custódia sobre todos os dados e procurar reduzir as altas taxas de saída de dados quando o armazenamento direto ocorre em um fornecedor de nuvem pública. O mercado exige mover dados em conexões privadas de baixa latência, seja em um ambiente de nuvem pública ou Edge, e uma arquitetura de dados adjacente à nuvem é a solução para tirar o máximo proveito dos serviços de um fornecedor de infraestrutura digital”, explicou.

“Por outro lado, a computação quântica oferece a capacidade de processar enormes quantidades de dados em velocidades incríveis, resolvendo problemas que levariam milhares de anos com os nossos melhores computadores clássicos, então essa tecnologia tem o potencial de transformar a maneira e a agilidade com que as empresas resolverão certos problemas no futuro”, acrescentou Eulalia Flo.

Marcos Siqueira, COO da Ascenty, apresenta dados que explicam o impacto dessas tecnologias. "No início de 2023, a Gartner previu que 5% das empresas teriam começado a usar inteligência artificial generativa e implementado aplicações capazes de suportar essa tecnologia em sua operação. Em 2026, essa previsão sobe para 80%. Segundo a McKinsey, o mercado de computação quântica deve movimentar cerca de US$ 1,3 trilhão (aproximadamente R$ 6,44 trilhões) até 2035", detalhou.

“O Dia Internacional do Data Center foi criado para aumentar a conscientização sobre a indústria de data centers e inspirar a próxima geração de talentos”, essa é a definição da 7x24 Exchange International sobre a importância desta data. Nesse sentido, além de acompanhar as transformações aceleradas do presente, é papel dos profissionais de hoje projetar as mudanças de longo prazo e fomentar a formação de futuros líderes.