A pandemia provocou um notável aumento na quantidade de dados, resultando em uma crescente demanda por novos data centers na América Latina. Observamos o surgimento de mercados em ascensão, como Querétaro, no México, e São Paulo, no Brasil.

Os responsáveis pelo design tiveram que se adaptar a essas crescentes demandas, e temos sido espectadores do surgimento de novas metodologias no mercado. Os designers buscam soluções cada vez mais eficientes que possam ser entregues em prazos cada vez mais reduzidos.

O design desempenha um papel crucial na garantia da operação, escalabilidade e eficiência energética dos centros de dados.

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Eduardo Carvalho, Equinix Latam – Equinix

Para Eduardo Carvalho, Diretor General da Equinix na América Latina, “a principal tendência é o uso de desenhos padronizados que permitam implementar rapidamente soluções otimizadas e eficientes em múltiplos lugares”.

Segundo ele, os principais desafios na hora de desenhar um data center são o crescimento e as maiores densidades. “Na medida que a demanda aumenta, as empresas necessitam edifícios maiores e com mais capacidade. Empresas globais que crescem em toda LATAM com maiores necessidades de conectividade nas suas plataformas globais. Tudo isso apoiado por uma política aberta dos países aos investimentos estrangeiros para desenvolver novos mercados localmente”.

Outro grande desafio, de acordo com Carvalho, é revisar as regulamentações locais, que mudam substancialmente de um país para outro, especialmente aquelas centradas em permissões de terrenos e construção.

"A devida diligência é fundamental para detectar precocemente riscos potenciais e começar a planejar com uma visão estratégica a melhor abordagem para cumprir plenamente e proteger o projeto e a marca Equinix contra fatores externos (ambientais, energéticos, políticos, entre outros). A cadeia de suprimentos também é um tópico importante. Os materiais de construção e a disponibilidade variam de um país para outro e são fundamentais para manter a consistência entre os IBX, bem como para manter os custos e o cronograma de construção atualizados", explicou.

Ascenty destaca inovações nas arquiteturas elétricas e climatização

Felipe Caballero, VP de projetos, engenharia e construção da Ascenty, disse que embora “menos resilientes”, algumas novas tendências marcam o atual mercado no quesito design dos novos data centers. “Um exemplo são as arquiteturas elétricas chamadas de 5 para 4, também as 4 para 3, onde apenas uma linha de energia fica como suporte extra para todo o sistema. Além disso, outra tendência é a instalação de sistemas de climatização para atender aos racks entre 26 e 28 graus Celsius”, explicou Caballero.

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Felipe Caballero, Ascenty – Ascenty

O VP da Ascenty explica que a eficiência não "nasce" apenas no design do centro de dados, mas depende do tipo de servidores ou máquinas de cômputo que o data center vai atender. “A partir disso, pode-se determinar quais tecnologias deverão ser utilizadas para o melhor desempenho da infraestrutura”.

Os principais desafios no design, de acordo com Caballero, estão atrelados aos tipos de serviços que serão atendidos. “No caso de hyperscalers, cada cliente tem os seus padrões de instalação, tipo de servidores, layout, temperatura e umidade de operação, voltagem, tipo de conexão nos racks, etc. O ideal é que seja feito um desenho à medida do cliente com determinações claras e objetivas de cada sistema a ser instalado”, destacou.

Segundo ele, os data centers do futuro não serão muito diferentes conceitualmente do que já são hoje. “Precisaremos de infraestruturas robustas, resilientes e eficientes para atender às novas tecnologias e demandas que estão por vir. Reinventar-se o tempo todo sempre foi o desafio principal dos designers e projetistas deste mercado desde sempre”.

Scala Data Centers: “Principal tendência está ligada ao avanço da Inteligência Artificial”

Agostinho Villela, vice-presidente de Engenharia da Scala Data Centers, afirma que uma das principais tendências no desenho de data centers está intrinsecamente ligada ao avanço da inteligência artificial e das suas áreas, como o Machine Learning (ML) e a IA Generativa, sendo essa última aquela que mais tem crescido. “Essas tecnologias estão desempenhando um papel fundamental na forma como os data centers são projetados e operados, tendo um impacto direto no aumento de densidades por rack”, explicou Agostinho.

De acordo com o VP, os grandes provedores de serviços em nuvem, especialmente aqueles que operam em escala hyperscale, estão liderando essa transformação. “Eles estão impulsionando a demanda por infraestrutura de data centers que possa suportar cargas de trabalho altamente intensivas em computação, caracterizadas pelo processamento massivo de dados e pela execução de algoritmos complexos”.

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Agostinho Villela, Scala Data Centers – Scala Data Centers

“Em números concretos” - continua Agostinho - “observamos que as densidades por rack estão aumentando. Inicialmente, as configurações típicas de rack podiam variar de 2 a 5 kW de consumo de energia. Depois, cresceu-se para 10 kW, chegando atualmente em até 20 kW. No entanto, com o advento e a proliferação das aplicações de IA, já existe demanda acima de 40 kW. Esse aumento na densidade de energia é uma resposta direta às necessidades de processamento dessas tecnologias avançadas”.

Agostinho afirma que essas inovações também impactam os requisitos de resfriamento. “À medida que a densidade por rack aumenta, os data centers estão adotando soluções de resfriamento mais eficientes e inovadoras, como a refrigeração líquida (liquid cooling) e sistemas de gerenciamento térmico de alta precisão, que geram maior consumo energético”.

Ele ressalta que ao desenhar um data center é importante considerar “custo, restrições urbanísticas, normas técnicas, eficiência energética, além de, obviamente, a especificação do cliente”.

“Quando se trata de eficiência e escalabilidade em desenhos de data centers, o nosso inovador e proprietário método construtivo e de design FastDeploy se destaca como uma solução altamente eficiente e escalável em diversos aspectos. Uma de suas características fundamentais é a modularidade, o que nos permite implantar rapidamente, garantindo disponibilidade ágil da infraestrutura de TI. Essas estruturas modulares também facilitam a expansão futura e a adaptação às necessidades em constante mudança, em rampas suaves de crescimento”, esclareceu Agostinho.

Outra característica essencial do FastDeploy, de acordo com ele, é permitir aproveitar ao máximo os espaços disponíveis nos terrenos. “Tudo isso na metade do tempo de construção com relação à metodologia tradicional, o que per se diminui a pegada ambiental, além de envolver a industrialização no processo de construção do data center -- e, portanto, menos desperdício quando comparado com uma obra convencional, o que também contribui para a redução da pegada ambiental”.

Agostinho volta a destacar que o futuro do design de data centers está sendo moldado pelo avanço da Inteligência Artificial (IA) e novas tecnologias, trazendo consigo desafios e inovações significativas.

“Uma das tendências mais marcantes é o aumento da densidade de racks, conforme já mencionado. Acreditamos que, em breve, os racks excederão capacidades de 70 kW, sendo que já se fala no futuro em se chegar a racks de até 300kW, principalmente com o crescimento de IA Generativa multimodal (com foto, áudio e vídeo, além de texto). Isso se deve à crescente demanda por processadores de alto desempenho, como GPUs (graphics processing unit, componente responsável pelo processamento de gráficos), que são essenciais para tarefas de IA intensivas em computação”.

Deerns: “Vemos uma tendência geral de utilização de meios mais otimizados para uso colaborativo”

Tabajara Morais, Gerente de Projetos na Deerns, ressalta que vê uma tendência geral de utilização de meios mais otimizados para uso colaborativo, seja essa colaboração local ou a colaboração em nuvem.

“Uma colaboração em nuvem traz diversas vantagens, pois podemos ter o acesso de qualquer lugar do mundo que possua acesso à internet e a essa plataforma, flexibilizando assim o seu uso no dia a dia. Outra forma de colaboração é a colaboração local, exigida por alguns clientes específicos. Na colaboração local temos que ter uma rede intranet não acessível externamente para acessar os arquivos e realizar a colaboração”, explicou Tabajara.

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Tabajara Morais, Deerns

De acordo com ele, uma das principais metodologias que está sendo cada vez mais difundida é a BIM, onde as informações dos desenhos são trabalhadas de forma inteligente e possuem parâmetros que funcionam como uma base de dados. “Com a utilização de uma plataforma BIM, temos a capacidade de transformar esses desenhos em formatos aceitos por diversas outras plataformas, garantindo a interoperabilidade de trabalho”.

Tabajara analisa que o mercado de data centers da América Latina está atualmente “muito aquecido”, com demanda por novos centros de dados com padrões mundiais. “Sendo esses padrões divididos em duas grandes categorias: os padrões europeus e os padrões dos Estados Unidos. No passado da América Latina tivemos, sim, a utilização de tecnologias que haviam sido descontinuadas há algum tempo pelo mercado norte-americano e pelo mercado europeu. Mas atualmente estamos muito mais próximos e utilizando as mesmas tecnologias que são consolidadas lá fora. Entretanto, novas tecnologias ainda em fases de testes na Europa e nos Estados Unidos ainda não estão difundidas o suficiente nestes lugares para chegarem na América Latina e serem utilizadas por aqui”, disse.

Ele ressalta que a eficiência de um data center é extremamente dependente da solução de ar condicionado adotada. “Cada solução tem as suas vantagens e desvantagens, o principal guia para a adoção de qualquer solução são as suas condições climáticas locais. Vemos muitas soluções inovadoras que, mesmo com condições climáticas locais desafiadoras, usam sistemas que não utilizam o resfriamento mecânico, apenas ventilação e sistema evaporativo”.

Segundo Tabajara, ao não utilizar o resfriamento mecânico "expansão e condensação de gases refrigerantes" o consumo energético é reduzido drasticamente se comparado a soluções que utilizam este tipo de sistema. “O sistema de ventilação com capacidades evaporativas adiabáticas tem a sua escalabilidade garantida pelo número de equipamentos dimensionados, aumentando linearmente os equipamentos com relação à carga”, explicou.

No futuro, Tabajara acredita que estudos mais profundos, “com design regenerativo interativo, serão amplamente utilizados para a definição otimizada com diversos estudos de layouts diferentes a uma velocidade e escala que simplesmente não é possível”.

“Com o avanço de tecnologias de IA sendo cada vez mais difundidas, teremos que tomar cada vez mais cuidado para o alinhamento da solicitação que realizamos para a IA e o resultado que a IA nos fornece, deve ser compatível, esse não é um problema apenas para desenhos de data centers, mas sim para Inteligência Artificial como um todo”, esclareceu.

LZA Engenharia: "Data centers mais escaláveis"

Jonatha Giadanes, Diretor de Engenharia da LZA Engenharia, analisa que os hyperscalers estão aparecendo como potências cada vez maiores na América do Sul, acompanhando o que já acontece na América do Norte. “Vemos que a tendência é um aumento da temperatura dos corredores frios, com ativos preparados para isso, tentando equilibrar assim esse crescimento com a disponibilidade de energia”, disse.

Segundo Giadanes, os data centers vem sendo standarizados para que trabalhem de forma “independente e escalável”. “Entendemos que a solução modular é a que faz sentido, mesmo o capex sendo maior a longo prazo, ela dá ao cliente uma possibilidade de investir de forma escalável e acompanhando o seu próprio crescimento de vendas. Os novos conceitos de design mostram que os data centers - com power e cooling trabalhando de forma individual, compartilhando o backup - são mais escaláveis e podem também ser tão eficientes quanto outras soluções, se utilizadas as tecnologias corretas”, explicou.

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Jonatha Giadanes, LZA Engenharia

O Diretor de Engenharia destaca os principais desafios na hora de desenhar um centro de dados. “O estudo inicial, com um bom Due Dilligence é um item muitas vezes esquecido e que possui enorme importância, pois fatores como disponibilidade de energia e conectividade são cruciais, e checados nesse momento do projeto. Durante a execução do desenho é necessário ter muita clareza a respeito dos processos legais, nacionalização de equipamentos e normas aplicáveis. A modularidade é outro item que sempre deve ser considerado, isso é algo que não impacta somente o cliente, mas sim a disponibilidade de energia de um país como um todo”.

Para Giadanes, é um grande desafio pensar no futuro do design de data centers, pois os avanços em tecnologia trazem uma necessidade enorme de processamento. “É um mercado que tende a seguir crescendo muito nos próximos anos. Falando em tecnologia, a nossa visão é que conceitos básicos de projeto, como temperatura do DH e distribuição de capacidade de geradores tendem a mudar, inclusive considerando propostas as quais já estamos estudando com fornecedores parceiros, com um papel importantíssimo com essas soluções”, concluiu.

Vertiv destaca design modular e energia

Robson Pacheco, Data Centers Sales Manager da Vertiv Brasil, também acredita que o design de data centers tem evoluído e inovado significativamente nos últimos anos.

“Algumas das principais tendências incluem a utilização de fontes de energia renovável, o uso de sistemas de refrigeração e resfriamento mais eficientes e sustentáveis, a incorporação de tecnologias de gerenciamento de dados em nuvem e a adoção de designs modulares para aumentar a escalabilidade e flexibilidade dos data centers”, disse Pacheco, que continua: “Além disso, a crescente preocupação com a segurança física e cibernética tem levado a um foco maior em medidas de segurança e redundância, bem como na incorporação de recursos de inteligência artificial e aprendizado de máquina para monitorar e proteger os data centers contra ameaças”.

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Robson Pacheco, Vertiv

De acordo com o Sales Manager, a modularidade é cada vez mais popular para permitir a expansão fácil e rápida do data center em etapas, conforme necessário. “Isso pode incluir a utilização de módulos pré-fabricados, que são entregues ao local de construção para montagem. Quanto à eficiência energética, o aumento dos custos de energia e a crescente preocupação com o meio ambiente estão impulsionando a necessidade de projetos mais eficientes em termos energéticos. Isso pode incluir a utilização de tecnologias de resfriamento mais avançadas, como sistemas de refrigeração líquida, bem como soluções de iluminação e alimentação de energia mais eficientes”, concluiu.

Pacheco ainda destaca a ascensão do edge computing. “Com o crescimento da Internet das Coisas (IoT) e a necessidade de processamento de dados em tempo real, o edge computing está ganhando popularidade. Essa abordagem coloca data centers menores e mais próximos dos usuários finais, reduzindo a latência e melhorando a experiência do usuário.Além disso, os data centers modernos estão cada vez mais automatizados, com o uso de sistemas de gerenciamento remoto que permitem aos administradores monitorar e controlar o data center de qualquer lugar do mundo”.

Ele conclui: “Os Data Centers atuais precisam superar uma série de obstáculos, que vão desde a gestão do consumo de energia e a eficiência operacional até a garantia da segurança de dados sensíveis. Cada detalhe, desde a seleção criteriosa do local até a disposição estratégica dos racks e a implementação de sistemas de refrigeração, tem um papel fundamental no desempenho, confiabilidade e sustentabilidade desses centros de processamento de informações. Acho que é difícil afirmar qual é o desenho mais eficiente, todavia, os investimentos ocorrendo de forma proporcional às demandas (construção escalonável) tem se mostrado o modelo com mais adesão de implementação”.